Claire Gatinois e Alain Salles - Le Monde
Yves Herman - 19.dez.2013/Reuters
A chanceler alemã Angela Merkel será figura central na Europa em 2014
Mais uma vez, a Europa provou que os pessimistas estavam errados. Ainda
que titubeante e imperfeita, a União Europeia resistiu em 2013 e o euro
não se desintegrou. A entrada da Croácia para os países-membros no dia
1º de julho de 2013, as manifestações pró-UE na Ucrânia neste inverno e a
adoção da moeda única na Letônia, na quarta-feira (1º), mostram que a União Europeia e o euro ainda nutrem esperanças.
Só que a crise econômica, política e social não terminou, e o ano de
2014 traz seus desafios. Será grande a tentação de evitar os assuntos
inoportunos, a cinco meses das eleições europeias, tradicional válvula
de escape dos eleitores. A seguir, um apanhado dos grandes temores da
Europa para 2014.Temor das eleições europeias
Pouco populares e geralmente sem questões de interesse nacional, as eleições do final de maio para o Parlamento Europeu muitas vezes passam em segundo plano entre os países-membros, particularmente quando eleições nacionais acontecem durante o mesmo período, como será o caso da França, da Bélgica, da Hungria, da Eslováquia e da Romênia.Esse desinteresse dos partidos tradicionais pode acabar custando uma ascensão das correntes populistas. Após anos de crise e de austeridade imposta por Bruxelas, o discurso dos "anti-UE" se acirrou. Diante dos argumentos "técnicos" e "soporíferos" dos pró-UE, os opositores ferrenhos da União Europeia agora parecem "formidáveis", lamentou o ex-ministro da Educação Nacional, Luc Ferry, durante as Conferências do Federalismo Europeu, realizadas em dezembro de 2013, em Paris.
Ciente de seu potencial nestes tempos turbulentos, a extrema direita tem se mobilizado em torno da nova aliança fechada em novembro entre Marine Le Pen e o holandês Geert Wilders para ter peso no Parlamento.
Na outra ponta do espectro político, a esquerda radical europeia conta com sua figura de proa, Alexis Tsipras, o líder da oposição grega, para encarnar uma linha contrária ao rigor e à "Europa de Merkel". No meio, os verdes e os liberais, entre os conservadores e os socialdemocratas, podem acabar enfraquecendo.
Imigração
Com 366 mortos e um mar carregado de cadáveres, o episódio de Lampedusa em 2013 continuará sendo a pior tragédia de imigração que houve no Mediterrâneo. Mas apesar dos discursos indignados, a Europa só deu respostas comedidas; só que o agravamento da situação nos países mediterrâneos, tanto a Síria quanto a Líbia e a Tunísia, corre o risco de acentuar a pressão sobre o Velho Continente.É o suficiente para reforçar o temor de uma Europa sitiada, alimentando o discurso anti-imigração da extrema direita.
"Europa dos ricos", "Europa dos pobres"
Poderia ter sido uma mera formalidade. Mas a abertura do mercado de trabalho aos romenos e aos búlgaros a partir do dia 1o de janeiro encarnou o temor de uma onda de trabalhadores pobres, atraídos por salários altos e um sistema social mais generoso na Europa ocidental.Seja potencial ou imaginário, esse fluxo migratório levou o premiê britânico, David Cameron, a rever a questão da livre circulação de pessoas – um dos pilares da União Europeia. Ele defende que um país da UE só se beneficie da liberdade completa de circulação a partir de um certo nível de produto interno bruto (PIB) por habitante. Em outras palavras, a ideia seria distinguir a "Europa dos pobres" da "Europa dos ricos".
Essa visão também se tem na Alemanha, dentro da União Democrata-Cristã (CSU). O partido conservador bávaro, aliado da chanceler Angela Merkel, quer criar barreiras para a imigração de trabalhadores pobres com base em denúncias de que haveria "aproveitadores".
Superar o revés ucraniano
A diplomacia europeia sofreu um fiasco retumbante quando a Ucrânia se recusou a assinar, no final de novembro de 2013, a parceria oriental com a União Europeia, por medo de represálias por parte de Moscou. Bruxelas, que provavelmente demonstrou ingenuidade, deverá se armar para evitar outros reveses, porque a Rússia ofensiva de Vladimir Putin deverá continuar a usar a arma das pressões econômico-diplomáticas. Sobretudo contra a Geórgia e a Moldova, que no final de novembro de 2013 assinaram seus próprios acordos de associação com a União Europeia e que agora têm tropas russas estacionadas em seus territórios.Confirmar o fim da crise
A retomada econômica, por tantas vezes anunciada e o mesmo tanto de vezes frustrada, agora parece estar ao alcance dos membros da União Europeia e da zona do euro. Mas para isso devem evitar deslizes. Em 2014, os países que antes estiveram sob tutela da "troika" (Banco Central Europeu, Comissão de Bruxelas e Fundo Monetário Internacional) voltarão para os mercados financeiros. A Irlanda, Portugal e também a Grécia, que preside a União Europeia neste início de ano, são aguardados em um clima que mescla esperança e preocupação.Os dirigentes políticos já parecem ter aprendido com seus erros em sua comunicação com os mercados. No lugar dos discursos vingativos do início, entram mensagens de encorajamento direcionadas aos países doentes. Assim, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, garantiu no dia 31 de dezembro de 2013 que os europeus "não deixariam a Grécia afundar". E o comissário europeu encarregado dos assuntos econômicos, Olli Rehn, prometeu, no dia 30 de dezembro, em Portugal, que "a Europa manteria sua palavra".
Mas, para além das palavras, será preciso demonstrar a solidariedade de uma união monetária de contornos ainda indefinidos. A robustez dos bancos deverá ser provada por "stress tests" (testes de resistência) plausíveis, sendo que um acordo sobre a união bancária foi fechado com dificuldades durante a última cúpula europeia. Já a volta do crescimento ainda precisa ser confirmada dentro dos países superendivididados e fatigados pela austeridade.
Sendo assim, será o ano de 2014 o da consolidação econômica e também política da Europa? Assim que formou seu governo em dezembro de 2013, a chanceler alemã Angela Merkel, verdadeira líder da União Europeia, reafirmou sua ambição de reforçar a união política da Europa.
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