Supersafra represada
FSP -Editorial
Infraestrutura põe em risco distribuição e exportação de 185 milhões de toneladas de grãos; portos são só a ponta de um iceberg de ineficiência
A ninguém terá surpreendido a revelação, nesta Folha, da penca de irregularidades detectadas pela Presidência da República nas companhias Docas, estatais encarregadas de administrar 17 dos principais portos do país. Não é de hoje que se conhece a ineficiência dessas instalações, gargalo responsável por boa parte do custo Brasil.
Só no governo Dilma Rousseff foram necessários aportes de R$ 1,2 bilhão do Tesouro para sustentar essas companhias. Elas afirmam que os recursos são usados para ampliar e melhorar os portos, mas não se vislumbram resultados práticos dos supostos investimentos.
A incúria gerencial parece imperar. É o que sugerem os muitos casos de contratos firmados sem licitação e o desperdício de recursos públicos em obras -para dar dois exemplos das falhas encontradas pela Secretaria de Controle Interno da Presidência.
Para completar a equação do atraso, a contratação de portuários é controlada por guildas encasteladas nos Ogmos (órgãos gestores de mão de obra). Resultado: entre 142 países listados pelo Fórum Econômico Mundial, os portos do Brasil amargam um 130º lugar no ranking de eficiência.
Com uma supersafra de 185 milhões de toneladas de grãos e oleaginosas à vista, crescimento de 11% sobre o ano anterior, esse estrangulamento é mais que preocupante. E ele não está só nos portos: armazenamento e transporte também oneram o produto nacional.
Segundo o especialista em economia agrícola Marcos Sawaya Jank, o Brasil conta com silos para apenas 72% da safra de soja e milho, em contraste com 133% nos EUA (folga necessária para dar conta dos transbordos de cargas). Para que os grãos cheguem da lavoura ao porto, pagam-se aqui US$ 85 por tonelada, de acordo com a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais -enorme desvantagem diante dos US$ 23 nos EUA e dos US$ 20 na Argentina.
Mesmo assim, o país se tornou o primeiro produtor e exportador mundial de soja e o maior exportador de milho, o que dá uma boa medida da produtividade do agronegócio nacional. O setor contribui com um superavit de U$ 80 bilhões para a balança comercial.
No que respeita a armazenagem e transportes -rodovias em frangalhos, ferrovias insuficientes e hidrovias impraticáveis-, o governo federal mal se mexe. Parece ter despertado para a questão dos portos, com a liberalização prevista na medida provisória 595, mas enfrenta forte oposição na própria base de apoio parlamentar e sindical.
Neste caso, não há dúvida sobre onde está o interesse nacional. A dúvida é se a presidente Dilma terá firmeza para ficar do seu lado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário