E a Al-Qaeda?
Gilles Lapouge - OESP
Na indústria da barbárie, o progresso nunca
para. Em alguns meses, o Estado Islâmico (EI) instalou a lei da morte no
"califado", vasto território entre o norte do Iraque e o norte da
Síria. Sua irrupção selvagem desbotou a lembrança do grupo sunita
Al-Qaeda, a sinistra organização de Osama bin Laden que destruiu as
torres gêmeas do World Trade Center em 11 de setembro de 2001.
É
bem verdade que a Al-Qaeda, desde a morte de seu criador, Osama bin
Laden, caiu um pouco no esquecimento, o que criou um "vazio" no horror,
vazio que o também sunita Estado Islâmico se apressou em preencher
capturando dezenas de cidades iraquianas e sírias, cometendo massacres e
decapitando inocentes, entre eles americanos e franceses.
Alguns
analistas ocidentais comparam os dois "campeões". Geralmente é o
"califado" do Estado Islâmico que leva a medalha, não de ouro, mas de
sangue. Mas se é verdade que o pessoal do EI vai de vento em popa, seria
ilusório acreditar que a Al-Qaeda se evaporou para não perturbar seu
irmão gêmeo também monstruoso. Na verdade, a Al-Qaeda respondeu à
ascensão do poderio do "califado" produzindo "metástases".
Uma
delas é o grupo Khorasan que prospera na Síria e cuja existência só há
pouco tempo ficou conhecida. Mas o que o EI tem de escandaloso, o
Khorasan tem de discreto. Nada de vídeos, de comunicados, de profecias
de ameaças públicas. Com o Khorasan é ação. Sangue.
Os
americanos temem os integrantes do Khorosan tanto quanto temem os do EI e
ainda mais. O diretor de Segurança Nacional dos Estados Unidos, James
Clapper, escreveu: "Eles são mais perigosos do que o Estado Islâmico
para os Estados Unidos ou a Europa. Formados por veteranos da Al-Qaeda,
eles são silenciosos. Não estão na Síria para estabelecer um 'califado'.
O Khorasan tem um objetivo: atacar o Ocidente".
O chefe do
Khorasan é conhecido, Mushin al-Fadhli. Ele foi íntimo de Bin Laden e
um dos poucos a ser informado sobre a realização dos atentados do 11 de
Setembro. Fugindo do Afeganistão, ele se estabeleceu na Arábia Saudita.
Foi reencontrado na Síria em 2013 onde se aproximou de outras figuras da
Al-Qaeda.
O grupo Khorasan possui na Síria um aliado,
outra "metástase" da Al-Qaeda, a Frente al-Nusra, cujo chefe é Abu
Mohammed al-Julani, que proclamou sua obediência ao sucessor de Bin
Laden, Ayman al-Zawahiri. Temos, então, de um lado a Frente al-Nusra e o
grupo Khorasan, que se dizem herdeiros de Bin Laden, e de outro, o EI
que se autoproclamou chefe mundial da jihad e cortou laços com a
Al-Qaeda.
Eis por que o Estado Islâmico está em conflito
aberto com a Frente al-Nusra e o Khorasan. Alguns rumores afirmam que,
na verdade, entre a al-Nusra e o Khorasan também haveria ciúmes,
rivalidades, talvez uma futura guerra. Por que não? As criaturas que
saem do ovo imundo entredevoram-se com prazer.
O grupo
Khorasan tem uma especialidade: os explosivos. Ele se beneficiou nesta
arte das lições de um dos melhores artífices do mundo, Ibrahim al-Aziri,
que pertence a uma outra "filial" da Al-Qaeda, a Aqpa, no Iêmen. Esse
Ibrahim é um gênio. Ele é capaz de transformar um cartucho de computador
numa bomba. Graças a ele, quando viajamos de avião para os Estados
Unidos já não podemos levar nossos telefones ou computadores com
baterias descarregadas.
Enfim, em meio aos pseudópodes da
Al-Qaeda, convém não esquecer a Al-Qaeda do Magreb Islâmico, (Aqmi) que
se entrincheirou no norte do Mali de onde os soldados franceses a
desalojaram em 2013. A Aqmi reconstituiu-se no sul da Líbia, que agora
se transformou num vasto caos.
Por um momento, acreditou-se
que os assassinos do guia turístico francês capturado nas montanhas da
região da Cabília, na Argélia, pertenciam à Aqmi. Mas não. Esse bando
rejeitou o apadrinhamento da Al-Qaeda para prestar obediência ao
"califado" do EI.
Mas se é verdade que a Al-Qaeda ainda
possui muitos remanescentes, hoje é o Estado Islâmico que seduz os
jovens desesperados, os jovens frenéticos da jihad. De todo modo, uma
coisa é certa. Os terroristas pululam. A morte não ficará sem mão de
obra tão cedo.
CELSO PACIORNIK
Nenhum comentário:
Postar um comentário