Ashley Parker - NYT
Kenji e Hiromasa Ozawa, pai e filho em férias na ilha de Oahu, passaram a manhã de Natal subindo até a Cabeça de Diamante, uma montanha vulcânica com vistas panorâmicas da praia de Waikiki.
Sua
próxima parada foi o Clube de Tiro Real Havaiano --um clube de tiro
coberto localizado dentro de um shopping center de luxo, acima de lojas
Cartier e Hermès-- onde dispararam várias dezenas de cartuchos cada.
"Nós adoramos atirar, eu adoro atirar", disse Kenji Ozawa, 52, que mora em Chiba, Japão. "É uma experiência muito emocionante."
O Japão se vangloria de ter uma das legislações de armas mais restritivas do mundo, especialmente em comparação com às dos EUA. A lei japonesa de Controle de Armas Brancas e de Fogo de 1958 proíbe os cidadãos de possuir quase todo tipo de arma de fogo; algumas armas, como espingardas para caçar, armas de ar e armas para competição são permitidas, mas os japoneses precisam passar por uma série de exames abrangentes, bem como uma checagem de antecedentes.
Então, para alguns turistas japoneses como os Ozawa, as férias perfeitas no Havaí incluem sol, surfe e armas semiautomáticas.
"Não podemos usar armas no Japão, somos proibidos de ter armas", explica o Ozawa mais velho antes de citar o direito de portar armas previsto pela Segunda Emenda: "esta é a América que eu conheço".
Embora os japoneses não viajem para o Havaí --que fica a um voo de cerca de sete horas desde a ilha onde moram-- necessariamente com o único propósito de frequentar os clubes de tiro de Waikiki, aqueles que têm um interesse, digamos, por Berettas, costumam tratar o tiro como se fosse surfe, uma atração turística divertida para desfrutar enquanto se visita os EUA.
"Na maioria dos países a mídia torna as armas desejáveis, e acontece o mesmo no Japão", diz Philip Alpers, professor adjunto-associado da Escola de Saúde Pública da Universidade de Sydney e especialista em prevenção a ferimentos causados por armas. O Havaí é "uma espécie de satélite do que existe de cultura de armas no Japão", diz ele.
Taka Maruyama, 52, de Tóquio, estava saindo do Clube de Tiro SWAT no Havaí numa tarde de terça-feira, com dois de seus filhos, e explicou: "nós viemos aqui só para nadar, jogar golfe e atirar". Fazendo um gesto para seu filho de 17 anos, Tomo, que segurava orgulhoso um papel de alvo cheio de furos perto do centro, Maruyama riu e disse: "toda vez que viajamos, ele faz tiro. Ele é um atirador profissional."
Há pelo menos quatro clubes de tiro privados a uma distância de menos de um quilômetro um do outro nesta faixa de Honolulu pontilhada por hotéis e lojas turísticas, e um clube de tiro público fica no extremo sudeste da ilha. Os clubes fazem propaganda com pôsteres (em inglês e japonês) nos shoppings elegantes e contratam homens para entregar folhetos (também em inglês e japonês) ao longo das calçadas movimentadas da praia de Waikiki.
Jeff Tarumi, gerente do Clube de Tiro Real Havaiano, estima que 90% de seus clientes sejam estrangeiros, com a maioria vinda do Japão. Ele disse que todos os funcionários do clube precisam saber falar pelo menos um pouco de japonês.
"Acredite ou não, conhecimento sobre armas não é tão importante, porque isso pode ser adquirido com a experiência, mas você precisa falar japonês", disse Tarumi. "O mercado dos EUA é um pouco mais difícil porque as pessoas chegam aqui e dizem: 'bom, eu posso atirar no meu quintal'."
Os clubes, nos quais os visitantes podem atirar todo tipo de armas, de AK-47 até Glocks de 9 milímetros, mostram-se atraentes para os turistas japoneses, que veem com frequência armas nos filmes e na televisão mas não podem usá-las em seu país.
David B. Kopel, autor de "The Samurai, the Mountie and the Cowboy: Should America Adopt the Gun Controls of Other Democracies?" [algo como "O Samurai, o Policial Montado e o Caubói: Deveriam os EUA adotar os controles de armas de outras democracias?"], disse: "os únicos cidadãos que têm armas dentro da lei no Japão são esportistas muito motivados". Ele acrescentou: "armas de mão e rifles são basicamente proibidos".
Em 2012, quase 1,5 milhão de japoneses visitaram o Havaí, ficando em terceiro lugar em gastos e dias de visita, de acordo com um relatório anual da Autoridade de Turismo do Havaí.
"Quantas pessoas vêm para o Havaí e acabam indo para os clubes de tiro? Dezenas de milhares", diz Harvey F. Gerwig, presidente da Associação de Rifle do Havaí. "É um grande atrativo."
O Havaí dificilmente é o Velho Oeste das armas de fogo. O Estado tem regulações mais rígidas do que muitos dos outros Estados no continente e recebeu um B+ por suas leis de armas pelo Centro de Direito para Prevenção da Violência Armada. Os clubes de tiro fornecem instrutores treinados em segurança básica de armas, proteção para os olhos e ouvidos, e não permitem que pessoas atirem depois de beber.
Mas especialmente em comparação com o Japão, visitar os clubes aqui ainda é relativamente fácil, e os japoneses não são os únicos que acrescentam uma hora ou duas nos clubes de tiro a seus itinerários de férias. Turistas de outros países com regulações de armas mais severas, como Austrália, Canadá e Nova Zelândia, também são encontrados nos clubes de tiro de Waikiki, onde os pacotes básicos custam cerca de US$ 25. Uma opção média no Clube de Tiro Havaí, com um total de cinco armas e 52 tiros, custa cerca de US$ 70.
Na semana passada, Marcia Murphy, 58, e Bethany Parr, 38, mãe e filha australianas em férias no Havaí, foram primeiro à manicure e pedicure antes de rumar para o Clube de Tiro Real Havaiano. ("Belo tiro", disse um instrutor, brincando sobre suas unhas pintadas.)
"Eu nunca havia tocado numa arma na vida", disse Murphy, ainda animada depois de saber que tinha uma pontaria habilidosa para uma novata.
Parr estava igualmente entusiasmada. "Foi o máximo", disse.
As duas atiraram com seis armas e foram muito bem, embora Murphy tenha acertado mais os alvos do que Parr.
Voltando-se para a filha, Murphy não pôde deixar de se vangloriar. "Vou esfregar na sua cara, querida", disse com um sorriso.
Ozawa também fez elogios ao sair do clube. "Estamos gostando dos Estados Unidos", disse ele.
Tradutor: Eloise De Vylder
"Nós adoramos atirar, eu adoro atirar", disse Kenji Ozawa, 52, que mora em Chiba, Japão. "É uma experiência muito emocionante."
O Japão se vangloria de ter uma das legislações de armas mais restritivas do mundo, especialmente em comparação com às dos EUA. A lei japonesa de Controle de Armas Brancas e de Fogo de 1958 proíbe os cidadãos de possuir quase todo tipo de arma de fogo; algumas armas, como espingardas para caçar, armas de ar e armas para competição são permitidas, mas os japoneses precisam passar por uma série de exames abrangentes, bem como uma checagem de antecedentes.
Então, para alguns turistas japoneses como os Ozawa, as férias perfeitas no Havaí incluem sol, surfe e armas semiautomáticas.
"Não podemos usar armas no Japão, somos proibidos de ter armas", explica o Ozawa mais velho antes de citar o direito de portar armas previsto pela Segunda Emenda: "esta é a América que eu conheço".
Embora os japoneses não viajem para o Havaí --que fica a um voo de cerca de sete horas desde a ilha onde moram-- necessariamente com o único propósito de frequentar os clubes de tiro de Waikiki, aqueles que têm um interesse, digamos, por Berettas, costumam tratar o tiro como se fosse surfe, uma atração turística divertida para desfrutar enquanto se visita os EUA.
"Na maioria dos países a mídia torna as armas desejáveis, e acontece o mesmo no Japão", diz Philip Alpers, professor adjunto-associado da Escola de Saúde Pública da Universidade de Sydney e especialista em prevenção a ferimentos causados por armas. O Havaí é "uma espécie de satélite do que existe de cultura de armas no Japão", diz ele.
