segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Proibição de fotos em casa noturna dos EUA desagrada usuários de smartphones
Billy Gray - NYT

Quando a casa noturna Output abriu em Williamsburg, Brooklyn, no início de 2013, seu site anunciou que o clube estava "aberto a qualquer pessoa, mas não a todos". Entre os que logo perceberam que não eram desejados ali: maníacos por fotos dissuadidos pela rígida política de proibição de fotos da casa. Promulgada pelo Output para tirar um pouco a atenção dos "selfies" e voltá-la para a música, a proibição recebeu elogios e condenações em igual medida, ainda que não simultâneos.

"Eu gosto muito da ideia por trás disso", escreveu um dos primeiros críticos no Yelp. "Mas o fato de que eles cumprem isso de forma rígida é ultrajante", acrescentou. O Output não é o único lugar que proíbe fotos: o Le Baron, de André Saraiva, preserva seu exclusivo deboche gaulês não permitindo fotografias; Amy Sacco proibiu câmeras em seu Bungalow 8, repleto de celebridades, em 2001, e manteve intacta a política no Nº. 8, sua cópia fiel nas proximidades; e seguranças do recém-inaugurado Sankeys desencorajam ativamente quem segura câmeras.
"Se está por toda parte, não é uma festa legal", disse Sacco. Ela admitiu que é um pesadelo fiscalizar a regra numa "cultura de mídia social negativa onde todos estão em busca da pior foto".
A regra do Output é menos para proteger a privacidade dos rostos das colunas sociais do que para voltar à vida noturna das antigas, silenciando a máquina de Relações Públicas que zune pelas melhores casas noturnas de Nova York.
É claro, a proibição de fotos do Output combate um problema que os antigos clubes nunca enfrentaram. Antes dos smartphones e câmeras digitais, os flashes atraíam as celebridades boêmias que hoje os repelem. Michael Musto, cronista fiel da vida noturna e colunista do Out.com (e colaborador ocasional do The New York Times), disse que, "nos velhos tempos, se entrássemos no Area ou Limelight e não houvesse um enxame de fotógrafos nos fotografando, ficaríamos profundamente deprimidos."
Inspirações contemporâneas para a proibição de fotos são abundantes em outros países. No projeto arquitetônico e na programação elaborada, o Output imita o Berghain, o santuário techno de Berlim. A proibição de fotos protege os resistentes clubes da capital alemã, onde documentar a festa ameaçaria o hedonismo ininterrupto e sem restrições.
Isso pode ser uma precaução exagerada em Nova York, onde o horário de fechamento não passa das 4 da manhã e a vida noturna luta contra repressões ocasionais da prefeitura. A lógica por trás das proibições de fotos de hoje poderia ser um desejo de proteger os famosos; criar um pretenso ar de mistério ou, no caso do Output, incutir uma mentalidade mais pura, mas nem tão inocente, de curtir a noite sem as fotos com filtros retrô do Instagram.
A ausência de telefones com câmeras nas casas noturnas ajuda as pessoas a baixarem a guarda numa época em que existem sites inteiros para expor e ridicularizar homens que ocupam muito espaço no metrô. A ameaça de vergonha na internet pode deixar um clubber com medo de agarrar alguém ou usar drogas abertamente.
Musto diz: "a única vantagem de proibir fotografias é que as pessoas podem ficar mais livres para fazer o que quiserem". Por outro lado, o autor do anônimo NYNightlife no Twitter, que fala sobre a vida noturna de Nova York, escreveu num e-mail que "algumas pessoas só usam para chegar ao Twitter e Instagram e contar para seus amigos que fizeram x, y e z".
Proprietários de casas noturnas surpreendentemente relutam em discutir os altos e baixos dos hábitos de seus clientes usarem drogas. Segundo Sacco, "se alguém for estúpido o bastante" para entrar com drogas, "ficarei feliz em mandá-lo para a delegacia". E para ser fiel a suas aspirações de sigilo, o site do Output diz que o clube "não facilita pedidos de informações" ou entrevistas. Saraiva estava viajando e não foi localizado para comentar.
Mas como a música eletrônica desfruta de uma grande popularidade, e queridinhas da lista das músicas mais tocadas como Rihanna e Miley Cyrus fazem de Molly [apelido para a droga MDMA] um nome familiar, o MDMA (e sua euforia descomunal) tomou o lugar da cocaína como a droga favorita nas casas noturnas. Por exemplo, a Proteção Alfandegária e Fronteiriça dos EUA disse em junho que houve 2.670 confiscos de MDMA em 2012, em comparação a 186 em 2008.
Um porta-voz do Departamento de Narcóticos dos EUA, Rusty Payne, advertiu contra o pânico em relação ao MDMA, dizendo que as apreensões caíram desde 2008. Ele acrescentou que o problema real da "Molly" supostamente pura é a enorme quantidade de compostos sintéticos desconhecidos --nenhum deles MDMA-- que muitas vezes está presente na droga. O certo é que a era de revival da cultura rave dos anos 90 levou a uma série de overdoses em festivais de música eletrônica, incluindo o Electric Zoo de Nova York, onde duas pessoas morreram no verão passado.
Apesar desses incidentes e da natureza precária da tendência da música eletrônica, os clubes noturnos com amplas pistas que chegaram a Nova York incluem uma ramificação do Space de Ibiza e um lar permanente para a empresa nômade de promoção de festas Verboten.
Eles podem não seguir a proibição de fotos do Output. Mas podem encorajar o vício tacitamente encobrindo-o de outra forma anacrônica, desde que não seja com festas de espuma.
Tradutor: Eloise De Vylder

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