Dilma e a maldição do Pibinho
Vinicius Torres Freire - FSP
Presidente sonhava com ritmo de crescimento 50% maior que o de Lula, mas pode ficar na média de FHC
LOGO NO início de seu governo, Dilma Rousseff e seus economistas diziam que a economia brasileira cresceria 5,9% na média dos quatro anos de mandato, entre 2011 e 2014. Em março do ano passado, a presidente afirmava "ter certeza" de que o país cresceria entre 4,5% e 5% em 2011. Cresceu 2,7%. Não deve andar muito mais rápido neste ano.
Para que o país cresça na média a 5,9% ao ano, o crescimento no biênio final do mandato, 2013-14, teria de acelerar para quase 9% ao ano. Trata-se de ritmo chinês, superior, porém, à meta que os próprios chineses se propõem para os próximos cinco anos. Não vai dar certo.
Mais recentemente, a meta anual de crescimento médio caiu para algo em torno de 4,5%. Para cumpri-la, a economia brasileira teria de crescer a 6% no ano da Copa das Confederações (2013) e repetir a dose no ano da Copa do Mundo, 2014, último ano do mandato dilmiano.
Qual o sentido de toda essa aritmética especulativa?
A disparidade entre o otimismo dos primeiros meses de mandato e a realidade ingrata é tanta quanto o alvoroço de Dilma diante do risco de mais Pibinhos. O governo voltou a matutar novas mágicas e milagres a fim de fazer o país sair do marasmo, coisas como reduzir o superavit primário e soltar as amarras da prudência nos bancos estatais.
Dilma e seus economistas imaginavam que o Brasil poderia crescer a um ritmo 50% mais rápido do que o da média dos anos Lula (4,1%), mas agora se angustiam com o pesadelo de repetir a média de Fernando Henrique Cardoso (2,9%).
Ou seja, o governo extrapolou os dados do passado para o futuro e extrapolou o otimismo. Subestimou o péssimo ambiente econômico mundial e subestimou a necessidade de implementar mudanças institucionais de que o país carece para crescer. Superestimou e ainda superestima o efeito que intervenções voluntaristas de curto prazo podem ter sobre a atividade econômica.
Não se trata de dizer que Dilma Rousseff e seus economistas sejam "culpados" pelo crescimento miúdo do primeiro biênio.
Para começo de conversa, o governo teve de tomar medidas para limpar os excessos do último ano de Lula: estímulos econômicos, crescimento e inflação acima do sustentável e do tolerável. O controle da inflação e a contenção do crescimento do gasto federal ajudaram a limitar o PIB do ano passado. Os excessos de consumo e no crédito limitam agora a capacidade de endividamento das famílias.
Em segundo lugar, Dilma governa em dias de tempo muito, muito ruim na economia mundial. A possibilidade, já algo remota, de que o Brasil crescesse 4% neste ano desvaneceu-se na poeira do mais recente tumulto europeu. A crise grega e a volta da crise bancária vão minar a confiança de empresários (o que redunda em menos investimento) e dificultar crédito e negócios internacionais de grandes empresas.
Dilma, pois, herdou problemas ruins. Pode ser, digamos, "inocentada" da acusação de legar dois anos de PIB ruim, de Pibinho. Mas pode ser acusada de se entregar à ansiedade voluntarista, de se arriscar a uma demasia de intervenções de curto prazo na economia e de não se dedicar a "reformas". Com o que pode solapar a capacidade de crescimento no próximo mandato. O seu ou o de outro presidente.
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