segunda-feira, 1 de julho de 2013

CHINA

Avaliar as opções escolares na China é uma tarefa que tira o sono dos pais
Didi Kirsten Tatlow - IHT                                          
Na semana que vem, milhões de alunos do quinto ano de toda a China farão suas provas de fim de ano. E, com apenas mais um ano de ensino fundamental à sua frente, seus pais vão se esforçar para escolher uma nova escola para eles.
Para muitos pais chineses cosmopolitas, as deliberações torturantes são mais ou menos as seguintes: devemos dar a nosso filho uma educação chinesa? Ou ocidental? Existe um meio termo?
"Tenho uma amiga que não conseguia dormir à noite por causa disso. Ela quase ficou louca", disse Ma, a mãe de um aluno da quinta série da Escola de Ensino Fundamental Fangcaodi, em Pequim, que meu filho também frequenta. "Não se permita ficar assim", ela me aconselhou.
Ma está perplexa com o desafio de escolher uma escola para seu filho de 11 anos de idade. "Estou muito preocupada com seus estudos futuros", disse ela. Ela levou o filho para os Estados Unidos em maio para visitar escolas, mas isso não rendeu uma decisão.
"Ele se sente norte-americano, mas seus amigos estão aqui. Ele quer ficar aqui. Eu sinto que a educação básica da China é muito boa, mas, mais tarde, quero que ele tenha espaço para explorar e criar, e não apenas aprender com livros ", disse Ma, que ofereceu apenas seu sobrenome para a reportagem.
Além disso, há a questão dos valores, o que a inclina na direção dos Estados Unidos.
"Acho que os valores e a moral tradicionais chineses são muito bons", disse ela. "Mas eles não existem mais. E ele precisa aprender a ser uma pessoa correta."
As preocupações dos pais aqui podem ser muito intensas, em parte porque talvez reflitam uma mentalidade muito rígida em relação a educar os filhos. Mas eles também falam de uma identidade cultural profundamente arraigada. Como a China cresce em influência, muitos aqui acreditam que seus filhos serão uma parte essencial do futuro globalizado. E como os pais em todos os lugares, eles querem o que é melhor para eles.
Alguns estão se inclinando para uma educação mais chinesa por causa da preocupação de que a língua é muito difícil. Se os filhos perderem esses anos de formação, nunca serão capazes de acompanhar.
"Acho que é difícil ter uma educação verdadeiramente bilíngue", disse Qiu Dong, mãe de um outro aluno da quinta série. "Eu acho que você tem que escolher uma língua."
Depois de anos nos Estados Unidos, ela e sua família estão de volta à China. Ela tentou uma escola internacional, uma escola bilíngue e, agora, uma chinesa para um de seus dois filhos, e acha que a escola chinesa funciona melhor a fim de garantir o futuro de seus filhos aqui, se for isso que eles quiserem um dia.
"Se você quer que seus filhos de fato aprendam a língua, então o ensino fundamental não é suficiente", disse Qiu, com base em suas próprias experiências de quando era criança. Ela tinha 15 anos quando partiu para os Estados Unidos com sua irmã de 10 anos de idade. Hoje, "a diferença é enorme", disse ela. Qiu é fluente em chinês, incluindo a língua escrita. Sua irmã, não.
"Você precisa do chinês clássico, saber como ele funciona, as formas e a estrutura da língua", disse ela. "Você precisa entender não só a língua, mas todo o contexto cultural. Você tem que saber como o sistema funciona."
Para ela, a resposta é outra escola de elite chinesa. Como muitos pais da Fangcaodi, ela espera que seu filho, Oliver, passe nas provas altamente competitivas para a Escola Secundária Nº 4, uma das mais bem conceituadas do país.
É tudo uma questão de equilíbrio entre fatores enormes e muitas vezes conflitantes --cultura, identidade e dinheiro--, disse Zhang Qiao, a mãe de Natalie, uma aluna do quinto ano, de pai alemão.
"A realidade é que nossos filhos estão vivendo em duas culturas", disse Zhang.
Ela decidiu pelo curso mais internacional da Escola Secundária Estatal Nº 80. As escolas chinesas estão cada vez mais oferecendo cursos internacionais, para os quais os alunos precisam de um passaporte estrangeiro para entrar e que oferecem um currículo de Bacharelado Internacional.
Para Zhang, ao contrário de Ma ou Qiu, o dinheiro é um problema, como é para muitos. Natalie passou algum tempo numa escola internacional em Pequim, mas o custo era paralisante. "Gastei toda a minha poupança!", Disse Zhang. "Não posso fazer isso."
As escolas internacionais na capital custam em torno de 230 mil renminbi, ou mais de US$ 37 mil dólares por ano, dependendo da idade da criança.
Outro ponto negativo para alguns pais chineses globalizados é a "bolha" de expatriados que eles veem nas escolas internacionais, que eles sentem que separa as crianças da "verdadeira" China. Alguns dizem que as crianças chinesas estão em desvantagem social, bem como linguística.
Zhang diz que as escolas estatais chinesas ensinam melhor o chinês e exigem dos alunos um respeito antiquado para com os mais velhos. Ela está feliz com isso. Sua filha se sente alemã, mas "temos que ensinar as crianças a aproveitar o melhor dos dois mundos", disse Zhang. "Esta é a próxima geração, e o mundo vai ser assim."
Muitos pais, como Zhang, preferem a ideia de cursos internacionais dentro das escolas chinesas. Mas há preocupações: esses lugares podem ser centros de reintegração que na verdade não são competentes no chinês nem no currículo ocidental. As escolas públicas são administradas com rigor pelas autoridades de educação do Partido Comunista e os pais têm pouca voz. Alguns temem que professores estrangeiros contratados por essas escolas, muitas vezes através de agências cujas finanças e decisões são obscuras, são contratados por salários muito baixos e podem ser inexperientes.
Não é de se admirar o fato de que alguns pais estão perdendo o sono por conta da escolha. Eles querem o pensamento crítico e a criatividade da educação ocidental, mas não querem as anuidades caras e a "bolha" das escolas internacionais; a imersão cultural, as habilidades linguísticas e matemáticas das escolas chinesas, mas não as longas horas e a competitividade que pode deixar as crianças esgotadas.
Eles querem que seus filhos tenham uma moral e sejam cidadãos globais, que sejam chineses e ocidentais ao mesmo tempo. Nenhuma escola parece oferecer tudo isso. E com tanta coisa em jogo em meio a esta mistura conflitante de valores, a escolha é de fato bem difícil para muitos.
Tradutor: Eloise De Vylder

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