domingo, 1 de setembro de 2013

Não pode ficar assim
Decisão da Câmara de manter mandato de parlamentar reacende algumas das indignações vistas nos protestos de junho
FSP
Foram muitos os que se surpreenderam com a decisão da Câmara de manter o mandato do deputado e presidiário Natan Donadon (ex-PMDB-RO).
Não haverá maior surpresa, contudo, se o episódio incrementar a participação em novos protestos por todo o país. Visto desse ângulo, o "timing" do vexame não poderia ter sido mais adequado.
Acontece pouco mais de uma semana antes do Sete de Setembro --data para a qual se preveem protestos nas grandes cidades.
A convocação funciona mais ou menos como um teste para saber se as jornadas de junho foram apenas um fenômeno de impaciência súbita, ou se corresponderam a uma mudança efetiva no modo com que os brasileiros se veem a si mesmos e a seus governantes.
Ao mesmo tempo, os protestos antecedem --e sem dúvida pressionam, no sentido de acelerá-lo-- o momento em que o Supremo Tribunal Federal dará a conhecer o desfecho do julgamento do mensalão.
Foi, aliás, uma alteração de entendimento no plenário da corte --com a chegada dos novos ministros Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso-- que levou à situação bizarra que ora beneficia Natan Donadon. Ambos consideraram que caberia ao Legislativo dar a palavra final sobre sua cassação.
Ainda que sem efeitos legais concretos, mas com efeitos políticos potencialmente devastadores, a palavra final é outra. Vem da própria população, que poderá ao menos expressar seu repúdio --e suas advertências-- diante do que aconteceu.
Imaginando algo assim, talvez, os mais hábeis defensores do "status quo" legislativo apressaram-se em prometer o que mais de uma vez já prometeram (o fim do voto secreto nas deliberações sobre cassação) e uma relativa novidade (a emenda que determina, em situações futuras, imediata perda de mandato dos condenados).
O fim da votação secreta se fortaleceu em 2007, quando o então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), escapou de perder o mandato. Passado o escândalo, a proposta é repescada de alguma poça onde se perdera, na vastidão do pântano parlamentar.
A iniciativa de emenda constitucional para moralizar de vez a questão --de modo a tornar automática uma decisão que o espírito corporativo e a falta de caráter impedem de ser tomada caso a caso-- será, provavelmente, outra manobra diversionista. Se aceitam o mandato de Donadon, em nome do que os parlamentares dirão que todo novo delinquente (mas não Donadon) merece perder o cargo?
Afirmou-se com frequência, com otimismo, com exagero que o país mudou depois das manifestações de junho. Na infame sessão de quarta-feira, a maioria dos congressistas encarregou-se de escarnecer dessa opinião. O futuro dirá, entretanto, se estão certos em seu desmentido.

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