quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Jogo alemão que premia destruição de câmeras de vigilância ganha escala global
Criado em Berlim, o Camover atravessou o Atlântico e chegou aos EUA; inutilizar câmeras com mais criatividade vale pontos extras
Roberto Almeida - OM

Um grupo de anarquistas alemães criou, no início do ano, um concurso polêmico. Eles decidiram premiar quem conseguisse destruir o maior número de câmeras de circuito fechado com “mais criatividade”. O jogo, intitulado Camover, começou em Berlim como protesto contra o Congresso Europeu de Polícias, realizado nos dias 19 e 20 de fevereiro, e se espalhou rapidamente pela Europa.
Na semana passada, a vigilância em alta definição do metrô de Bruxelas foi o alvo dos “jogadores”. Logo em seguida, com as primeiras câmeras destruídas nos EUA, o jogo-protesto atingiu uma escala global e passou a ser tratado como “febre” nas redes sociais. Usuários trocam dicas e recomendações para destruir as câmeras sem serem pegos pela polícia e espalham fotos das que conseguiram “capturar”.
O primeiro vídeo, que deu origem ao movimento, foi publicado em janeiro. Nele, anarquistas alemães, usando máscaras e vestidos de preto, entram no metrô de Berlim, “cegam” as lentes das câmeras e deixam o nome do jogo como recado nas paredes. O slogan do movimento anti-câmeras é “Freiheit sterbt mit Sicherheit”, ou “A Liberdade morre com a Segurança.”

“As câmeras são reflexo de uma sociedade cujos membros perderam o controle de suas próprias vidas. Com a maneira que o extremismo islâmico é percebido, turbinado ridiculamente pela mídia, eles pedem, em sua histeria, que mais câmeras sejam instaladas”, escreve o movimento em seu site, camover.noblogs.org.
“É bastante óbvio para pessoas racionais que as câmeras não previnem o crime, mas políticos e a indústria da vigilância tiram vantagem da situação para instalar outras, mais novas e melhores câmeras em lugares públicos”, afirma. “Softwares para monitorar imagens em alta resolução, que analisam rostos e movimentos, já existem e estão sendo implementados. Qualquer um que se sinta mais seguro por causa disso é louco.”
Como justificativa “intelectual”, o movimento adota o estudo dos criminologistas Clive Norris e Gary Armstrong, da Universidade de Hull, no Reino Unido. Eles concluem pela ineficácia das câmeras no combate ao crime.
Reprodução
“O olhar das câmeras não atinge igualmente todos os pedestres, mas aqueles que são predefinidos estereotipicamente como potencialmente desviantes”, dizem os especialistas. “Desta forma, jovens, particulamente aqueles socialmente e economicamente à margem, podem estar sujeitos a níveis ainda mais altos de intervenção autoritária e estigmatização oficializada.”
Perguntado se não estaria apenas destruindo patrimônio e desperdiçando o dinheiro do contribuinte, um dos membros do movimento disse à revista Vice que “quem desperdiça o dinheiro é o governo quando instala mais câmeras”. “Nós inevitavelmente vamos derrubá-las, certo?”, afirmou.
Além de Bruxelas e Berlim, ações dos grupos foram registradas em Nuremberg, Magdeburg, em Helsinki, na Finlândia, e em Puget Sound, nos Estados Unidos. Circulam na internet vídeos de ataques a câmeras também no Reino Unido e em Atenas, na Grécia. O site em que os vídeos dos ataques eram publicados (camover.blogsport.de) está fora do ar.

Nenhum comentário: