sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Pequenos partidos pressionam elite da política na Alemanha
Alan Cowell - IHT
Quando a chanceler Angela Merkel conquistou um impressionante terceiro mandato na eleição alemã desta semana, ela saiu da disputa no pináculo do poder político europeu. Mas grandes batalhas – políticas ou militares – às vezes escondem pequenas escaramuças que terminam com resultados mais ambíguos, e assim foi em Berlim.
À sombra da vitória de Merkel, outra disputa menos óbvia foi travada por atores que, como seus equivalentes em outras partes da Europa, exploraram o descontentamento que parece insidioso demais para os principais líderes ignorarem.
Na Alemanha, foi o partido Alternative für Deutschland – Alternativa para a Alemanha– que modificou um canto da paisagem política, assim como pequenos partidos insurgentes de Atenas até Amsterdã trouxeram novos cálculos e pressões sobre a elite política.
E a ascensão desses grupos provocadores serve para acentuar um fenômeno europeu que os pequenos partidos de protesto – alguns deles não mais que alianças de conveniência em torno de uma única questão – passaram a representar: mesmo sem poder político formal, ou talvez por florescerem fora dos salões de influência tradicionais, eles exercem uma atração desproporcional sobre a vida política nacional, em detrimento dos partidos maiores e mais estabelecidos.
Na aritmética formal da democracia parlamentar alemã, o aspecto mais óbvio a respeito do resultado do Alternativa foi que ele perdeu, deixando por um fio de cabelo de atingir os 5% dos votos necessários pela lei alemã para entrar no Parlamento.
Mas no processo os alternativos tiraram cerca de 430 mil votos do Partido Democrata Livre liberal, o mais recente parceiro da coalizão de Merkel, o que contribuiu para sua saída do Parlamento pela primeira vez em mais de seis décadas. Os eleitores, ao que parece, foram atraídos em grande número pela antipatia dos alternativos em relação à zona do euro e por sua defesa de valores sociais conservadores em questões como os direitos dos gays. E ao contribuírem para os apuros dos democratas livres, os insurgentes também criaram problemas espinhosos para a triunfante Merkel em seus esforços para formar uma nova coalizão.
Talvez não seja mais que um efeito acidental, causado por uma lei de consequências não intencionais, quase garantindo que os melhores planos dos políticos de alguma forma não deem certo.
Mas ocorreram paralelos com desdobramentos em outros lugares na Europa neste ano, quando o eurocético Partido Independente do Reino Unido, ou UKIP (na sigla em inglês), alarmou os conservadores dominantes com um resultado surpreendentemente alto nas eleições locais britânicas, conquistando 23% dos votos, e levando o primeiro-ministro David Cameron a se comprometer com a realização de um referendo para saída ou não do país da União Europeia caso ele vença a próxima eleição nacional.
Isso ocorreu poucos meses depois do Movimento Cinco Estrelas de Beppe Grillo na Itália ter conquistado 25% dos votos nas eleições nacionais de fevereiro, transformando-se no opositor mais poderoso da ordem estabelecida na Itália em décadas.
O próprio status desses partidos como insurgentes ou rebeldes reflete seu dilema: ao se posicionarem como forasteiros, eles se excluem da ordem tradicional, que eles repudiam ou zombam como emblemas de um establishment corrupto e elitista que fracassou com o povo.
Isso, por sua vez, aprofunda a vulnerabilidade deles à inerente fragilidade e vida breve da política estreita, voltada a questões específicas. De fato, o fracasso de muitos em formar o tipo de máquina política que decide as eleições ocidentais deixa seus líderes dependentes de tenentes às vezes encrenqueiros e expõe os desentendimentos dentro de suas fileiras.
No Reino Unido, Nigel Farage, o líder bebedor de cerveja, um dos rapazes, do UKIP, tem se emaranhado frequentemente com figuras indisciplinadas de seu próprio partido, mais recentemente na semana passada, quando uma delas, Godfrey Bloom, foi suspenso após se referir às mulheres como "vadias" e usando uma cópia do programa político do partido para bater na cabeça de um repórter de televisão, diante das câmeras.
Até mesmo Farage reconheceu que o episódio à margem de uma conferência do partido foi um enorme revés. "Nós não podemos permitir que um indivíduo, por mais divertido e excêntrico que seja, destrua a conferência anual do UKIP, e foi o que ele fez", disse Farage sobre seu ex-aliado.
Não é coincidência que esses partidos populistas vociferantes – frequentemente conservadores e anti-imigrantes, mas longe de limitados à extrema direita– tenham conquistado manchetes à medida que a crise econômica da Europa atingia duramente não apenas os bolsos, mas também a reputação da elite política.
A gama de candidatos vai do Partido da Liberdade de Geert Wilders, na Holanda, até partidos na esquerda e direita na Grécia, incluindo o neofascista Amanhecer Dourado.
O retrospecto de durabilidade dos insurgentes é misto. Alguns, como o Partido Verde na Alemanha, ou a mais estabelecida Frente Nacional de Marine Le Pen na França, que pré-datam de muito antes da mais recente onda de novos rebeldes, se estabeleceram no espectro político. Outros, como o Partido Pirata da Alemanha, cuja principal questão é a liberdade na Internet, fracassaram.
O partido rebelde Respect do Reino Unido conta com um legislador no Parlamento. O UKIP não tem nenhum, dependendo de representação nos conselhos locais em casa e, paradoxalmente, de 13 das 72 cadeiras alocadas ao Reino Unido no Parlamento Europeu – um número que Farage deseja expandir nas eleições europeias do ano que vem, como plataforma para divulgar suas posições eurocéticas.
Os partidos populistas colocam os eleitores bons, honestos e comuns contra a elite política liberal tradicional, fora de contato, como disse o escritor Jamie Bartlett no semanário de esquerda "New Statesman" no Reino Unido. "Eles alegam representar os primeiros contra o segundo, uma voz autêntica e de bom senso em um mundo de manipulação e interesse próprio."
"Não é a extrema direita que está marchando pela Europa", ele disse, "mas sim uma rejeição maior à política tradicional, estabelecida".
Tradutor: George El Khouri Andolfato

Nenhum comentário: