quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Análise: por que os italianos votam em Berlusconi?
Francesco Giumelli e Davide Maneschi* - IHT
Remo Casilli/Reuters

O candidato para ser pela quinta vez primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi
O candidato para ser pela quinta vez primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi
Acompanhar os resultados eleitorais na Itália é como assistir ao mesmo filme repetidas vezes, sempre esperando, sem sucesso, por um final diferente. Os espectadores saem fazendo a mesma pergunta: por que os italianos continuam votando em Silvio Berlusconi?
Certamente os italianos se importam com política, como os resultados da eleição desta semana podem testemunhar (o comparecimento dos eleitores foi próximo de 75%, em um momento de desencanto elevado com a política). Os estrangeiros têm dificuldade em entender por que um magnata da mídia, que levou a Itália para a beira da falência em 2011, que é acusado de fraude fiscal, ligações com a Máfia, que explorou prostitutas menores de idade e teve má conduta em cargo público, ainda consegue competir em pé de igualdade nas eleições nacionais. Mas os italianos não estão surpresos, por vários motivos.
Quarenta minutos após o fechamento das urnas e as primeiras pesquisas de boca-de-urna mostrarem o forte resultado do partido Povo da Liberdade, a empresa de mídia controlada pela família dele, a Mediaset, subiu 10% na bolsa de valores de Milão. Apesar do recuo no final da tarde, o desempenho foi simbólico do profundo emaranhamento da política italiana com os interesses econômicos e de mídia de Berlusconi.
Além de ser um dos homens mais ricos do país, as empresas de mídia de Berlusconi lhe dão influência em todos os aspectos da vida econômica italiana. A Freedom House classificou a Itália como o único país da Europa Ocidental com um imprensa "parcialmente livre".
Mas explicar a popularidade política de Berlusconi apenas por sua influência na mídia seria simplismo. O segundo motivo é o fato de várias pessoas se beneficiarem diretamente com sua vitória. Desde 1994, Berlusconi nutriu um amplo eleitorado entre empresários e indivíduos que se beneficiam com as regulações frouxas do governo.
Além disso, historicamente, os eleitores italianos sempre foram atraídos por homens fortes, um líder carismático capaz de resolver sozinho os problemas do país.
Isso aconteceu com Mussolini nos anos 20, mas a popularidade de outras figuras como o falecido primeiro-ministro socialista, Bettino Craxi, o falecido líder comunista, Enrico Berlinguer, e mais recentemente o humorista que virou político, Beppe Grillo, pode até certo ponto explicar o fascínio da Itália com a figura carismática que faz promessas de progresso e prosperidade. Os italianos consideram esses homens fortes atraentes, até mesmo quando burlam o processo democrático.
Com sua aparência sempre jovem, trajes elegantes e exibição de riqueza quase despudorada, Berlusconi se encaixa sem esforço na imagem de homem forte.
Por último, a Itália é uma nação que torce por um partido político tão cega e intensamente quanto torce pelo time favorito de futebol. Berlusconi, a propósito, é dono de um time de futebol, mas esse hábito está enraizado no longo confronto durante a Guerra Fria entre dois partidos políticos, os democratas-cristãos e os comunistas. Berlusconi na prática herdou os votos do Partido Democrata Cristão após seu colapso em meio a escândalos de corrupção.
Há, sem dúvida, outros motivos para o sucesso de Berlusconi na eleição geral, incluindo a falta de um líder carismático na centro-esquerda. Mas a resistência de Berlusconi no cenário político italiano nos últimos 20 anos vai mais fundo. Os fatores que levam os italianos a votarem em Berlusconi são os mesmos fatores que estão deixando a Itália fora de contato com a realidade e a levando a um declínio social, cultural e econômico.
Enquanto isso, a Europa e o restante do mundo aguardam em estado de perplexidade pelo fechamento do cinema.
*Francesco Giumelli é professor assistente de relações estrangeiras e estudos europeus na Universidade Metropolitana de Praga. Davide Maneschi é um membro com Ph.D. do departamento de desenvolvimento e planejamento da Universidade de Aalborg, na Dinamarca
Tradutor: George El Khouri Andolfato     

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