Der Spiegel
Há algumas semanas, Angela Merkel obteve uma votação esmagadora e foi reeleita líder de seu partido, fornecendo toda a força de seu apoio antes das eleições gerais, que se realizarão em 2013. Analistas alemães disseram que a chanceler parece ter transcendido a política partidária – e que isso pode não ser uma boa coisa.
A chanceler alemã Angela Merkel tem uma questão a menos com que se preocupar. Apesar de sua agenda continuar repleta de reuniões de cúpula, encontros e negociações de bastidores relacionados com os esforços em curso para resolver a crise do euro, pelo menos ela sabe que conta com o apoio de seu próprio partido, a CDU (União Democrata-Cristã). Apesar dos sinais recentes de que alguns dentro da agremiação estão ficando inquietos em relação a sua gestão da crise do euro, Merkel foi reeleita líder do CDU com 97,94% dos votos –o melhor resultado já obtido por ela.
O apoio significa que a chanceler está em posição forte na centro-direita do espectro político da Alemanha, enquanto o país se prepara para entrar em ano eleitoral. Os eleitores irão às urnas no próximo outono e, apesar de o mais recente acordo firmado pela UE (União Europeia) – que ampliou os esforços destinados a resgatar financeiramente a Grécia – estar aparentemente proporcionando uma sobrevida aos líderes europeus, a crise do euro será um tema central durante a campanha.
Na verdade, como a oposição, representada pelo Partido Social Democrata (SPD), de centro-esquerda, estragou sua própria largada para o ano de campanha – após seu candidato a chanceler, Peer Steinbrück, ter causado surpresa com as altas quantias que recebeu por palestras durante o ano passado –, Merkel parece estar no auge de seus poderes. As avaliações da opinião pública sobre ela estão em alta, seus adversários estão em baixa e seu caminho para um terceiro mandato parece estar livre.
Além disso, não está claro como Merkel será capaz de montar uma coalizão de governo em 2013. O FDP tem estado em queda livre desde a eleição de 2009 e pode até não conseguir alcançar o percentual mínimo de 5% para que obtenha representação no Bundestag, o parlamento alemão. E mesmo que o partido receba os votos de que precisa, é quase certo que não terá votos suficientes para permitir a continuidade da atual coalizão governista. Além disso, permanecem as dúvidas quanto à possibilidade de o CDU vir a formar uma coalizão com o Partido Verde, que defende causas ambientais.
Na verdade, do modo que as coisas estão agora, todos os sinais apontam para uma repetição do primeiro governo de Merkel, que contou com a chamada "grande coalizão" com o SPD, de centro-esquerda – apesar do indiscutível controle que Merkel mantem sobre as rédeas do poder na Alemanha. Analistas dos principais jornais do país analisaram detalhadamente esse cenário.
O diário conservador "Die Welt" publicou:
"Angela Merkel domina o CDU – essa é a mensagem após a convenção do partido, durante a qual o discurso da chanceler e sua reeleição como líder do CDU foram os únicos momentos importantes. Mas isso não chega a captar com precisão a situação. Merkel não apenas lidera o maior partido da Alemanha – ela se transformou no próprio partido".
"Mas a questão que realmente interessa se estende para além do CDU, pois o domínio de Merkel, que transformou o partido no show de uma mulher só, tem há muito tempo estado relacionado a situações que transcendem o próprio CDU. Saber que essa mulher comanda a chancelaria acalma tanto a população quanto os membros da oposição, representados pelo SPD e pelos verdes. O motivo é prático: ela dominou a arte do poder, o que não é pouca coisa em tempos como os atuais".
"A política de Merkel, que conta com a falta de alternativas, só funciona porque as alternativas têm, de maneira consistente, desqualificado a si próprias. Isso não é bom. O CDU pode se permitir ignorar até mesmo as contradições mais significativas como se elas fossem fenômenos de importância marginal, mas a nossa democracia não pode. Angela Merkel é uma política especial. Mas, apesar de ela não ser contestada dentro do CDU, é melhor que ela seja contestada fora do partido".
O diário de esquerda "Die Tageszeitung" publicou:
"Angela Merkel é uma maravilha pós-ideológica. Desde o acidente de Fukushima, ela tem defendido as causas ambientais. Mas ela também é uma espécie de conservadora. Observem, por exemplo, em seu leque de subsídios para os pais que não trabalham fora. E a chanceler também é liberal. Mas o CDU, que é comandado por mulheres, também parece ser pós-feminista".
"Sim, o CDU, caso você tenha acreditado no discurso sentimental proferido por Merkel é um firme defensor do imposto sobre as operações financeiras – e do salário mínimo. Merkel... tem algo à disposição para todos".