Taka Maruyama, 52, de Tóquio, estava saindo do Clube de Tiro SWAT no Havaí numa tarde de terça-feira, com dois de seus filhos, e explicou: "nós viemos aqui só para nadar, jogar golfe e atirar". Fazendo um gesto para seu filho de 17 anos, Tomo, que segurava orgulhoso um papel de alvo cheio de furos perto do centro, Maruyama riu e disse: "toda vez que viajamos, ele faz tiro. Ele é um atirador profissional."
Há pelo menos quatro clubes de tiro privados a uma distância de menos de um quilômetro um do outro nesta faixa de Honolulu pontilhada por hotéis e lojas turísticas, e um clube de tiro público fica no extremo sudeste da ilha. Os clubes fazem propaganda com pôsteres (em inglês e japonês) nos shoppings elegantes e contratam homens para entregar folhetos (também em inglês e japonês) ao longo das calçadas movimentadas da praia de Waikiki.
Jeff Tarumi, gerente do Clube de Tiro Real Havaiano, estima que 90% de seus clientes sejam estrangeiros, com a maioria vinda do Japão. Ele disse que todos os funcionários do clube precisam saber falar pelo menos um pouco de japonês.
"Acredite ou não, conhecimento sobre armas não é tão importante, porque isso pode ser adquirido com a experiência, mas você precisa falar japonês", disse Tarumi. "O mercado dos EUA é um pouco mais difícil porque as pessoas chegam aqui e dizem: 'bom, eu posso atirar no meu quintal'."
Os clubes, nos quais os visitantes podem atirar todo tipo de armas, de AK-47 até Glocks de 9 milímetros, mostram-se atraentes para os turistas japoneses, que veem com frequência armas nos filmes e na televisão mas não podem usá-las em seu país.
David B. Kopel, autor de "The Samurai, the Mountie and the Cowboy: Should America Adopt the Gun Controls of Other Democracies?" [algo como "O Samurai, o Policial Montado e o Caubói: Deveriam os EUA adotar os controles de armas de outras democracias?"], disse: "os únicos cidadãos que têm armas dentro da lei no Japão são esportistas muito motivados". Ele acrescentou: "armas de mão e rifles são basicamente proibidos".
Em 2012, quase 1,5 milhão de japoneses visitaram o Havaí, ficando em terceiro lugar em gastos e dias de visita, de acordo com um relatório anual da Autoridade de Turismo do Havaí.
"Quantas pessoas vêm para o Havaí e acabam indo para os clubes de tiro? Dezenas de milhares", diz Harvey F. Gerwig, presidente da Associação de Rifle do Havaí. "É um grande atrativo."
O Havaí dificilmente é o Velho Oeste das armas de fogo. O Estado tem regulações mais rígidas do que muitos dos outros Estados no continente e recebeu um B+ por suas leis de armas pelo Centro de Direito para Prevenção da Violência Armada. Os clubes de tiro fornecem instrutores treinados em segurança básica de armas, proteção para os olhos e ouvidos, e não permitem que pessoas atirem depois de beber.
Mas especialmente em comparação com o Japão, visitar os clubes aqui ainda é relativamente fácil, e os japoneses não são os únicos que acrescentam uma hora ou duas nos clubes de tiro a seus itinerários de férias. Turistas de outros países com regulações de armas mais severas, como Austrália, Canadá e Nova Zelândia, também são encontrados nos clubes de tiro de Waikiki, onde os pacotes básicos custam cerca de US$ 25. Uma opção média no Clube de Tiro Havaí, com um total de cinco armas e 52 tiros, custa cerca de US$ 70.
Na semana passada, Marcia Murphy, 58, e Bethany Parr, 38, mãe e filha australianas em férias no Havaí, foram primeiro à manicure e pedicure antes de rumar para o Clube de Tiro Real Havaiano. ("Belo tiro", disse um instrutor, brincando sobre suas unhas pintadas.)
"Eu nunca havia tocado numa arma na vida", disse Murphy, ainda animada depois de saber que tinha uma pontaria habilidosa para uma novata.
Parr estava igualmente entusiasmada. "Foi o máximo", disse.
As duas atiraram com seis armas e foram muito bem, embora Murphy tenha acertado mais os alvos do que Parr.
Voltando-se para a filha, Murphy não pôde deixar de se vangloriar. "Vou esfregar na sua cara, querida", disse com um sorriso.
Ozawa também fez elogios ao sair do clube. "Estamos gostando dos Estados Unidos", disse ele.
Tradutor: Eloise De Vylder
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