Os tropeços na ONU
Zero Hora
O Brasil real e o país idealizado estiveram
presentes, lado a lado, na sessão de abertura da ONU, em Nova York, nos
vários aspectos abordados no discurso da presidente da República. Disse
a senhora Dilma Rousseff que os brasileiros percebem os avanços sociais
representados pelo que definiu como “uma sociedade inclusiva”. Ao mesmo
tempo, exaltou no pronunciamento uma política econômica que teria
controlado gastos públicos, estabilizado a inflação, proporcionando
crescimento e produzido _ também nas palavras da presidente _ “uma
economia moderna”. Para as lideranças presentes à solenidade, o Brasil
apresentado seria uma nação que, apesar da crise mundial, projetou-se à
condição de sétima economia mundial. Trata-se de um retrato que deveria
ser relativizado.
É da tradição que o discurso inaugural da sessão da
ONU, concedido a um brasileiro, seja uma oportunidade única de
exaltação das virtudes do país. Mas, desta vez, o quadro exibido não
teve muita conexão com a realidade. Acerta a presidente ao destacar que o
Brasil pode contabilizar conquistas importantes, decorrentes de
políticas sociais implementadas não só pelos últimos dois governos, mas
há evidente exagero em ressaltar as qualidades de uma política econômica
que vem fracassando na tentativa de reverter resultados pouco
animadores.
O Brasil que retira famílias da miséria é o mesmo país
incapaz de superar dificuldades estruturais, nem sempre resultantes do
cenário internacional. Nações sem nosso potencial econômico já começaram
a reagir aos estragos da quebradeira de seis anos atrás, enquanto
continuamos estagnados. Ao contrário do que afirmou a presidente na ONU,
ainda somos relapsos no enfrentamento das deficiências da
infraestrutura e no atendimento de expectativas básicas de quem produz.
O
sentimento de parcela expressiva do Brasil privado, que não apareceu no
discurso de tom eleitoral na ONU, é de perda de confiança nas políticas
oficiais e de insegurança em relação a projetos de médio e longo
prazos. A economia travada pelos erros governamentais e pela
desconfiança do setor produtivo poderia ter aparecido, em nome da
fidelidade aos números e à realidade, sem muitos retoques em Nova York.
Também é lamentável que, no discurso e em coletiva, a presidente tenha
reafirmado a condução errática da política externa brasileira, ao
condenar as ações militares contra os bárbaros do Estado Islâmico e,
para surpresa da comunidade internacional, defender que os extremistas
sejam tratados com diplomacia. Pelo conjunto, a presença do Brasil no
evento pode ser resumida como uma sucessão de constrangimentos e
equívocos.
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