sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Suposto mentor do grupo feminista Femen diz não ser tirano
André Eichhofer e Matthias Schepp - Der Spiegel
O ucraniano Victor Svyatski, 36 anos, é supostamente o mentor por trás do controverso grupo feminista Femen. Por semanas ele está escondido, mas antes de sua fuga, ele deu uma entrevista para a "Spiegel", na qual negou ser uma força negativa no grupo e acusou o governo russo de perseguição.
Pergunta: Sr. Svyatski, por que o senhor fugiu da Ucrânia no final da semana passada?
Svyatski: Eu fui agredido duas vezes por agressores desconhecidos. Então, no final de agosto, a polícia também plantou armas no escritório do Femen em Kiev, assim como panfletos mostrando o presidente russo, Vladimir Putin, e o patriarca Kirill, o líder da Igreja Ortodoxa Russa, sob mira (...) de modo que me escondi e decidi pedir asilo a algum país da Europa Ocidental.

Quem está por trás dos ataques ao senhor e ao Femen?
Eu considero um ato de vingança por parte dos serviços de inteligência russos. Na conferência de Hanover em abril, ativistas do Femen correram na direção de Putin, seminuas como de costume. Ele disse posteriormente que apreciou o protesto, mas na verdade ele ficou furioso com a humilhação pública.

O que isso tem a ver com a Ucrânia, que é um país independente?
Ele é um enclave de Putin.

Como então o presidente ucraniano Viktor Yanukovych pode dizer que deseja aproximar seu país da Europa, o que significa se distanciar da Rússia?
Isso é apenas por aparência. Nós somos um Estado vassalo controlado pelo Kremlin, no qual os serviços de inteligência russos operam sem restrições.

O senhor tem sido criticado graças a um documentário sobre o Femen. Dizem que o senhor dominou o grupo feminista em estilo machão e como ideólogo do grupo.
A diretora Kitty Green veio da Austrália. Juntos nós planejamos como poderíamos tornar o filme dela mais interessante. Kitty sugeriu para mim: 'Victor, no filme você é o tirano e as garotas temem você'. No final, as garotas se libertariam de mim. Foi assim que ele acabou sendo filmado. Mas não sou tão ruim quanto na trama

Mas mesmo assim o senhor é o homem forte por trás do Femen – até agora é o senhor quem escolhe as mulheres e planeja as apresentações.
Eu sempre fiz isso juntamente com as três fundadoras do Femen, de modo estreitamente coordenado. Elas me conhecem há anos de minha cidade natal, Khmelnytskyi. O Femen é um esforço coletivo; eu não sou um tirano.

Há outras acusações contra o grupo – dizem que o senhor cooperou com o governo ucraniano. O chefe do gabinete da presidência pressionou para que as mulheres do Femen telefonassem como convidadas em um talk show para apresentarem sua posição.
O pedido por ter acontecido, e pode ser que o chefe do gabinete tenha gostado de nossos protestos. Mas não há nenhum acordo. Ninguém nos comprou. Nós usamos todas as oportunidades para aparecer na mídia. Nós não podemos controlar quem nos convida para talk shows e por que motivo, assim como não podemos controlar o tempo.

Por que o Femen nunca se envolveu com a líder de oposição presa, Yulia Tymoshenko?
Por que deveríamos? Só porque ela é uma mulher? Quando estava no poder, Tymoshenko era um homem de saia. A maioria dos ucranianos a considera tão ruim quanto o atual presidente, Yanukovych. Quando ela estava no poder, a corrupção era tão desenfreada quanto agora. Mas o Ocidente a considera uma mártir apenas por estar na prisão.

Por que o Femen é menos popular na Ucrânia do que no Ocidente?
Porque a maioria das pessoas aqui não liga para política. Nós criamos um movimento global, um novo feminismo. Ele é tão importante quanto à luta de Nelson Mandela contra o apartheid.

O que o senhor quer dizer com novo feminismo?
A forma como o velho feminismo funcionava era para mulheres vestirem macacão cinza e deixarem crescer os pelos da axila. De certa forma elas queriam ser como homens. O novo feminismo diz: é bom que as mulheres sejam diferentes dos homens. A mulher é bonita; seus seios são símbolos de feminilidade. Esse é o motivo para as mulheres de Femen saírem de topless nas ruas. Apenas por meio da diferenciação é que realmente podemos chegar à igualdade.

Todas as fundadoras acabaram fugindo da Ucrânia – assim, como ele pode continuar?
A nova sede fica em Paris. De lá, as garotas do Femen serão recrutadas em todo o mundo. O Femen é como a Legião Estrangeira, no sentido de que pode atacar em qualquer lugar. Na Ucrânia, o Femen enviará mulheres estrangeiras que estarão mais bem protegidas graças aos seus passaportes.

O senhor ainda faz parte do Femen?
Não. Eu já fiz tudo o que podia. O Femen já se livrou do pequeno patriarcado, de mim. Agora as mulheres lutarão contra o grande patriarcado.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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