Reinaldo Azevedo - VEJA
No sábado passado, um amigo me convidou para dar uma volta de carro pelo centro de São Paulo no começo da noite: “Você precisa ver; não adianta contar”. Fui, vi e fiquei estarrecido. Tudo voltou ao que era antes, mas pior. Agora a Cracolândia se espraiou, ocupa uma área ainda maior: Praça da Sé, Pátio do Colégio, Rua Boa Vista. As tendas se espalham, com varais e tudo. A revitalização da praça está, em grande parte, perdida. Viciados e traficantes privatizam uma área imensa da cidade. Os moradores da região estão cercados. Não obstante, essa gente moderna que hoje toma conta da Prefeitura, boa de gogó, ágil para anunciar amanhãs sorridentes, excelente para fazer discurso sobre a integração de classes, é incapaz de manter um programa de combate ao crack. “E por que a Polícia Militar não atua?” Para ser acusada de truculenta? Para ter de enfrentar a tropa de choque de promotores, defensores públicos, ONGs e petistas?
Como não lembrar aqui da candidata Dilma Rousseff a anunciar na televisão o seu miraculoso programa de combate ao crack? Como não lembrar aqui de Haddad, a fazer a mesma promessa? Recordo-me também de suas maquetes futuristas no horário eleitoral… A cidade está devastada. Os zumbis voltaram a tomar conta das ruas. “A alternativa é tratamento médico”, grita alguém. Não! Há uma conjunto de medidas, de que a assistência à saúde é apenas parte. O problema é que nada está sendo feito. A tomada do Centro pelos viciados, consolidada na gestão de Marta Suplicy, ganha agora um novo impulso. George Soros, que financia mundo afora — inclusive no Brasil — ONGs e entidades favoráveis à descriminação das drogas deveria vir ver de perto parte do seu experimento social. Seus amiguinhos do PT estão botando em prática essa utopia.
Como é mesmo o nome daquela Schopenhauer da descriminação das drogas, tratada por setores da imprensa brasileira como pensadora? Ah, lembrei: Ilona Szabó. Ela é a favor da descriminação das drogas. Na Cracolândia, ela é descriminada. Ela é contra a repressão policial. Na Cracolândia, não há mais. E ela é contra a internação — na Cracolândia, não se interna ninguém. Assim, concluo que essa região miserável, degradada e desgraça é a “Cidade de Deus” (estou citando Santo Agostinho, e não um cineasta) desta grande pensadora.
Aos poucos, Haddad vai desmontando a estrutura que herdou de combate ao crack e de atendimento aos viciados. Leiam o que informa Afonso Bentes na Folha desta sexta. Volto depois:
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Até dezembro de 2011, um imóvel na alameda Dino Bueno conhecido como “casarão do crack” era considerado o coração da cracolândia paulistana. Era lá que centenas de usuários se agrupavam para consumir a droga. A feira do crack, que atravessou a madrugada por mais de uma década no mesmo lugar, foi quebrada no começo de 2012, após operação conjunta de Estado e prefeitura que tinha a promessa de acabar com o tráfico e levar dependentes para tratamento. Pouco mais de um ano depois, o cenário voltou ao que era ao redor da construção — que virou um símbolo da tentativa do poder público de recuperar o controle da área.
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Até dezembro de 2011, um imóvel na alameda Dino Bueno conhecido como “casarão do crack” era considerado o coração da cracolândia paulistana. Era lá que centenas de usuários se agrupavam para consumir a droga. A feira do crack, que atravessou a madrugada por mais de uma década no mesmo lugar, foi quebrada no começo de 2012, após operação conjunta de Estado e prefeitura que tinha a promessa de acabar com o tráfico e levar dependentes para tratamento. Pouco mais de um ano depois, o cenário voltou ao que era ao redor da construção — que virou um símbolo da tentativa do poder público de recuperar o controle da área.
O motivo foi a retirada de uma tenda do CAT (Centro de Apoio ao Trabalho) que havia sido instalada no terreno do imóvel da Dino Bueno. O equipamento municipal visava atender moradores de toda a cidade e ajudar a reinserir no mercado de trabalho usuários de drogas do centro, enquanto eram tratados. Nesta semana, a Folha foi três vezes ao local e constatou que, apesar de não terem invadido o antigo casarão, os viciados tomaram conta da entrada e de seus arredores.
Segundo a prefeitura, a tenda do CAT foi removida de lá em março deste ano devido à baixa demanda. “Não saímos daqui porque é daqui que a gente gosta. Ninguém incomoda”, disse um usuário, de 29 anos, morador de rua há oito. A qualquer hora esse trecho da Dino Bueno está tomado por dependentes, que, à tarde, ouvem música alta de um bar e de uma pensão.
(…)
Voltei
Um programa eficiente de combate ao crack só pode ser exercido com o concurso das três esferas de Poder. O governo federal inexiste na área, e a Prefeitura petista, desde o primeiro dia, se dedica a sabotar o trabalho do governo do Estado. Seus “engenheiros de gente” acham que reprimir o consumo de drogas é coisa de reacionários e que tornar público o espaço público é crueldade social.
É que Haddad está muito ocupado, cuidando do futuro. Como é mesmo o nome daquela franja do Fora do Eixo, de Pablo Capilé, que tem cargos na Prefeitura? Ah, lembrei: “Existe Amor em SP”. É isto: existe amor na Cracolândia. É o que importa.
PS – E não adiante vir com “mimimi”… “Ah, olhem esse Reinaldo…” Antes que alguém resolva me torrar a paciência, convém dar uma volta pelo Centro de São Paulo à noite. Vejam o que nove meses de uma gestão desastrada podem fazer com uma cidade. Dilma foi um dos postes com que Lula, segundo as suas palavras, iluminou o Brasil. O outro foi Fernando Haddad. Em breve, ele vai tentar vender mais um ao Estado de São Paulo… Se for bem-sucedido, aí, meus caros, é o apagão!
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