Der Spiegel
Reuters
O ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi exibe cartaz com a relação das principais conquistas de seu governo (2001-2011) em sua residência em Roma, na Itália
Os investidores globais deixaram claro que o resultado eleitoral italiano não é do seu agrado, com a Moody's até mesmo ameaçando rebaixar a classificação do país. Os políticos europeus também não estão impressionados e temem que a crise do euro possa retornar em breve. Alguns comentários foram surpreendentemente não diplomáticos.
"Nós terminamos em primeiro, sem vencer." Foi assim que o Partido Democrático comandado por Pier Luigi Bersani resumiu na terça-feira os resultados da eleição italiana, que deixaram seu campo de centro-esquerda com a vantagem no Parlamento, mas sem força suficiente no Senado. O que ele não disse é que a maior derrotada pode nem mesmo estar na Itália. A maior derrotada pode ser a Europa e seus esforços para finalmente sair de anos de crise.
Essas preocupações foram acentuadas na terça-feira, à medida que os mercados financeiros e de ações de todo o mundo deixaram claro seu desconforto com o caos político na Itália resultante da eleição. E mais notícias ruins podem estar no horizonte. A agência de classificação de risco Moody's indicou na terça-feira que pode rebaixar a classificação de crédito de Roma após a eleição.
"Em vez de aumentar a clareza da direção política do país, as recentes eleições da Itália aumentaram o risco de que o momento da reforma estrutural obtido pelo governo de Mario Monti possa perder força ou ser interrompido", escreveu a Moody's em um relatório na terça-feira. A agência disse que rebaixaria o país de sua atual classificação Baa2 –apenas dois níveis acima do status de "junk" (especulativo)– caso os esforços de reforma percam força.
Não é uma preocupação pequena. O Movimento Cinco Estrelas do ex-humorista Beppe Grillo despontou como o partido individual mais forte na eleição, principalmente pela força de seu desdém pela classe política e sua retórica anti-União Europeia e antiausteridade. Silvio Berlusconi, apesar de ter perdido 4 milhões de eleitores em comparação ao seu resultado em 2008, recebeu uma votação surpreendentemente forte –devido em grande parte às suas próprias queixas contra a UE e, em particular, contra a chanceler da Alemanha, Angela Merkel.
'Dois palhaços'
Quando os principais políticos europeus finalmente recuperaram seu fôlego na terça-feira, as reações –alimentadas pela clara preocupação de que a estagnação política em Roma possa reacender a crise do euro– foram duras.
"Em certo grau, eu estou horrorizado por dois palhaços terem vencido a eleição", disse Peer Steinbrück, o ex-ministro das Finanças da Alemanha e candidato social-democrata a chanceler nas eleições deste ano, na noite de terça-feira, referindo-se a Berlusconi e Grillo. Ele disse que a votação "contribuirá para mais problemas na zona do euro". O presidente italiano, Giorgio Napolitano, em visita à Alemanha, cancelou prontamente o encontro planejado com Steinbrück em consequência do comentário.
Mas o ministro das Relações Exteriores alemão, Guido Westerwelle, expressou as preocupações profundas na terça-feira, dizendo aos repórteres em Berlim que "agora é decisivo para a Itália, por ser um país muito importante para toda a Europa, que um governo estável e eficaz possa ser formado o mais rápido possível".
O ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, acrescentou que "o ônus agora recai sobre os líderes políticos na Itália (...) para fazerem o que o país precisa, que é formar um governo estável que dê continuidade ao caminho bem-sucedido de reformas".
De fato, vários europeus importantes pediram a Roma na terça-feira para que dê continuidade às reformas promovidas pelo primeiro-ministro Mario Monti, o líder tecnocrata que assumiu após a queda de Silvio Berlusconi em 2011. Mas o partido de Monti sofreu uma dura derrota na eleição, recebendo parcos 10% dos votos –em um sinal claro de que há pouco apetite na Itália para mais austeridade.
Alucinação do mercado
"Eu presumo que o governo italiano, independente de como venha a ser composto, manterá seus compromissos europeus", disse o ministro das Finanças holandês, Jeroen Dijsselbloem, que também é chefe do Grupo do Euro, na terça-feira, acrescentando que "não há satisfação" após a eleição. "Um governo estável é importante para a zona do euro. Para que a Europa possa ser retirada do atoleiro econômico, estabilidade política é necessária, também na Itália", ele disse.
O ministro das Relações Exteriores espanhol, José Manuel García-Margallo, foi menos diplomático. O resultado, ele disse, "foi um salto para lugar nenhum com consequências positivas para ninguém".
Os mercados deixaram claro na terça-feira que os investidores compartilham essas preocupações em relação à Itália. O índice do mercado de ações em Roma despencou 5% e os negócios envolvendo algumas ações de bancos tiveram que ser suspensos devido à forte queda de seus preços. As taxas de juros para os títulos da dívida de 10 anos, o canário na mina de carvão da crise do euro, subiram para 4,83% antes de uma oferta de dívida na quarta-feira. Os mercados europeus e globais também sofreram na terça-feira, com o DAX da Alemanha perdendo 2,3%.
Mas isso dificilmente impressionará os principais populistas da Itália. Berlusconi desconsiderou a preocupação dos investidores na terça-feira, dizendo que "os mercados seguem na direção que eles querem. Eles são independentes e também um pouco malucos". E Grillo? Durante a campanha, ele chamou os spreads dos títulos da dívida de uma "alucinação".
Ele também pareceu apreciar a perturbação econômica, dizendo que ela forçará novas eleições. Qualquer coalizão possível entre Bersani e Berlusconi, ele disse na terça-feira, duraria apenas "sete, oito meses. A economia não os deixará escapar".
