Médicos cubanos
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA - Um deputado presidiário manteve o mandato, o chanceler
caiu, houve ameaças do boliviano Evo Morales e a invasão americana na Síria se
desenhava iminente, mas nada tirou a contundência de uma foto na "Primeira
Página" da Folha na semana passada: o médico cubano, negro, sendo
humilhado por médicas brasileiras, brancas.
Há, assim, um triplo ataque aos médicos cubanos. O governo de Cuba os aluga
mundo afora e embolsa a maior parte dos seus salários. O governo do Brasil se
conforma em ter, lado a lado, médicos estrangeiros ganhando salários diretos bem
superiores aos dos cubanos --a quem, preventivamente, nega refúgio. Por fim,
eles sofrem esses ataques vergonhosos de colegas brasileiros.
É o típico caso de alvo errado. Os cubanos são vítimas, e não culpados de
coisa nenhuma. Eles são inocentes úteis para o regime dos irmãos Castro e
certamente serão de grande ajuda no Brasil, que fecha os olhos para a injustiça
moral --se não erro legal-- de prestarem serviço por remuneração diversa de seus
equivalentes de outros países.
A medicina cubana, como a chinesa, segue princípios de massificação, com
atendimento à família, visita de casa em casa e prevenção a doenças
transmissíveis. Logo, é muito compatível com as necessidades de centenas de
cidades brasileiras.
Falta muito, mas o ministro da Saúde do governo Geisel, Paulo de Almeida
Machado, praticamente revolucionou a saúde pública no país ao importar
princípios, estratégias e ações da medicina chinesa para as regiões mais
desassistidas do Brasil.
Geisel era um militar de direita, mas a sua política de saúde era,
claramente, inspirada em regimes de esquerda. Almeida Machado era sanitarista e
dava de ombros para esse detalhe ideológico. Sua missão era salvar vidas, cuidar
de pessoas. E ele jamais humilharia médicos chineses ou cubanos. Até porque os
admirava.
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