domingo, 20 de maio de 2012

MENCKEN - DEMOCRACIA (ÚLTIMAS PALAVRAS) PARTE FINAL


Confesso que, de minha parte, acho-a uma delícia.  Adoro imensamente a democracia.  Ela é incomparavelmente idiota e, por isto, tão divertida.  Ela não exalta os parvos, os covardes, os oportunistas, os pilantras e os blefes?  Sim, mas a tortura de vê-los subir na vida é compensada pela alegria de vê-los cair do galho.  A democracia não é perdulária, extravagante e desonesta?  É, como qualquer outra forma de governo: todas são inimigas dos homens decentes.  Não são os velhacos que a dirigem?  Sim, mas temos suportado esta velhacaria desde 1776 e continuamos sobrevivendo.  A longo prazo, pode ser que que a velhacaria seja uma necessidade inerradicável de qualquer governo e até da própria civilização - ou que, no fundo, a civilização não passa de um colossal calote.  Não sei.  Só sei que, quando os chupa-sangues estão se dando bem, o espetáculo fica hilariante.  Mas talvez eu seja um homem malicioso: quando se trata de chupa-sangues, minha simpatia por eles tende a ser tímida.  O que me intriga é como um homem que é a favor deles e se sente como eles pode acreditar em democracia, e até se compadece quando os vê expostos como um bando de sacanas.  Como um homem que é sinceramente democrata pode ser democrata?

Do Blog:
O texto acima foi escrito em 1926.
Extraído do "O Livro dos Insultos"
H.L.Mencken
Tradução: Ruy Castro
Editora: Cia das Letras
1996      

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