Patriota diz que acusação contra diplomata do Irã é ‘preocupante’ Embaixada iraniana diz que houve ‘mal-entendido’ em denúncias sobre abuso sexual
Eliane Oliveira/Flávia Pierry - O Globo
BRASÍLIA - O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, informou que enviará ainda nesta quinta-feira uma nota à embaixada do Irã pedindo esclarecimentos sobre as acusações feitas contra o diplomata Hekmatolla Ghorbani, daquele país, para justificar as denúncias de assédio sexual a meninas com idade entre nove e 15 anos, em um clube de Brasília, que teria ocorrido no último sábado. Segundo Patriota, esse tipo de procedimento seria inadmissível se o autor fosse um funcionário brasileiro.
Patriota lembrou que, na última quarta-feira, o Itamaraty recebeu as famílias das menores que se sentiram vítimas de abuso. Ele explicou que, a partir da reação da embaixada iraniana, será possível tomar algum tipo de decisão a respeito. Segundo uma fonte, o diplomata poderá ser expulso do Brasil.
- São alegações que consideramos preocupantes e eu, pessoalmente, consideraria inaceitável se algum diplomata brasileiro se comportasse dessa maneira em qualquer país – afirmou o ministro.
- Vamos enviar uma nota à embaixada do Irã, para recordar que, segundo a Convenção de Viena, todas as pessoas que gozam de privilégios e imunidades devem respeitar as leis e os regulamentos do Estado e que gostaríamos de receber esclarecimentos das embaixada do irã a respeito das alegações - acrescentou.
Nesta quinta-feira, a Embaixada do Irã se pronunciou sobre o caso pela primeira vez. Em nota, a embaixada afirma que as acusações foram feitas devido a um “mal entendido”, causado por diferenças culturais. A autoridade iraniana no Brasil também afirma que a imprensa está tentado polemizar em cima de “algumas inverdades”, o que seria “um tratamento intencional por parte de alguns veículos de comunicação”.
“Uma das causas mais importantes é a falta de conhecimentos sobre as virtudes e as diferenças entre as culturas e o mal entendimento e as suas consequências decorrentes que isso pode causar. Sendo nas demais sociedades estas virtudes e valores relativos, podem provocar dificuldades e uma séria de incompreensão para as pessoas que estão vivendo num ambiente alienígena as suas características culturais”, afirmou a embaixada, em nota.
José Roberto Fernandes Rodrigues, pai de uma das dez meninas que estavam na piscina, lamentou a alegação da embaixada de que seria um mal entendido.
- Segundo ele falou, na cultura dele é normal. Não tem nada a ver (dizer que foi mal entendido) – disse.
Os pais de três menores afirmam que o comportamento de Ghorbani já havia acontecido na semana anterior, e que algumas meninas relataram aos pais após a acusação ter sido formalizada. Além disso, Rodrigues e a mãe de uma menina de onze anos afirmam que a mulher de Ghorbani foi à delegacia durante o registro da ocorrência, e tentou convencer as mães das meninas a amenizarem as denúncias nos depoimentos.
De acordo com o Blog do Noblat, o diplomata já deixou o país. A embaixada afirma que Ghorbani não foi ao escritório esta semana, mas não diz se ele deixou o país.
Segundo a acusação, o iraniano tocou partes íntimas de cerca de dez garotas ao nadar na piscina. Uma das menores, de 14 anos, percebeu que o iraniano havia tocado outras meninas e pediu a ele que parasse. Ela foi avisar o salva-vidas do clube, que ordenou o fechamento da piscina. Rodrigues voltou à piscina e tentou agredir Ghorbani.
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