Principal bandeira do democrata, 'Obamacare' decepciona na estreia, com apenas 2/3 dos inscritos previstos
População agora é obrigada a adquirir um plano de saúde, mas falhas técnicas em site comprometem sucesso
ISABEL FLECK - FSP
Apesar do esforço do governo americano no fim de 2013 para acelerar o
número de adesões ao Obamacare, o programa de saúde estreou em 1º de
janeiro com menos de dois terços do número de participantes esperado.
ISABEL FLECK - FSP
A cifra de 2,1 milhões de inscritos foi comemorada pela Casa Branca, mas ficou aquém dos estimados 3,3 milhões para a data e está muito distante dos 7 milhões que Obama espera ver incluídos no programa até 31 de março.
A partir de abril, quem não tiver plano de saúde no país estará sujeito a multa. Segundo o último dado divulgado pelo censo dos EUA, cerca de 48 milhões de americanos não possuíam nenhum tipo de cobertura médica em 2012.
A proximidade do início do programa e as dificuldades encontradas durante o processo fizeram com que muitos americanos buscassem a ajuda de ONGs para contratar um plano de saúde por meio do Obamacare.
"Ao menos 500 pessoas nos procuraram nos últimos três meses. Os que mais tinham dúvidas eram imigrantes, famílias cujas crianças não têm documentos legais e autônomos", explicou à Folha Flor Ramirez, diretora do Retail Action Project, em Nova York.
Segundo Elisabeth Benjamin, vice-presidente de iniciativas em saúde da Sociedade de Serviços à Comunidade de Nova York, outras "milhares" de pessoas recorreram à organização em busca de ajuda.
"As dúvidas eram principalmente sobre os papéis que eles precisavam enviar e sobre como usar o sistema, que se mostrou bem complicado no começo", disse.
Assim que foi lançado, em outubro, o site do governo pelo qual eram feitas as inscrições apresentou falhas. O problema na implementação da principal bandeira de Obama foi um dos motivos da queda de 5 pontos percentuais na aprovação do democrata (de 45% para 40%).
As constantes panes fizeram o governo adiar duas vezes o prazo para as inscrições que começariam a receber cobertura em janeiro.
Em seu balanço de 2013, Obama admitiu ter "estragado tudo", pela forma como gerenciou o programa.
REMENDO FEIO
"O lançamento do Obamacare foi mal gerido, e simplesmente não há desculpa para isso", afirma o especialista Uwe E. Reinhardt, da Universidade de Princeton. Ele, no entanto, reconhece que o programa é "pesado" por tentar transformar um sistema de saúde difícil de manejar.
"O Obamacare é um remendo feio em um sistema feio", disse. "Mesmo assim, é melhor tê-lo do que não, especialmente porque os republicanos não tinham nada para oferecer em seu lugar."
A administradora Anneliese Schwartz, 30, foi uma das que tentou, nas últimas semanas, contratar um plano de saúde pelo programa do governo. Depois de ter problemas com o sistema, conseguiu ver 106 opções de novos planos, mas acabou ficando com o mesmo que já possuía, fornecido pela empresa em que trabalha.
"O processo é confuso para quem não sabe usar o computador, e o fato de dar muitas opções gera ainda mais dúvidas. Uma pessoa que não sabe as terminologias sobre deduções e franquias pode ficar assustada. Minha mãe não saberia o que escolher", disse à Folha.
Mas quem conseguiu driblar as barreiras iniciais e terá um plano de saúde pela primeira vez ""ou um plano mais acessível, subsidiado pelo governo-- comemora.
Imigrantes ilegais devem continuar fora do sistema
FSPAinda é cedo para avaliar o impacto dos novos segurados sobre o sistema de saúde americano e o funcionamento dos novos planos subsidiados pelo governo. No entanto, analistas já questionam o preparo dos hospitais e do sistema de pagamentos para responder a uma maior demanda por atendimentos.
A Folha percorreu hospitais do Harlem, em Nova York, nos primeiros dias de funcionamento do programa. Encontrou, em sua maioria, pacientes que já tinham planos de saúde anteriores ao Obamacare. Muitos nem cogitam mudar para outro seguro.
Havia ainda não segurados esperando por atendimento. Na emergência do Harlem Hospital Center, o mexicano Carlos (ele pediu para ter o nome mudado na reportagem), 35, imigrante ilegal há dez anos, aguardava um médico para examinar a filha de duas semanas.
"Para mim, é complicado me inscrever, porque não tenho os documentos (de imigração). Nem tentei o processo, porque sabia que seria recusado", disse.
Como ele, há centenas de milhares de imigrantes ilegais que deverão ficar de fora do Obamacare --mas, ao menos, estão dispensados das multas sobre não segurados a partir de abril.
Segundo a Associação de Hospitais da Grande Nova York, não houve um aumento na demanda dos ambulatórios e prontos-socorros da região.
"É muito cedo para, inclusive, fazer qualquer previsão da procura nas próximas semanas e meses, mas os hospitais de NY certamente estão prontos para um aumento da demanda", disse a diretora de relações públicas do órgão, Kristin Stephens.
Para James Capretta, do Centro de Ética e Políticas Públicas, em Washington, há risco não só sobre a capacidade dos hospitais como sobre se os médicos vão querer atender os novos segurados.
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