"O CDU nunca atraiu a atenção por meio de debates vigorosos. No entanto, durante a era Merkel o partido entrou em coma intelectual. Esse é o preço pago pelo CDU por ter permitido a adoção do direcionamento centrista adotado por Merkel, que fez o partido ficar atolado em águas tépidas e um tanto tediosas. É verdade: a base conservadora está reclamando, as grandes cidades estão perdidas e o partido está se transformando em uma máquina de aplausos. Mas o CDU é compatível com outros ambientes, além de ser capaz de formar uma coalizão com o SPD, os verdes e o FDP. A oposição é como a lebre, enquanto Merkel é a tartaruga que fica esperando na linha de chegada. Será que a oposição tem uma solução para corrigir isso?"
O "Süddeutsche Zeitung", de centro-esquerda, publicou:
"O CDU deve sua sobrevivência a Angela Merkel. Essa chanceler está no auge de sua glória. Ela não precisa estender a mão para a convenção do partido; o partido é que deve fazer um esforço por ela. Os delegados do CDU são gratos por tudo que vem da líder de seu partido, incluindo o desempenho intelectual abaixo de seu potencial e a alta concentração de banalidades. Houve um tempo em que eles tinham orgulho de representar um partido inteligente. Hoje, eles são gratos por poderem ser representados por uma chanceler de sucesso".
"O CDU acredita que, com Merkel, eles vão governar para sempre. Mas os governos federais não se originam dos aplausos de delegados após um discurso maçante de Merkel em uma convenção partidária. Governos se originam de coligações. E o parceiro de coalizão do CDU se esvaiu... Ainda assim, apesar de não haver um grande desejo de mudança (na política), há um desejo de mudança na coalizão... Merkel tem apenas alguns pontos em comum com o FDP, e que também ficaria feliz governando com os social democratas ou com os verdes".
O diário de centro-direita "Frankfurter Allgemeine Zeitung" publicou:
"Merkel faz seu trabalho de um modo que frustra os consultores de comunicação e os marketeiros. Ela não faz discursos inflamados, não executa mudanças de paradigma e não oferece nenhuma narrativa europeia... Considerando-se tamanha escassez de amparo intelectual com que a Alemanha terá que se contentar sob a chanceler Merkel, podemos considerar seu discurso, há algumas semanas em Hanover, como relativamente animado".
"Embora a chanceler seja frequentemente acusada de ser avessa ao risco, ela tem – depois de pesar cuidadosamente os custos, benefícios e perigos potenciais – seguido um caminho que leva à reconstrução total da União Europeia. Independentemente de como essa jornada terminará, isso sempre fará parte do legado dela. Cidadãos irritados já estão acusando Merkel de fraude e traição. Mas a maioria dos alemães parece acreditar quando ela diz que não há nenhuma cura milagrosa para dar um fim indolor e rápido à crise do euro. Mesmo a oposição, que prefere acusar Merkel de ter embarcado no caminho errado em relação à crise do euro, apoia relutantemente a chanceler em cada votação parlamentar".
"Dessa forma, não é de admirar que o CDU não tenha alternativa a não ser prestar homenagens a sua chanceler. Angela Merkel se tornou indispensável para seu partido. E, com ela no poder, o CDU parece mais forte como há muito não se via".
O esquerdista "Berliner Zeitung" publicou:
"Merkel é uma moderna gestora do poder. Ela está colocando seu partido em uma dieta rigorosa. Ela considera ser sua função governar de forma ordeira (coisa que é bem difícil de conseguir com o FDP) e salvar o euro e a UE (o que também é difícil, pois essa missão vai além apenas da Grécia). E os eleitores estão claramente seguindo Merkel, como evidenciaram seus índices de aprovação estáveis".
"Ao contrário do que ocorria com o ex-chanceler do CDU, Helmut Kohl, as convenções partidárias são exercícios obrigatórios para Merkel. Ser presidente do CDU é seu segundo emprego. Ela quer e é capaz de simplesmente disfarçar esse fato. É por isso que seus discursos nas convenções partidárias são pouco diferentes das declarações emitidas por seu governo. Causar polêmicas e marcar gols políticos não fazem parte da agenda dela".
"Merkel quer ganhar. Com o CDU. Com que parceiro ela vai governar? Ela prefere falar sobre isso mais tarde".
