Editor de livro que critica o presidente da China é preso
Chris Buckley - NYT
17.mar.2013 - Wang Zhao/AFP
O presidente da China, Xi Jinping
Há três meses, Yiu Mantin, um engenheiro aposentado de Hong Kong, viajou à China continental para uma breve visita, como fez muitas vezes. Mas dessa vez ele desapareceu nas mãos da polícia, e sua família e amigos dizem acreditar que Yiu foi preso por causa da publicação de um livro, especialmente seus planos para distribuir uma forte denúncia contra o presidente Xi Jinping.
A polícia em Shenzhen, a cidade que faz divisa com Hong Kong, prendeu Yiu sob acusação do rotular falsamente e contrabandear sete frascos de produtos químicos industriais, e alega que o contrabando data de 2010 e envolveu bens no valor de US$ 220 mil, disse Mo Shaoping, um proeminente advogado de Pequim que concordou recentemente em representar Yiu. Mas o filho de Yiu, Edmond Yiu, disse que o verdadeiro delito de seu pai aos olhos das autoridades foi o que ele publicou, não o que supostamente levou para a China.
Após trabalhar como engenheiro de manufatura durante grande parte de sua vida, Yiu, 72, começou uma segunda carreira dirigindo uma de várias pequenas editoras em Hong Kong que, tirando proveito das proteções robustas do território à liberdade de expressão, lançou livros anátemas para os censores do governo da China continental. Ele planejava publicar "Godfather of China Xi Jinping" (Xi Jinping, o Chefão da China, em tradução livre), disse Edmond Yiu em uma entrevista por telefone de Minnesota, Estados Unidos, onde vive.
"Eu acho que foram as atividades editoriais que provocaram isso", afirmou Edmond. Ele disse que ele mesmo já ficou preso por um ano na China em 1989, por seu envolvimento nos protestos estudantis pró-democracia que terminaram em uma repressão armada em 4 de junho daquele ano. Ele disse também que decidiu falar publicamente após os esforços para garantir a soltura discreta de seu pai terem fracassado.
"Eu estou bastante familiarizado com o sistema legal chinês e como produzem falsas acusações criminais contra presos políticos", disse Edmond Yiu. "Não há dúvida de que estão tentando puni-lo por suas atividades editoriais por meio de acusações criminais comuns."
Ele contou que o estilo de vida frugal de seu pai não combina com acusações de contrabando e que ele espera que atrair atenção pública ao caso ajude na soltura de seu pai. Um jornal de Hong Kong, "The South China Morning Post", foi o primeiro a noticiar a prisão de Yiu.
O caso causou preocupação entre outros editores independentes em Hong Kong, que disseram que ele poderia sinalizar uma intensificação dos esforços do Partido Comunista em restringir as atividades deles. Desde que Hong Kong passou da soberania britânica para chinesa em 1997, ela permaneceu um posto avançado de liberdade de expressão e editorial, com leis e tribunais isolados do controle direto do continente. Mas muitos moradores dizem que o governo chinês está intensificando seus esforços para moldar a opinião e a mídia e frear o fluxo de publicações proibidas para o continente.
"A China endureceu os controles sobre opinião pública e ideologia, e todas as pessoas nesse ramo acreditam que há uma conexão com esse caso", disse Meng Lang, um escritor e editor em Hong Kong que trabalhou na minúscula editora de Yiu por cerca de sete anos, até 2013. "Especialmente se os editores lançarem livros sérios, que critiquem os principais líderes, eles podem ser pressionados, como o livro que ele estava prestes a lançar sobre Xi Jinping", disse Meng.
Também conhecido por seu nome em mandarim, Yao Wentian, Yiu nasceu na província de Sichuan, no sul da China, e se mudou para Hong Kong em 1982, disse seu filho. Em 2006, ele abriu a Morning Bell Press, que publicou obras de dissidentes chineses, intelectuais liberais, acadêmicos exilados e autoridades afastadas, disse Meng.
O governo chinês proíbe esses livros como sendo "politicamente prejudiciais". Mas seus leitores mais ávidos são os cidadãos chineses, que frequentemente tentam driblar os inspetores alfandegários para levá-los para casa. Yiu lucrou muito pouco com os livros, segundo aqueles que conhecem seu trabalho.
"Ele é muito diferente do editor médio que conheço na China, Hong Kong ou Taiwan", disse Yu Jie, um escritor chinês que vive nos Estados Unidos e que publicou alguns de seus livros com Yiu, em uma entrevista por telefone.
"A maioria deles é empresário; eles querem saber se um livro pode se tornar um best-seller e quanto dinheiro podem ganhar. Mas Yao Wentian era um engenheiro aposentado. Ele tinha uma pensão, um sustento garantido, de modo que sua atividade editorial trata de seus ideais de promover a democracia na China."
O livro mais recente de Yu, "Godfather of China Xi Jinping", seria publicado nos próximos meses e pode ter irritado a polícia chinesa. Yu conquistou fama como ensaísta no final dos anos 90 e se transformou em um crítico cada vez mais direto do Partido Comunista. Ele se mudou para os Estados Unidos em 2012 e escreveu livros criticando duramente o ex-primeiro-ministro Wen Jiabao e o ex-presidente Hu Jintao.
Yiu estava preparando a publicação de mais três livros de Yu. "Godfather of China Xi Xinping" é uma dissecação polêmica do período do líder no poder desde novembro de 2012. Yu disse que as autoridades chinesas são particularmente hostis a críticas a Xi e que ele alertou Yiu a não colocar sua segurança em risco voltando à China continental.
Os policiais contatados por telefone em Shenzhen e Cantão, a capital da província de Guangdong, que é vizinha de Hong Kong, se recusaram a comentar o caso. Uma autoridade em Guangdong que lida com os moradores de Hong Kong disse não saber nada sobre Yiu, acrescentando que o governo "não interfere e nem pode em assuntos judiciais".
Mo, o advogado, disse que os promotores estão considerando se indiciam Yiu e que as autoridades dificilmente concederão liberdade sob fiança, dada a soma relativamente grande envolvida nas acusações. Ele disse que os promotores provavelmente evitarão mencionar a atividade editorial de Yiu em qualquer indiciamento.
"É claro que a polícia não reconhecerá que ele foi preso por causa disso", disse Mo. "Eles o tratarão como um crime comum."
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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