domingo, 28 de julho de 2013

Neil Ferreira: Chico de Deus, Papa-Star do povo pobre e da molecada, desculpe nossa falha e volte sempre
Ricardo Setti - VEJA
Chico de Deus, papa do povo pobre e da molecada (Foto: Heitor Feitosa)
Chico de Deus, papa do povo pobre e da molecada (Foto: Heitor Feitosa)
Por Neil novo fanzissímo Ferreira, publicado no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo
CHICO DE DEUS, PAPA-STAR DO POVO POBRE E DA MOLECADA, DESCULPE NOSSA FALHA E VOLTE SEMPRE
Só uma alma brilhante de bondade como a vossa perdoa a bagunça que foi vossa enlameada passagem pelo Rio, que apesar de tudo continua lindo.
Vossa Eminência Excelência a quem rogo desculpas pelas caras de pau do Eduardo Paes Mães e Filhos e do Sergio Malandro, também teve doçura pra escapulir com lhaneza das armadilhas colocadas no vosso penoso caminho pela vulgo La Loca de Brasilia que, juro ao pé das vossa humilde batina, não tenho a menor ideia de quem seja, pois conhecedor eu era apenas de La Loca de Buenos Aires.
Coitada, sobraram a ela apenas o esforço de libertação dos “5 de Oruro” do time do Lula, pra ver se conseguiria mais uma outra manchetinha dos jornais, que se dedicaram quase exclusivamente ao Chico de Deus. Tentarei falar dele sem os rapapés, que nunca exigiu.
Papa-Star Chico de Deus já é; Papa-Pop também; Papa Pop-Star ainda não, mas chega lá. Mais viagens e assumirá com todo merecimento o encargo de ser Papa Pop-Star, apenas destinado aos Iluminados, como João XXIII e agora ao Chico de Deus, o Papa do povo pobre e da molecada. Com Deus ele tem linha direta, com a molecada fala pelo tuíter.
Pequenino, em pé no Papamòbile, palco por sua exigência sem vidros blindados, você olha hipnotizado vendo-o distribuir bênçãos sinceras, vindas do fundo da alma brilhando de amor pela molecada, pelo povo pobre, pela humanidade, com acenos e sorrisos que a ninguém soam falsos.
Chico de Deus é um daqueles apóstolos que dedicam suas vidas à pregação da Propagação da Fé e ele o faz pleno de alegria e nós o assistimos plenos de confiança, como a uma Luz vinda lá de cima.
A cada olhada, a cada sorriso, a cada prova de humildade, a catequese está feita; seu plebiscito está nas ruas vibrando de emoção, dando-lhe a vitória incondicional. Há quem tenha pesadelos com o pesadelo do plebiscito.
Ele poderia ir, se quisesse e acho que se tivesse Messi ele iria, à abertura e final da Copa das Confederações e de qualquer outra Copa, que seria recebido com aplausos unânimes.
Há quem não possa atrever-se a semelhante façanha, de medo de ser recebida debaixo de sonoras vaias. As vaias foram as mesmas da abertura do Pan do Rio.
De perto ou de longe, a energia, a fé, a alegria que emanam da sua figurinha encantadora e as verdades sinceras que transmite com a maior simplicidade, me fizeram figuradamente cair de joelhos na sua frente e beijar a barra do seu traje, branco como a pureza com que fala a fala modificadora de preconceitos milenares.
Com alguns meses no Trono, dele desceu e foi para as ruas conhecer o povo, que transformou em aliado para tentar fazer a Igreja a voltar a ser a Igreja de Cristo. Vai conseguir no seu tempo de vida mais do que acreditam os que creem. Eu creio.
Papa Francisco: "Com Deus ele tem linha direta, com a molecada fala pelo tuíter" (Foto: Gabriela Batista)
Papa Francisco: "Com Deus ele tem linha direta, com a molecada fala pelo tuíter" (Foto: Gabriela Batista)
No avião vindo para o Brasil, algum alto dignatário próximo dele brincava com nossa rivalidade com os hermanos, sabendo que é hermano.
Colocando no rosto uma seriedade, essa que todo mundo sabia que não era pra valer, jogou água (benta) na fervura e deu a Deus, seu parceiro em todas situações, sua verdadeira nacionalidade e sentenciou: “— Se Deus é brasileiro, vocês querem um Papa brasileiro também?” Deus é brasileiro, confirmou. Falou e disse.
Da sua estada como Cardeal-Arcebispo de Buenos Aires, carrega um segredo que todo mundo sabe qual é mas finjo que só eu sei e daqui o espalho como se só meu fosse. Um “furo”, fala-se no jornalismo sério.
No quartinho (e põe “inho”) em que ficou no Rio, há uma cama em que não cabe ninguém de 1m60 e o guarda-roupa tem três cabides de arame, talvez para abrigar os três únicos trajes que carrega: um pra vestir, o outro pra dormir e o outro pra lavar; ninguém precisa de mais do que isso, mesmo sendo o Santo Padre de milhões de católicos no mundo inteiro.
Há uma riqueza: sua janelinha abre para as copas de algumas frondosas árvores, tomara o Ibama não vá destruí-las para abrir espaço pra algum estacionamento. Peço a Chico de Deus que as abençoe, dando-lhes a merecida proteção divina.
Nesse alojamento quase franciscano reside o segredo dos segredos, que revelo locupletado daquela arrogância de quem não é jornalista mas se mete a ser.
Na cozinha, uma demonstração (e só há outra) do que gosta de comer: só pede a refeição normal do povo do país que visita. Sabemos então que seu prato principal aqui no Brasil foi o velho, honesto, popular e delicioso arroz com feijão. Sábio Papa.
O segredo é a sobremesa. Aí, Chico de Deus prova, graças a Deus, que é tão humano como nós somos. Havia naquela cozinha simples uma bateria de três jovens irmãs, trêmulas de emoção e de preocupação por terem sido agraciadas com a missão de agradar Sua Santidade o Papa.
A sobremesa predileta de Chico de Deus, o único luxo que carrega na sua vida de simplicidade que, dizem, não abre mão por nada é o doce de leite. Chico habitara Buenos Aires, a capital mundial do melhor doce de leite do mundo. Parece que as freirinhas fizeram tudo nos conformes. Confesso que me preocupei com elas, quando estavam envolvidas na “Missão Impossível 6”. Fizeram-na possível.
A Dilma do Lula tentou tirar uma casquinha do sucesso do Papa-Star e ofereceu a ele que a visita fosse transformada num encontro de Chefes de Estado, aí ela apareceria como figura obrigatória em todas as aparições oficiais do Chico de Deus.
Claro que foi delicadamente recusada; Chico de Deus é do povo pobre e da molecada e não é otário. Alguém lá da turma dele sabe das coisas.
Mas a mancha vermelha que enfeiou visita tão linda foi discurso que Dilma do Lula fez na chegada do Chico de Deus: uma enorme e absurda peça de propaganda eleitoral do PT. Desta vez Franklin Martins pisou na Bíblia.

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