Tradutor: Cláudia Gonçalves
A chanceler alemã Angela Merkel tem uma questão a menos com que se preocupar. Apesar de sua agenda continuar repleta de reuniões de cúpula, encontros e negociações de bastidores relacionados com os esforços em curso para resolver a crise do euro, pelo menos ela sabe que conta com o apoio de seu próprio partido, a CDU (União Democrata-Cristã). Apesar dos sinais recentes de que alguns dentro da agremiação estão ficando inquietos em relação a sua gestão da crise do euro, Merkel foi reeleita líder do CDU com 97,94% dos votos –o melhor resultado já obtido por ela.
O apoio significa que a chanceler está em posição forte na centro-direita do espectro político da Alemanha, enquanto o país se prepara para entrar em ano eleitoral. Os eleitores irão às urnas no próximo outono e, apesar de o mais recente acordo firmado pela UE (União Europeia) – que ampliou os esforços destinados a resgatar financeiramente a Grécia – estar aparentemente proporcionando uma sobrevida aos líderes europeus, a crise do euro será um tema central durante a campanha.
Na verdade, como a oposição, representada pelo Partido Social Democrata (SPD), de centro-esquerda, estragou sua própria largada para o ano de campanha – após seu candidato a chanceler, Peer Steinbrück, ter causado surpresa com as altas quantias que recebeu por palestras durante o ano passado –, Merkel parece estar no auge de seus poderes. As avaliações da opinião pública sobre ela estão em alta, seus adversários estão em baixa e seu caminho para um terceiro mandato parece estar livre.
Poucos detalhes
Ainda assim, há espaço para críticas. Por um lado, a atual coalizão de Merkel com o partido FDP (Democrático-Liberal) gerou mais brigas do que soluções na administração do governo. Embora ela tenha elogiado a si mesma durante seu discurso na convenção partidária do CDU, devido ao fato de ter liderado o governo alemão que se mostrou mais eficaz desde a reunificação, poucos realmente acreditam nesse discurso. Na verdade, a própria convenção pareceu espelhar a preferência de Merkel por evitar fornecer detalhes sobre a política interna – e analistas reclamaram que faltou substância em seu discurso.Além disso, não está claro como Merkel será capaz de montar uma coalizão de governo em 2013. O FDP tem estado em queda livre desde a eleição de 2009 e pode até não conseguir alcançar o percentual mínimo de 5% para que obtenha representação no Bundestag, o parlamento alemão. E mesmo que o partido receba os votos de que precisa, é quase certo que não terá votos suficientes para permitir a continuidade da atual coalizão governista. Além disso, permanecem as dúvidas quanto à possibilidade de o CDU vir a formar uma coalizão com o Partido Verde, que defende causas ambientais.
Na verdade, do modo que as coisas estão agora, todos os sinais apontam para uma repetição do primeiro governo de Merkel, que contou com a chamada "grande coalizão" com o SPD, de centro-esquerda – apesar do indiscutível controle que Merkel mantem sobre as rédeas do poder na Alemanha. Analistas dos principais jornais do país analisaram detalhadamente esse cenário.
O diário conservador "Die Welt" publicou:
"Angela Merkel domina o CDU – essa é a mensagem após a convenção do partido, durante a qual o discurso da chanceler e sua reeleição como líder do CDU foram os únicos momentos importantes. Mas isso não chega a captar com precisão a situação. Merkel não apenas lidera o maior partido da Alemanha – ela se transformou no próprio partido".
"Mas a questão que realmente interessa se estende para além do CDU, pois o domínio de Merkel, que transformou o partido no show de uma mulher só, tem há muito tempo estado relacionado a situações que transcendem o próprio CDU. Saber que essa mulher comanda a chancelaria acalma tanto a população quanto os membros da oposição, representados pelo SPD e pelos verdes. O motivo é prático: ela dominou a arte do poder, o que não é pouca coisa em tempos como os atuais".
"A política de Merkel, que conta com a falta de alternativas, só funciona porque as alternativas têm, de maneira consistente, desqualificado a si próprias. Isso não é bom. O CDU pode se permitir ignorar até mesmo as contradições mais significativas como se elas fossem fenômenos de importância marginal, mas a nossa democracia não pode. Angela Merkel é uma política especial. Mas, apesar de ela não ser contestada dentro do CDU, é melhor que ela seja contestada fora do partido".
O diário de esquerda "Die Tageszeitung" publicou:
"Angela Merkel é uma maravilha pós-ideológica. Desde o acidente de Fukushima, ela tem defendido as causas ambientais. Mas ela também é uma espécie de conservadora. Observem, por exemplo, em seu leque de subsídios para os pais que não trabalham fora. E a chanceler também é liberal. Mas o CDU, que é comandado por mulheres, também parece ser pós-feminista".
