quinta-feira, 17 de maio de 2012

Medo do fim do euro faz gregos correrem aos bancos
BCE suspendeu o financiamento de parte das instituições gregas, agravando a crise
O Globo com agências
ATENAS, FRANKFURT e NOVA YORK — Com o temor de que o país deixe a zona do euro, os gregos estão sacando seus recursos dos bancos, conforme admitiu o presidente da Grécia, Karolos Papoulias, em reunião do governo cujo teor foi revelado na terça-feira. Ele ainda teria alertado para o risco de pânico no sistema financeiro. E a situação dos bancos gregos fica ainda mais delicada: o Banco Central Europeu (BCE) confirmou na quarta-feira ter suspendido o financiamento de diversas instituições financeiras da Grécia, como fora revelado pela agência Reuters. O BCE não revelou os nomes dos bancos.
Segundo o jornal americano “The New York Times”, Papoulias teria dito que os saques chegariam a 700 milhões de euros desde as eleições, em 6 de maio. Mas o britânico “Financial Times”, citando fontes do setor bancário grego, afirma que teria sido retirado 1,2 bilhão de euro só na segunda e na terça-feira.
Os saques dos bancos remontam ao início da crise grega. Em abril de 2010, pouco antes da concessão do primeiro pacote de resgate ao país, foram resgatados 8 bilhões de euros. Pelos dados do BC, empresas e famílias gregas tinham 165 bilhões de euros depositados no fim de março, 72 bilhões de euros a menos que em janeiro de 2010.
Uma fonte do BCE disse à Reuters que a decisão de suspender o crédito se deveu ao fato de os bancos não terem reforçado suas reservas de capital. Eles têm, agora, de recorrer ao BC grego para se financiar, por meio de um mecanismo chamado de ajuda emergencial de liquidez.
— Assim que o processo de recapitalização terminar, o que deve ocorrer em breve, os bancos voltarão a ter acesso às operações normais de refinanciamento do sistema — disse à Reuters uma fonte do BCE, que continua a apoiar os bancos gregos.
Uma fonte do setor financeiro, no entanto, disse que quatro bancos da Grécia estariam no negativo. Pelas regras do BCE, que só pode refinanciar bancos solventes, eles não poderiam receber qualquer recurso.
‘FT’: permanência da Grécia no euro depende do BCE
Autoridades da zona do euro disseram ao “Financial Times” que, no momento, o volume de saques dos bancos é administrável. Um banqueiro de Atenas disse que os saques prosseguiam ontem, mas em ritmo menor. Um dono de restaurante afirmou, porém, que é preciso avisar com antecedência no caso de saques acima de mil euros.
A decisão do BCE fez o euro recuar 0,1% em Nova York, a US$ 1,2716, depois de ter avançado 0,2% pela manhã. Nas bolsas europeias, Londres caiu 0,60% e Frankfurt, 0,26%. Paris, no entanto, avançou 0,31%. Wall Street também refletiu a crise grega. O Dow Jones recuou 0,04%, e o Nasdaq, 0,58%.
Em editorial, o “Financial Times” afirma que a chave para a permanência da Grécia na zona do euro estaria nas mãos do BCE. Se este cortar definitivamente suas linhas de crédito para os bancos gregos, o sistema financeiro do país entrará em colapso, o que poderá arrastar outros bancos da zona do euro.
O presidente do BCE, Mario Draghi, disse ontem que prefere que a Grécia continue no euro, mas avisou que os termos do acordo de resgate não serão alterados. Já o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, disse que o povo grego é responsável por seu futuro, referindo-se às novas eleições, em 17 de junho. Teme-se a vitória da esquerda radical, que é contra as medidas de austeridade.
O colunista da agência de notícias Bloomberg Clive Crook afirmou que se a Grécia deixar a zona do euro “sua ruína terá sido em vão”. Ele disse que o colapso do país só serviria como exemplo para outras nações endividadas. E lembrou que as pessoas vão perguntar se Portugal, Espanha e Itália também não poderiam sair do euro também.

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