Reinaldo Azevedo - VEJA
Vi na TV o pai da jovem que é amante de um padre e da menina que teria sido molestada pelo dito religioso. Você imaginou um sujeito humilde, que mal consegue se expressar, sendo esmagado pela ignorância, enganado por um daqueles padres safados de Eça de Queiroz (escrevo com “Z” porque Eça foi registrado com “Z” e assinava com “Z”)? Você pensou, assim, num pobre coitado, um Fabiano de “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, só que urbano, de quem a miséria tirou tudo, até as palavras? Errou! O tal pai fala com todos os erres e os esses. Seu problema, definitivamente, não é a humildade ou a ignorância. Ele parece até muito esperto. Dá para entender por que, ao saber que a filha de 15 mantinha relações sexuais com o padre, em vez de chamar a Polícia e denunciá-lo, recomendou que ela filmasse as transas. E depois demorou quatro anos para denunciar. O padre presenteava a sua amante, agora com 19 anos, com presentes caros.
Idiota o pai não é! E sabe que relações consensuais, como as filmadas, devem tirar o padre da Igreja, mas não mandá-lo para a cadeia. Já a acusação de que ele teria tocado as partes íntimas de uma criança então com sete anos é caracterizada, na lei brasileira, como “estupro de vulnerável”. Agora, é a palavra do padre, com o histórico dado, contra a da menina e de seu pai.
Acreditem! O pai mostra a cara e dá entrevistas, expondo as filhas — que têm vizinhos, colegas na escola, professores… Exibia o CD como quem expõe um troféu. No que concerne à Igreja, que esse padre seja expulso imediatamente. No que diz respeito à esfera criminal, que se faça a difícil apuração. Mas as coisas não para por aí. Cumpre indagar se este senhor tem condições de ser o responsável legal— ou corresponsável — por uma menor de 10 anos. Que pai, movido por qual espírito, expõe uma filha a um constrangimento desse?
É curioso, não? O Estatuto da Criança e do Adolescente impede que se publique a foto de um assassino de 15, 16, 17 anos. Mas é omisso numa situação como essa: indiretamente, é evidente, a criança foi exposta. Não foi exibida no vídeo ou na rede, mas estará, a partir de amanhã, submetida a toda sorte de constrangimentos. Espero que o Ministério Público se interesse por um caso como esse.
Nessa história toda, a única vítima, ainda que seja falsa a acusação de molestamento, é essa criança de 10 anos.
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