Francine Aizicovici - Le Monde
Orestis Panagiotou/EFE
Homem desempregado toca violino
Não há mais um ruído, nem odores, nem vozes na oficina da fábrica Fralib, em Gémenos (departamento de Bouches-du-Rhône, sul da França). A matriz, Unilever, parou a produção de chá Lipton e das infusões Eléphant no verão de 2011, para desloca-la para a Bélgica e a Polônia. No entanto, os assalariados demitidos em maio de 2012 continuam ali, presentes.
"Eu trabalhava lá em 3x8", explica com tristeza Rime, uma ex-operadora de máquina. "Havia barulho, pessoas ao redor, vida. Eu gostava do meu trabalho e sobretudo dos meus colegas. Fomos obrigados a parar. Me faz mal voltar a ver minha máquina." Entretanto, ela se agarra ao projeto de retomada de atividade sob a forma de cooperativa, apresentado há mais de dois anos por 72 ex-empregados. Seu nome: Sociedade Cooperativa Operária Provençal de Chás e Infusões (SCOP T.I. na sigla em francês).
Mas por enquanto todos esperam a decisão que deverá dar nesta quinta-feira (28) o Tribunal de Apelação de Aix-en-Provence sobre o pedido de anulação do procedimento de demissão coletiva, em nome de "irregularidades". Uma vitória dos Fralib implicaria a reintegração do pessoal...
"Ela também poderia servir para pressionar a Unilever", segundo Yannick Vandendriessche, um ex-empregado, para que aceite dois elementos apresentados como essenciais no lançamento da cooperativa: a cessão da marca Eléphant e a concessão de volumes de produção nos primeiros anos. E disso o grupo anglo-holandês não quer ouvir falar.
No entanto, as coisas se mexem do lado dos Fralib. Agora trata-se de obter "a marca Eléphant e/ou os volumes de produção", explica Olivier Leberquier, delegado do sindicato CGT. "Temos de discutir." Eugène Caselli, presidente da comunidade urbana Marselha-Provença-Metrópole, que adquiriu os locais no verão de 2012, sugeriu adotar a marca Fralib, "que hoje é tão conhecida quanto Eléphant, graças à luta que os assalariados travaram e popularizaram. Mas o que é absolutamente preciso obter são os volumes". Enquanto esperam, os Fralib se posicionam para estar prontos para lançar sua cooperativa.
Um diretor operacional foi encontrado, e sócios também. Os 72 ex-assalariados - de um efetivo original de 182 - vão ao local em turnos, dia e noite, para manter o equipamento de produção em condições de funcionamento e burilar seu projeto. Muitos seguiram cursos técnicos (segurança-prevenção, informática, qualidade, etc.) durante seu aviso prévio (4 a 9 meses).
Seu combate, que já dura dois anos, os esgotou. A vida familiar foi "colocada entre parênteses", o que provocou "desequilíbrios", como diz timidamente Amar. "E não estou falando das depressões", murmura Rime, para quem "a Unilever deve pagar não somente pela perda de nossos empregos, mas também por ter tumultuado nossas vidas". Também há a angústia de ver chegar o fim do aviso prévio, entre abril e julho, conforme os casos. Mas eles aguentam o golpe.
Agora, não lhes pergunte se não poderiam ter pegado o cheque de indenização e procurado trabalho em outro lugar. Isso os irrita.
"Nós lutamos pelo emprego", responde François Collatrelle, um assalariado, surpreendendo-se de que "as pessoas não achem isso normal" e falem deles como se fossem radicais. "A Unilever não está falindo!", eles dizem.
"Se fosse tão fácil encontrar trabalho, não nos cansaríamos lutando", afirma Leberquier. "A cooperativa", continua Rime, "é também para deixarmos alguma coisa para trás, para firmar os empregos, para não fazer como as multinacionais que se desinvestem para obter mais lucros."
Durante a campanha presidencial, em 2011, François Hollande e Arnaud Montebourg vieram dar seu apoio ao projeto. Este último chegou a evocar a possibilidade de "tomar posse da marca" Eléphant. Os dois não dão mais notícias hoje.
Os Fralib, que deveriam reencontrar o presidente da República em pouco tempo, ainda esperam esse encontro. "Eu acho que o governo nos abandonou", afirma Vandendriessche. "Não tenho mais confiança. Votei em Hollande para salvar a fábrica. Mas ele não pode ou não quer fazer nada."
Não é a opinião de Leberquier: "Eu sempre pensei que a primeira ação era derrubar Sarkozy, mas que isso não solucionaria tudo. Podemos entender que esse caso não é simples. E também continuamos a lutar para ajudar o governo a cumprir suas promessas".
