Concessões ao setor privado vão gerar R$ 80 bi em investimentos, diz governo
Planalto quer transformar reativação de investimentos
privados no País em bandeira da campanha para reeleição da presidente
Dilma
João Villaverde, Laís Alegretti e Adriana Fernandes - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O governo federal contratou no ano passado
investimentos de R$ 80,3 bilhões pelos próximos 35 anos em concessões de
rodovias, aeroportos, terminais portuários de uso privado, blocos de
petróleo e gás natural e geração e transmissão de energia elétrica. O
balanço, inédito, foi realizado pelo novo secretário de Acompanhamento
Econômico do Ministério da Fazenda, Pablo Fonseca, e obtido pelo Estado com exclusividade.
Em sua primeira entrevista desde que assumiu o cargo em outubro,
Fonseca apresentou o estudo que aponta para aquela que deve ser a
principal bandeira eleitoral da presidente Dilma Rousseff em 2014: a
reativação dos investimentos privados no Brasil, destravados a partir
das concessões de infraestrutura. A expectativa é que a primeira parte
dessas despesas com máquinas e equipamentos comece justamente neste ano.
"Se fizermos essas mesmas intervenções e despesas por obra pública,
quer dizer, pelo orçamento federal, há pouquíssimas oportunidades de
investimento privado. Já por concessão e por parceria entre público e
privado, as possibilidades para os investidores são imensas", afirmou
Fonseca, que destacou relatório recente do Banco Mundial que aponta o
Brasil como o país emergente que mais realiza concessões e Parcerias
Público-Privadas (PPPs).
"O sinal mais importante que demos aos investidores nacionais e
internacionais em 2013 foi a realização de leilões em diferentes áreas.
Houve grande deságio para os consumidores e, no caso dos aeroportos,
grande ágio para a União. Vimos competição, e os investimentos começam
agora", afirmou.
Prioridades. Neste ano, o esforço do governo federal
será dividido em três áreas prioritárias, disse Fonseca. Em primeiro
lugar, acompanhar cada um dos contratos firmados entre a União e o
consórcio que ficou com determinada rodovia, aeroporto, terminal
portuário, usina ou linha de transmissão e bloco de petróleo e gás, para
que a carga de investimentos de R$ 80,3 bilhões seja efetivamente
cumprida.
Ao mesmo tempo, o governo vai trabalhar para que os bancos privados participem cada vez mais do financiamento dessas operações.
Finalmente, o governo vai intensificar o trabalho junto a
investidores internos e externos para popularizar novos instrumentos de
financiamento, como as debêntures de infraestrutura e o mercado de
capitais como um todo. A expectativa é que esses mecanismos sirvam para
complementar o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) na estrutura de financiamento desses projetos.
Impacto. Segundo Gesner Oliveira, que foi presidente
do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e hoje é sócio da
consultoria GO Associados, o impacto das concessões no avanço do
Produto Interno Bruto (PIB) de 2014 ainda deve ser pequeno.
Mas, na avaliação dele, o importante é a nova forma de crescimento
que surge a partir desse cenário. "Estamos assistindo ao embrião de um
novo modelo de crescimento", afirmou. Trata-se de um modelo liderado
pelo investimento em infraestrutura, e não mais pelo consumo das
famílias. Para Oliveira, o governo precisa aprimorar o planejamento das
concessões, além da regulação dos contratos firmados com o setor
privado.
Para a economista Cláudia Oshiro, especialista em transporte e
logística da consultoria Tendências, o País tem conseguido sustentar um
ritmo razoável de crescimento apesar dos problemas logísticos.
Ela afirma que o governo federal acertou com as concessões, mas
precisa ampliar a operação para as ferrovias e portos em 2014. "Essa é a
principal missão para o ano, porque não podemos ficar dependentes de
rodovias, ainda que elas sejam importantes."
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