Tradutor: George El Khouri Andolfato
O ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi exibe cartaz com a relação das principais conquistas de seu governo (2001-2011) em sua residência em Roma, na Itália
Os investidores globais deixaram claro que o resultado eleitoral italiano não é do seu agrado, com a Moody's até mesmo ameaçando rebaixar a classificação do país. Os políticos europeus também não estão impressionados e temem que a crise do euro possa retornar em breve. Alguns comentários foram surpreendentemente não diplomáticos.
"Nós terminamos em primeiro, sem vencer." Foi assim que o Partido Democrático comandado por Pier Luigi Bersani resumiu na terça-feira os resultados da eleição italiana, que deixaram seu campo de centro-esquerda com a vantagem no Parlamento, mas sem força suficiente no Senado. O que ele não disse é que a maior derrotada pode nem mesmo estar na Itália. A maior derrotada pode ser a Europa e seus esforços para finalmente sair de anos de crise.
Essas preocupações foram acentuadas na terça-feira, à medida que os mercados financeiros e de ações de todo o mundo deixaram claro seu desconforto com o caos político na Itália resultante da eleição. E mais notícias ruins podem estar no horizonte. A agência de classificação de risco Moody's indicou na terça-feira que pode rebaixar a classificação de crédito de Roma após a eleição.
"Em vez de aumentar a clareza da direção política do país, as recentes eleições da Itália aumentaram o risco de que o momento da reforma estrutural obtido pelo governo de Mario Monti possa perder força ou ser interrompido", escreveu a Moody's em um relatório na terça-feira. A agência disse que rebaixaria o país de sua atual classificação Baa2 –apenas dois níveis acima do status de "junk" (especulativo)– caso os esforços de reforma percam força.
Não é uma preocupação pequena. O Movimento Cinco Estrelas do ex-humorista Beppe Grillo despontou como o partido individual mais forte na eleição, principalmente pela força de seu desdém pela classe política e sua retórica anti-União Europeia e antiausteridade. Silvio Berlusconi, apesar de ter perdido 4 milhões de eleitores em comparação ao seu resultado em 2008, recebeu uma votação surpreendentemente forte –devido em grande parte às suas próprias queixas contra a UE e, em particular, contra a chanceler da Alemanha, Angela Merkel.
'Dois palhaços'
Quando os principais políticos europeus finalmente recuperaram seu fôlego na terça-feira, as reações –alimentadas pela clara preocupação de que a estagnação política em Roma possa reacender a crise do euro– foram duras.
"Em certo grau, eu estou horrorizado por dois palhaços terem vencido a eleição", disse Peer Steinbrück, o ex-ministro das Finanças da Alemanha e candidato social-democrata a chanceler nas eleições deste ano, na noite de terça-feira, referindo-se a Berlusconi e Grillo. Ele disse que a votação "contribuirá para mais problemas na zona do euro". O presidente italiano, Giorgio Napolitano, em visita à Alemanha, cancelou prontamente o encontro planejado com Steinbrück em consequência do comentário.
Mas o ministro das Relações Exteriores alemão, Guido Westerwelle, expressou as preocupações profundas na terça-feira, dizendo aos repórteres em Berlim que "agora é decisivo para a Itália, por ser um país muito importante para toda a Europa, que um governo estável e eficaz possa ser formado o mais rápido possível".
O ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, acrescentou que "o ônus agora recai sobre os líderes políticos na Itália (...) para fazerem o que o país precisa, que é formar um governo estável que dê continuidade ao caminho bem-sucedido de reformas".
De fato, vários europeus importantes pediram a Roma na terça-feira para que dê continuidade às reformas promovidas pelo primeiro-ministro Mario Monti, o líder tecnocrata que assumiu após a queda de Silvio Berlusconi em 2011. Mas o partido de Monti sofreu uma dura derrota na eleição, recebendo parcos 10% dos votos –em um sinal claro de que há pouco apetite na Itália para mais austeridade.
Alucinação do mercado
"Eu presumo que o governo italiano, independente de como venha a ser composto, manterá seus compromissos europeus", disse o ministro das Finanças holandês, Jeroen Dijsselbloem, que também é chefe do Grupo do Euro, na terça-feira, acrescentando que "não há satisfação" após a eleição. "Um governo estável é importante para a zona do euro. Para que a Europa possa ser retirada do atoleiro econômico, estabilidade política é necessária, também na Itália", ele disse.
O ministro das Relações Exteriores espanhol, José Manuel García-Margallo, foi menos diplomático. O resultado, ele disse, "foi um salto para lugar nenhum com consequências positivas para ninguém".
Os mercados deixaram claro na terça-feira que os investidores compartilham essas preocupações em relação à Itália. O índice do mercado de ações em Roma despencou 5% e os negócios envolvendo algumas ações de bancos tiveram que ser suspensos devido à forte queda de seus preços. As taxas de juros para os títulos da dívida de 10 anos, o canário na mina de carvão da crise do euro, subiram para 4,83% antes de uma oferta de dívida na quarta-feira. Os mercados europeus e globais também sofreram na terça-feira, com o DAX da Alemanha perdendo 2,3%.
Mas isso dificilmente impressionará os principais populistas da Itália. Berlusconi desconsiderou a preocupação dos investidores na terça-feira, dizendo que "os mercados seguem na direção que eles querem. Eles são independentes e também um pouco malucos". E Grillo? Durante a campanha, ele chamou os spreads dos títulos da dívida de uma "alucinação".
Ele também pareceu apreciar a perturbação econômica, dizendo que ela forçará novas eleições. Qualquer coalizão possível entre Bersani e Berlusconi, ele disse na terça-feira, duraria apenas "sete, oito meses. A economia não os deixará escapar".
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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