"Sim, o CDU, caso você tenha acreditado no discurso sentimental proferido por Merkel é um firme defensor do imposto sobre as operações financeiras – e do salário mínimo. Merkel... tem algo à disposição para todos".
"O CDU nunca atraiu a atenção por meio de debates vigorosos. No entanto, durante a era Merkel o partido entrou em coma intelectual. Esse é o preço pago pelo CDU por ter permitido a adoção do direcionamento centrista adotado por Merkel, que fez o partido ficar atolado em águas tépidas e um tanto tediosas. É verdade: a base conservadora está reclamando, as grandes cidades estão perdidas e o partido está se transformando em uma máquina de aplausos. Mas o CDU é compatível com outros ambientes, além de ser capaz de formar uma coalizão com o SPD, os verdes e o FDP. A oposição é como a lebre, enquanto Merkel é a tartaruga que fica esperando na linha de chegada. Será que a oposição tem uma solução para corrigir isso?"
O "Süddeutsche Zeitung", de centro-esquerda, publicou:
"O CDU deve sua sobrevivência a Angela Merkel. Essa chanceler está no auge de sua glória. Ela não precisa estender a mão para a convenção do partido; o partido é que deve fazer um esforço por ela. Os delegados do CDU são gratos por tudo que vem da líder de seu partido, incluindo o desempenho intelectual abaixo de seu potencial e a alta concentração de banalidades. Houve um tempo em que eles tinham orgulho de representar um partido inteligente. Hoje, eles são gratos por poderem ser representados por uma chanceler de sucesso".
"O CDU acredita que, com Merkel, eles vão governar para sempre. Mas os governos federais não se originam dos aplausos de delegados após um discurso maçante de Merkel em uma convenção partidária. Governos se originam de coligações. E o parceiro de coalizão do CDU se esvaiu... Ainda assim, apesar de não haver um grande desejo de mudança (na política), há um desejo de mudança na coalizão... Merkel tem apenas alguns pontos em comum com o FDP, e que também ficaria feliz governando com os social democratas ou com os verdes".
O diário de centro-direita "Frankfurter Allgemeine Zeitung" publicou:
"Merkel faz seu trabalho de um modo que frustra os consultores de comunicação e os marketeiros. Ela não faz discursos inflamados, não executa mudanças de paradigma e não oferece nenhuma narrativa europeia... Considerando-se tamanha escassez de amparo intelectual com que a Alemanha terá que se contentar sob a chanceler Merkel, podemos considerar seu discurso, há algumas semanas em Hanover, como relativamente animado".
"Embora a chanceler seja frequentemente acusada de ser avessa ao risco, ela tem – depois de pesar cuidadosamente os custos, benefícios e perigos potenciais – seguido um caminho que leva à reconstrução total da União Europeia. Independentemente de como essa jornada terminará, isso sempre fará parte do legado dela. Cidadãos irritados já estão acusando Merkel de fraude e traição. Mas a maioria dos alemães parece acreditar quando ela diz que não há nenhuma cura milagrosa para dar um fim indolor e rápido à crise do euro. Mesmo a oposição, que prefere acusar Merkel de ter embarcado no caminho errado em relação à crise do euro, apoia relutantemente a chanceler em cada votação parlamentar".
"Dessa forma, não é de admirar que o CDU não tenha alternativa a não ser prestar homenagens a sua chanceler. Angela Merkel se tornou indispensável para seu partido. E, com ela no poder, o CDU parece mais forte como há muito não se via".
O esquerdista "Berliner Zeitung" publicou:
"Merkel é uma moderna gestora do poder. Ela está colocando seu partido em uma dieta rigorosa. Ela considera ser sua função governar de forma ordeira (coisa que é bem difícil de conseguir com o FDP) e salvar o euro e a UE (o que também é difícil, pois essa missão vai além apenas da Grécia). E os eleitores estão claramente seguindo Merkel, como evidenciaram seus índices de aprovação estáveis".
"Ao contrário do que ocorria com o ex-chanceler do CDU, Helmut Kohl, as convenções partidárias são exercícios obrigatórios para Merkel. Ser presidente do CDU é seu segundo emprego. Ela quer e é capaz de simplesmente disfarçar esse fato. É por isso que seus discursos nas convenções partidárias são pouco diferentes das declarações emitidas por seu governo. Causar polêmicas e marcar gols políticos não fazem parte da agenda dela".
"Merkel quer ganhar. Com o CDU. Com que parceiro ela vai governar? Ela prefere falar sobre isso mais tarde".
Tradutor: Cláudia Gonçalves
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