quinta-feira, 17 de maio de 2012

ADIVINHE QUEM CHOROU (DE NOVO)?

Dilma diz que não haverá revanche nem perdão para ditadura
Presidente reúne antecessores em posse da Comissão da Verdade e chora ao lembrar morte de guerrilheiros
Lula, FHC, Collor e Sarney posam para foto inédita, elogiam criação de órgão e são recebidos em almoço no Alvorada
KELLY MATOS, LUCAS FERRAZ E NATUZA NERY - FSP

Numa cerimônia que reuniu os quatro antecessores vivos, a presidente Dilma Rousseff instalou a Comissão da Verdade e afirmou que o esclarecimento dos crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985) não pode comportar revanchismo, mas nem tampouco perdão.
"A palavra verdade [...] é algo tão surpreendentemente forte que não abriga nem o ressentimento, nem o ódio, nem tampouco o perdão", afirmou em discurso.
Ex-guerrilheira comunista, presa e torturada pelo regime, ela chorou ao se referir aos parentes dos mortos e desaparecidos no período.
"Merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos e parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia", disse, interrompida por aplausos.
"É como se disséssemos que, se existem filhos sem pai, se existem pais sem túmulo, se existem túmulos sem corpos, nunca, nunca mesmo pode existir uma história sem voz."
Dilma reverenciou os militantes que atuaram na luta armada, mas sinalizou respeito à Lei da Anistia, de 1979, que impede a responsabilização criminal de integrantes da guerrilha e da repressão.
"Assim como respeito e reverencio os que lutaram pela democracia enfrentando bravamente a truculência ilegal do Estado, e nunca deixarei de enaltecer esses lutadores e lutadoras, também reconheço e valorizo pactos políticos que nos levaram à redemocratização", disse.
A presidente não fez referência às vítimas da esquerda armada, tema de divergência entre integrantes da comissão nos últimos dias.
Dilma reafirmou que a Comissão da Verdade não será de "governo, mas de Estado", e que não haverá espaço para "revanchismos".
Para sustentar sua retórica do caráter "de Estado", promoveu uma inédita reunião dos ex-presidentes vivos pós-ditadura: José Sarney, Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Assim como ela, os dois últimos foram alvo de perseguição política dos militares. FHC foi cassado da Universidade de São Paulo em 1969 e se exilou no exterior, e Lula foi preso ao comandar greves no ABC paulista em 1980.
ELOGIOS
No discurso, Dilma elogiou os antecessores e disse que não seguiu critérios pessoais ao escolher os sete integrantes da comissão. Afirmou que todos são "sensatos, ponderados e preocupados com a justiça e o equilíbrio".
Lula definiu a criação da comissão como "um passo estupendo", e FHC disse que o esclarecimento dos crimes "não será uma revanche".
"Espero que a comissão realmente encerre de uma vez por todas esses problemas", disse Sarney. Collor afirmou que a comissão "vai tornar mais clara a verdade dos fatos do período autoritário".
Após o ato, a presidente recebeu os antecessores em um almoço de massa, filé e peixe no Palácio da Alvorada. Num momento curioso, Collor pediu autógrafo a Dilma e aos demais presentes. FHC se sentou ao lado esquerdo de Dilma. Lula, à frente.
Os cinco rememoraram histórias do passado e discutiram os desafios da Europa para vencer a crise econômica. Falaram da importância da eleição do socialista François Hollande na França.
Em dado momento, FHC e Lula se afastaram e cochicharam por cinco minutos.

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