Jovem quer deixar Venezuela, diz pesquisa
48% dos que têm entre 18 anos e 24 anos migraria, se pudesse, segundo Datanálisis
FLÁVIA MARREIRO - FSP
Se pudessem, 34% dos venezuelanos deixariam o país governado por Hugo Chávez, um número que sobe a 48% se os entrevistados têm entre 18 anos e 24 anos de idade.
Os dados são do respeitado instituto venezuelano Datanálisis, parte de uma pesquisa em 1.000 domicílios feita em dezembro passado.
Entre os que mostram disposição de migrar, 12% dizem ter tomado algum passo concreto para tal. "Não se pode falar de magnitudes, mas os números mostram um desconforto no país, falam de falta de enraizamento", diz Luis Vicente León, do Datanálisis.
As duas pontas, a classe AB e E, têm cifras semelhantes.
Os mais pobres sonham em fazer dinheiro mesmo em atividades menos qualificadas lá fora. Entre os mais ricos, a violência é o motivo mais citado para ir ao aeroporto.
Embora não haja números oficiais, o consenso é de que é parte desse grupo com mais dinheiro que mais acaba levando adiante a intenção.
"É um dado relevante. Você pode ainda não materializar [o desejo de migrar], mas o país começa a perder mão de obra qualificada. Não consegue reter a geração que substituirá a nossa. É duro para a produtividade", afirma Vicente León.
VÍDEO POLÊMICO
Os números do Datanálisis aparecem quando o tema migratório entra de cheio no embate eleitoral, a menos de seis meses da disputa presidencial, em 7 de outubro.
Divulgado no começo do mês, o vídeo "Caracas, Cidade de Despedidas" mostra jovens de classe alta venezuelanos elencando seus motivos de incômodo na cidade e enumerando os amigos que deixaram o país.
As menções à violência -Caracas tem a maior taxa de homicídios da América do Sul, segundo a ONU- se unem a reclamações sobre os bueiros e sobre a suposta cafonice venezuelana.
"Caracas seria tão perfeito sem as pessoas", diz um jovem. "Aplaudem quando aterrissa o avião. Ai, não! Eu sou venezuelana", diz outra.
As declarações foram um prato cheio para os chavistas nas redes sociais e na TV estatal. O apresentador Miguel Pérez Pirela comparou os jovens ao candidato presidencial oposicionista, Henrique Capriles, "que só se sente bem no exterior". Chavistas fizeram paródias do vídeo.
O colunista Alonso Moleiro, do oposicionista "Tal Cual", comentou. Ele viu no vídeo "certa atitude riquinha irremediável que não termina de aprender a se aproximar com dignidade à compreensão da pobreza".
Mas defendeu o tema: a crise de violência é concreta "com elementos objetivos, facilmente comprováveis" e não será resolvida "equações ideológicas de manual".
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