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Homem desempregado toca violino
Não há mais um ruído, nem odores, nem vozes na oficina da fábrica Fralib, em Gémenos (departamento de Bouches-du-Rhône, sul da França). A matriz, Unilever, parou a produção de chá Lipton e das infusões Eléphant no verão de 2011, para desloca-la para a Bélgica e a Polônia. No entanto, os assalariados demitidos em maio de 2012 continuam ali, presentes.
"Eu trabalhava lá em 3x8", explica com tristeza Rime, uma ex-operadora de máquina. "Havia barulho, pessoas ao redor, vida. Eu gostava do meu trabalho e sobretudo dos meus colegas. Fomos obrigados a parar. Me faz mal voltar a ver minha máquina." Entretanto, ela se agarra ao projeto de retomada de atividade sob a forma de cooperativa, apresentado há mais de dois anos por 72 ex-empregados. Seu nome: Sociedade Cooperativa Operária Provençal de Chás e Infusões (SCOP T.I. na sigla em francês).
Mas por enquanto todos esperam a decisão que deverá dar nesta quinta-feira (28) o Tribunal de Apelação de Aix-en-Provence sobre o pedido de anulação do procedimento de demissão coletiva, em nome de "irregularidades". Uma vitória dos Fralib implicaria a reintegração do pessoal...
"Ela também poderia servir para pressionar a Unilever", segundo Yannick Vandendriessche, um ex-empregado, para que aceite dois elementos apresentados como essenciais no lançamento da cooperativa: a cessão da marca Eléphant e a concessão de volumes de produção nos primeiros anos. E disso o grupo anglo-holandês não quer ouvir falar.
No entanto, as coisas se mexem do lado dos Fralib. Agora trata-se de obter "a marca Eléphant e/ou os volumes de produção", explica Olivier Leberquier, delegado do sindicato CGT. "Temos de discutir." Eugène Caselli, presidente da comunidade urbana Marselha-Provença-Metrópole, que adquiriu os locais no verão de 2012, sugeriu adotar a marca Fralib, "que hoje é tão conhecida quanto Eléphant, graças à luta que os assalariados travaram e popularizaram. Mas o que é absolutamente preciso obter são os volumes". Enquanto esperam, os Fralib se posicionam para estar prontos para lançar sua cooperativa.
Um diretor operacional foi encontrado, e sócios também. Os 72 ex-assalariados - de um efetivo original de 182 - vão ao local em turnos, dia e noite, para manter o equipamento de produção em condições de funcionamento e burilar seu projeto. Muitos seguiram cursos técnicos (segurança-prevenção, informática, qualidade, etc.) durante seu aviso prévio (4 a 9 meses).
Seu combate, que já dura dois anos, os esgotou. A vida familiar foi "colocada entre parênteses", o que provocou "desequilíbrios", como diz timidamente Amar. "E não estou falando das depressões", murmura Rime, para quem "a Unilever deve pagar não somente pela perda de nossos empregos, mas também por ter tumultuado nossas vidas". Também há a angústia de ver chegar o fim do aviso prévio, entre abril e julho, conforme os casos. Mas eles aguentam o golpe.
Agora, não lhes pergunte se não poderiam ter pegado o cheque de indenização e procurado trabalho em outro lugar. Isso os irrita.
"Nós lutamos pelo emprego", responde François Collatrelle, um assalariado, surpreendendo-se de que "as pessoas não achem isso normal" e falem deles como se fossem radicais. "A Unilever não está falindo!", eles dizem.
"Se fosse tão fácil encontrar trabalho, não nos cansaríamos lutando", afirma Leberquier. "A cooperativa", continua Rime, "é também para deixarmos alguma coisa para trás, para firmar os empregos, para não fazer como as multinacionais que se desinvestem para obter mais lucros."
Durante a campanha presidencial, em 2011, François Hollande e Arnaud Montebourg vieram dar seu apoio ao projeto. Este último chegou a evocar a possibilidade de "tomar posse da marca" Eléphant. Os dois não dão mais notícias hoje.
Os Fralib, que deveriam reencontrar o presidente da República em pouco tempo, ainda esperam esse encontro. "Eu acho que o governo nos abandonou", afirma Vandendriessche. "Não tenho mais confiança. Votei em Hollande para salvar a fábrica. Mas ele não pode ou não quer fazer nada."
Não é a opinião de Leberquier: "Eu sempre pensei que a primeira ação era derrubar Sarkozy, mas que isso não solucionaria tudo. Podemos entender que esse caso não é simples. E também continuamos a lutar para ajudar o governo a cumprir suas promessas".
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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