domingo, 28 de julho de 2013

Escola para meninas ensina modos de princesa
Mulheres criticam hábitos e regras de etiqueta do tempo das avós
Empresa criada por professora de Uberlândia já atraiu 500 alunas e vai abrir filial em Belo Horizonte
STELA MASSON - FSP
Uma bandeira cor-de-rosa e dourada tremula no alto de uma casa branca.
Não é um conto de fadas. Naquele castelo, em Uberlândia, fica a Escola de Princesas.
Coroas de vários tipos e tamanhos decoram a sala de chá, a suíte da princesa, o quarto onde ela se veste e se maquia e outros espaços.
Lá, princesas assistem a filmes, ouvem histórias, aprendem culinária, costura, noções de etiqueta e princípios humanos.
"Você não se torna uma princesa ao usar um belo vestido e tiara brilhante", diz a criadora da escola, Nathália de Mesquita. "Precisa se tornar a melhor versão de si mesma." Ela considera sua escola uma prestadora de serviços aos pais, "que não têm tempo para ensinar as coisas que nossas avós ensinavam".
Nathália passou oito meses planejando todos os passos do empreendimento. Por ser um projeto inédito, a ideia foi registrada e patenteada.
A inauguração foi em janeiro e, desde então, 500 meninas passaram pela escola (em módulos que vão de workshops de duas horas a cursos que duram três meses, uma ou duas vezes por semana).
A maior procura é de alunas entre seis e nove anos, mas há meninas de até 15, e o aprendizado vai de prendas domésticas a primeiros socorros.
"Minha expectativa era que a Júlia melhorasse a organização das próprias coisas e conhecesse as regras de etiqueta", diz Adriana Miranda, mãe da garota de 9 anos.
"Mas ela também aprendeu culinária, artesanato, a arrumar a mesa para uma refeição formal, a usar os talheres e o guardanapo", completa.
Formada em letras, com especialização em psicopedagogia, Nathália lecionou durante 17 anos em escolas particulares. Casada, mãe de dois meninos, acha que criou "uma escola prática para a vida, que inclui valores morais e princípios éticos imutáveis".
As alunas vestem-se normalmente no dia a dia. Quando uma delas faz aniversário, ela se veste de princesa e as amigas usam coroas.

OPRESSÃO

A escola vem provocando reações em redes sociais, como na página do Facebook "Escola de Ogras", criada para "confrontar os princípios de tal educação [de princesas], e expor as consequências [...] na sociedade".
A professora de literatura da Universidade Federal do Ceará Lola Aronovich critica o que considera culto à ostentação e à maneira como as crianças são obrigadas a se comportar.
"A admiração aos padrões de beleza pela riqueza material e pela forma como as meninas devem se comportar merecem atenção dos defensores dos direitos da criança e do adolescente", diz.
Samara Castro, universitária, postou: "Uma escola de princesas precisa causar incômodo", pois incentiva, "a submissão da mulher, especialmente na idade de formação, quando ela deixa de buscar o caminho da liberdade".
Apesar das críticas, um novo "castelo" vai surgir em Belo Horizonte, onde sócios de Nathália preparam o lançamento. A "rainha Nathália" luta por um final feliz.

Mães dizem se 'encantar' e rebatem as críticas
Já blogueira combate educação de 'princesa'
S. M. - FSP
As mães que matriculam suas filhas na Escola de Princesas de Uberlândia, independentemente de críticas de grupos em redes sociais, afirmam se encantar com o sistema e o resultado.
A engenheira Vanessa Fidélis afirmou não considerar que o aprendizado de princesa leve a sua filha --Ana Luísa, de sete anos-- a um comportamento retrógrado.
"Vejo como uma prática de respeito aos valores morais e aos mais velhos", afirmou.
Já Patrícia Fonseca, 42, mãe de Beatriz, 7, mostrou-se fascinada com o resultado da passagem de sua filha pelo "castelo" da cidade do Triângulo Mineiro.
"A maneira como ela se senta à mesa e fala com as pessoas mudou", disse. "Agora demonstra mais respeito e delicadeza."
Patrícia também afirmou acreditar que as fantasias de princesas são "importantes no fortalecimento psicológico das meninas".
No blog Ludreams, a jornalista Ludmila Pizarro questionou a utilização dessas fantasias na prática cotidiana.
"Como dosar o acesso ao universo lúdico das princesas? Como distinguir o faz de conta' e o consumo vazio?", perguntou Ludmila.
Chamadas de "princesas" durante todo o tempo em que ficam no "castelo", as alunas se dividem em diferentes atividades, adequadas às suas faixas etárias.
As aniversariantes se vestem como princesas e as colegas usam coroas.

BARBIE

No dia da visita da reportagem à escola, as garotas mais velhas receberam aulas de dobradura de guardanapos e de costura.
Leitura e vídeos de princesas e Barbie preencheram a agenda das menores.
Na aula de culinária, ensinam-se a fazer cupcakes. Mas,quando o assunto são boas maneiras, até a "netqueta" (etiqueta na internet) é ensinada às garotas.
Segundo a escola, essas aulas explicam os perigos que podem gerar do que elas publicam e de como ocorrem os relacionamentos iniciados pela internet.

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