quinta-feira, 17 de maio de 2012

PERSEGUIÇÃO A "FLAMBY" PROMETE SER SEM TRÉGUAS

Na internet, grupo anti-Hollande entrou em ação logo após a vitória do socialista
Samuel Laurent - Le Monde
Sem respiro para François Hollande: na internet, o “antihollandismo” está crescendo rapidamente.
Em um movimento similar ao que ocorreu em 2007 contra Nicolas Sarkozy, às 20h do dia 6 de maio parte do ciberativismo político francês entrou em “resistência”. Perfis no Twitter, blogs e sites que apoiavam Sarkozy decidiram, a partir da noite do segundo turno da eleição presidencial, exercer um dever de “vigilância” sobre o novo governo.
Castigados por um fim de campanha difícil, já no domingo os cibermilitantes da UMP não escondiam o pouco de consideração que tinham pelo novo chefe de Estado, muitas vezes apelidado de “Flamby” [marca francesa de pudim]: “#CouilleMolle [“bunda-mole”] no poder e as Bolsas caem. Coincidência? Acho que não”, tuitava Samuel Lafont, um dos líderes do movimento estudantil de direita UNI, após o segundo turno.
O antihollandismo não se limita ao Twitter. O site 24heuresactu.com, um dos pilares da “direitosfera”, também próximo da UMP sem ser oficialmente ligado a ela, fez diversas críticas, com artigos intitulados, por exemplo, “Bandeiras argelinas e gays: o comunitarismo é agora”.
Aparentemente sem uma organização, vários perfis no Twitter, páginas no Facebook e blogs de militantes ou simpatizantes mais modestos também repassavam a mensagem e a polêmica, de maneira humorística ou mais séria. Vários ataques anti-Hollande tiveram certa repercussão. Foi o caso da viagem Tulle-Paris do presidente eleito, realizada no domingo em dois aviões fretados para a ocasião, por um total de 30 mil euros pagos pelo Partido Socialista (PS). Um gasto comparado pelos sarkozystas à famosa festa no Fouquet’s, mesmo que na época a crítica fosse menos ao preço dessa noitada do que ao perfil dos convidados.
Amplamente divulgado na “direitosfera” já na noite de 6 de maio, antes de ser transmitido pela mídia tradicional, o argumento do custo do avião também foi rapidamente usado pela UMP e seu líder, Jean-François Copé, que no dia 10 de maio ironizava: “Viram nosso novo presidente comprando seus corn flakes no supermercado antes de ir pegar o Falcon --perdão, dois Falcons, e acho que havia um terceiro avião-- para ir a Paris.”
Ataques para todos os lados
Nessa mesma noite, a presença de bandeiras estrangeiras na praça da Bastilha, onde estavam reunidos os partidários do presidente eleito, irritou certos internautas, que postaram uma abundância de fotos, montagens e críticas: eles viram ali um paralelo com o direito de voto dos estrangeiros nas eleições locais e acusam Hollande de “comunitarismo”. O caso ainda foi retomado e comentado pela UMP, com Copé chegando a explicar que a escolha do slogan de seu partido para as legislativas, “Juntos, vamos escolher a França”, havia sido elaborado “partindo da imagem impressionante da Bastilha onde havia tantas bandeiras estrangeiras”.
Os argumentos do antihollandismo voltaram a aparecer na “reaçosfera” dos sites de extrema direita. Apesar de pouco afeitos a Sarkozy durante seu mandato, estes não pouparam críticas ao candidato do PS, publicando, por exemplo, montagens de fotos retratando François Hollande como um imame radical barbudo.
Assim como os anti-Sarkozy antes deles, os anti-Hollande não relaxam a vigilância por um segundo. O patrimônio de François Hollande, revelado no Diário Oficial? Seus ciberopositores denunciam imediatamente, seja pelo pouco de dinheiro em suas contas-correntes --para eles um sinal de má gestão--, seja por uma “subavaliação” do valor das partes pertencentes ao novo chefe de Estado em apartamentos em Cannes, mesmo que isso signifique esquecer que trata-se justamente de partes e não da totalidade dos mencionados apartamentos.
O mesmo vale para Valérie Trierweiler, a companheira do chefe de Estado, que tem sofrido críticas tanto por sua profissão quanto por sua personalidade ou seu patrimônio, e até os rumores mais improváveis. Tudo ou quase tudo é escândalo, abnegação ou traição. Quando o jornalista esportivo Pierre Salviac foi demitido da RTL após um tweet sobre Trierweiler considerado de mau gosto, alguns simpatizantes falaram em uma “limpeza” e fizeram a comparação com Stéphane Guillon e Didier Porte, humoristas anti-sarkozystas demitidos da rádio pública France Inter.
A altura de François Hollande também passa por ali, quase sempre como um lembrete das gozações sofridas por Nicolas Sarkozy a esse respeito. Já que um presidente as sofreu, por que seu sucessor escaparia delas?Sequelas de uma eleição presidencial por vezes violenta, essa ascensão do anti-hollandismo é um reflexo do anti-sarkozysmo de 2007. Na época, apoiadores de Ségolène Royal, militantes do PS, mas também blogueiros mais independentes haviam usado a internet como uma “contra-mídia”, divulgando sua oposição a Nicolas Sarkozy com as formas de humor que encontramos hoje, através de caricaturas e, às vezes, com uma certa agressividade.
Os anti-Hollande, que frequentemente defendiam Sarkozy até então, tiveram bons professores.
Tradutor: Lana Lim

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