terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Questão das cotas femininas nas empresas da Europa garantem conquistas?
Alison Smale - IHT
A alegria invadiu minha caixa de e-mail, juntamente com dúvidas. "Últimas notícias –aconteceu!", proclamou o campo de assunto. O "acontecido" é a proposta, datada de 14 de novembro, de Viviane Reding, comissária europeia de Justiça, que obrigará os conselhos administrativos das empresas europeias a serem compostos por 40% de membros do sexo feminino até 2020. As dúvidas agora residem sobre o impacto que a medida realmente terá, uma vez que a resistência de vários dos 27 países membros da União Europeia obrigou Reding a enfraquecer as eventuais sanções contra as empresas que não cumprirem a determinação. 
O sofrimento das mulheres vítimas de abusos em todo o mundo provoca muita emoção. Mas, na Europa, durante os últimos dois anos os sentimentos têm se exaltado em relação às cotas para mulheres. E o frisson vai se espalhar enquanto a proposta de Reding estiver fazendo seu caminho em direção à próxima instância decisória, que é o Parlamento Europeu, nos próximos meses. 
Na Europa, as mulheres da geração de Reding – ela tem 61 anos – ganharam poder e influência em um grau nunca antes visto na história. Mas elas parecem ansiosas para assegurar esse avanço e garantir que as futuras gerações de mulheres sejam ainda mais empoderadas. 
Separadamente, como ilustrou um filme que estreou na sede da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em Paris, em 20 de novembro passado, as mulheres mais jovens parecem precisar de conselhos e palavras de conforto para minimizar suas preocupações. 
"Lili’s Journey", dirigido por Laetitia Belmadani, 36, descendente de libaneses, italianos e franceses, mostra a cineasta percorrendo o mundo para acompanhar (principalmente) mulheres, muitas delas bem-nascidas e ricas, que decidiram direcionar sua paixão e fortuna para ajudar mulheres menos afortunadas, aliviando o sofrimento delas e abrindo novas perspectivas. 
A jornada, disse Belmadani, pretende mostrar "muitos modelos realmente positivos e inspiradores" para sua geração. No filme, ela entrevista principais executivas norte-americanas, como Andrea Jung, da Avon, a rainha Rania, da Jordânia, a estilista Diane von Furstenberg e François-Henri Pinault, do grupo de grifes de luxo PPR. Ao fazê-lo, sua película é capaz de revelar novas ações e vozes para aqueles que não conseguem participar das muitas conferências durante as quais a elite mundial reflete sobre o estado de nosso planeta. 
Felizmente, disse Irina Bokova, diretora-geral da Unesco, o filme servirá como uma introdução para inspirar meninas a seguir o exemplo e promover o empoderamento das mulheres, que é "uma necessidade absoluta" no mundo de hoje. 
Ambos os casos – das cotas e dos exemplos a serem seguidos – parecem conter uma pergunta subjacente: como as pioneiras de Reding ou, na verdade, as gerações anteriores de mulheres conseguiram alcançar o sucesso sem esse apoio? 
Bokova, 60, diplomata búlgara que em 2009 se tornou a primeira mulher escolhida para liderar a Unesco, está entre as pessoas que tiveram uma epifania relacionada às cotas. 
"Eu não acreditava em cotas antes", disse ela por e-mail. "Eu pensava que as mulheres eram capazes de ser bem-sucedidas por seu mérito próprio. Eu mudei de ideia sobre essa questão", acrescentou ela, após observar a necessidade de "reduzir as lacunas significativas que persistem em muitas áreas e, especialmente, nos níveis mais elevados de responsabilidade". 
Mas, depois de milhares de anos de dominação masculina, será que conseguiremos, de fato, "apressar a história", como um dos entrevistados de Belmadani diz? 
Afinal, a mulher mais poderosa da Europa, a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, permaneceu notavelmente em silêncio sobre a questão das cotas. Apesar de seu primeiro cargo no governo alemão, entre 1990 e 1994, ter sido no Ministério de Assuntos da Mulher, ela tem se movimentado com cuidado enquanto a conservadora Alemanha abraça, sempre de forma gradual, novas maneiras para facilitar, por exemplo, que mães trabalhem fora. 
O choque entre a tradição e o imperativo moderno, ou a prática em evolução, está em toda parte. Cotas e exemplos podem ajudar a superar esse conflito, mas os partidários de Reding também precisam fazer um trabalho árduo – que inclui divulgar um banco de dados com milhares de nomes de mulheres "aptas a fazer parte de conselhos administrativos" e fazer lobby com deputados europeus – para conseguir o que querem. 
Enquanto isso, as mulheres mais jovens podem ser ganhar coragem se espelhando em dois aspectos de "Lili’s Journey". Em primeiro lugar, a maioria das mulheres de destaque entrevistadas sabia exatamente a quem creditar seu sucesso: suas mães. 
No relato mais dramático, a mãe de Diane von Furstenberg sobreviveu aos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, saiu pesando apenas 29 kg e foi aconselhada, quando se casou, a esperar alguns anos antes de tentar ter um filho. "Eu vim ao mundo precisamente nove meses depois", disse a estilista. 
Em segundo lugar, Hillary Rodham Clinton, apresentada nas fotografias de muitos dos entrevistados que aparecem no filme. O discurso de Hillary durante o encontro de cúpula para as mulheres da ONU (Organização das Nações Unidas), realizado em Pequim, em 1995, no qual ela declarou veementemente que os direitos das mulheres não podem ser considerados separadamente dos direitos humanos, também está no filme. A implicação era clara: se ela decidisse concorrer à Casa Branca, mulheres de todo o mundo gostariam de vê-la chegar lá.

  Tradutor: Cláudia Gonçalves

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