sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Sem espaço, Cingapura pode se expandir para o subsolo
Calvin Yang - NYT
Cingapura, cujo território é um pouco menor do que o da cidade de Nova York, está ficando sem espaço para seus 5,4 milhões de habitantes.
A cidade-estado, que foi construída para cima – com prédios que chegam a ter 70 andares –, já recuperou propriedades subutilizadas e as transformou em unidades habitacionais, além de ter ampliado sua orla costeira para obter mais terrenos utilizáveis.
Mas, na posição de uma das cidades mais populosas do mundo – as projeções especulam que o município ganhará mais 1,5 milhão de habitantes nos próximos 15 anos –, as opções de Cingapura são tão limitadas quanto o seu espaço. Por isso, Cingapura está estudando uma nova solução: construções subterrâneas para criar uma extensa e interligada cidade em seu subsolo, que teria shoppings, centros de transporte, espaços públicos, passagens para pedestres e até mesmo ciclovias.
"Cingapura é pequena e, quer tenhamos 6,9 milhões de habitantes ou não, sempre haverá a necessidade de ampliarmos o nosso território", disse Zhao Zhiye, diretor interino do Centro Nanyang para Espaços Subterrâneos da Nanyang Technological University. "A utilização do espaço subterrâneo é uma das opções de Cingapura."
As restrições de altura impostas às construções localizadas nas áreas em torno de bases aéreas e aeroportos impediram que os incorporadores construíssem edifícios mais altos. E há um limite para a quantidade de terreno que pode ser aterrado e ampliado oceano adentro – até agora, os terrenos tomados do mar correspondem a um quinto do território de Cingapura, mas essas áreas são vulneráveis à elevação do nível do mar causada pelas mudanças climáticas.
A falta de espaço levou ao fechamento de várias fazendas antigas e de instalações militares, que deram lugar a empreendimentos residenciais e industriais.
As construções subterrâneas não são algo novo para Cingapura. Abaixo do solo da cidade-estado já operam cerca de 12 km de vias expressas e aproximadamente 80 km de rotas de transporte público. Sistemas de drenagem subterrâneos e túneis usados por prestadoras de serviços públicos são características comuns sob a paisagem urbana.
Agora Cingapura está indo mais longe ao começar a trabalhar em um enorme depósito de petróleo subterrâneo batizado de Jurong Rock Caverns. Quando esse projeto for concluído, ele irá liberar aproximadamente 60 hectares de terra, ou uma área equivalente a seis usinas petroquímicas.
Outro projeto que está na prancheta é a Cidade Subterrânea da Ciência, que terá 40 cavernas interconectadas para a instalação de data centers e laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, que servirão de apoio aos setores de biomedicina e de ciências biológicas. O centro científico, que terá cerca de 20 hectares e será construído 30 andares abaixo do solo, sob um parque de ciências localizado no oeste de Cingapura, deverá abrigar aproximadamente 4.200 cientistas e pesquisadores.
"Um grande número de instalações poderão ir para debaixo da terra se utilizarmos totalmente nosso espaço subterrâneo", disse Zhao. "No início, pode haver problemas psicológicos, mas, desde que tenhamos a iluminação e a ventilação adequadas, gradualmente as pessoas poderão se acostumar com a ideia de trabalhar e viver no subsolo".
Projetos subterrâneos podem custar de três a quatro vezes mais do que projetos semelhantes erguidos na superfície devido aos altos custos de construção e à necessidade da realização de uma ampla análise do solo.
Em um post recente em seu blog, Khaw Boon Wan, ministro da pasta de Desenvolvimento Nacional de Cingapura, mencionou as extensas passagens de pedestres e os centros comerciais subterrâneos que existem no Japão e no Canadá.
Ele citou as possibilidades para que Cingapura "construa, em seu subsolo, centros subterrâneos de transporte, passagens para pedestres, ciclovias, empresas prestadoras de serviços públicos, unidades de armazenamento e pesquisa, unidades industriais, áreas comerciais e outros espaços públicos".
"Quanto mais cedo iniciarmos esse processo, mais rapidamente vamos aprender e mais fácil será para nós concretizarmos esses planos", disse ele.
Mas a ideia de trabalhar e viver no subsolo já se depara com certo ceticismo por parte da população.
"Ao longo dos anos, muitos de nós já se mudaram dos kampongs para as alturas dos apartamentos do governo", disse Joseph Tan, 69, contador aposentado, referindo-se às tradicionais aldeias Malay. "Mas quando nós finalmente estamos nos acostumamos a viver nesses edifícios residenciais, são divulgados esses planos para que passemos a viver no subsolo. Na minha idade, eu só espero viver confortavelmente".
Zhao, um dos pesquisadores por trás do estudo de Nanyang sobre o desenvolvimento subterrâneo, disse que é necessário realizar amplos estudos antes da construção do novo projeto subterrâneo.
"Se realmente estivermos dispostos a nos expandir para o subsolo, teremos que investir muito, e o projeto exige estudos abrangentes e um planejamento cuidadoso", acrescentou ele. "No momento, nós estamos nos virando bem, mas se houver a necessidade de mais espaço no futuro, sabemos que existe a opção de nos expandir para o subsolo".
Tradutor: Cláudia Gonçalves

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