Harold Thibault - Le Monde
Reuters
Terminado o feriado do Ano Novo chinês, a estação central de Xangai despejou na segunda-feira (25) um fluxo incessante de trabalhadores migrantes, que estão voltando para as fábricas.
Com uma trouxa de roupas por cima do ombro, Wang Dongfang, 37, desembarca com três colegas de seu vilarejo em Henan, província rural do centro. Ele busca um salário aceitável, mesmo não tendo especialização. Ele espera ganhar 6 mil yuans (R$1.890) por mês, incluindo horas extras nos finais de semana.
É bastante, mas não impossível, segundo ele, se conseguir um salário base fixo de 4 mil yuans (R$1.270) mensais para a semana regulamentar de 40 horas. Se ele encontrar um de somente de 3 mil yuans (R$958) não valerá a pena, será melhor voltar a viver com sua família.
Chen Hong, a diretora de recursos humanos da Fangda, empresa especializada na produção de painéis para fachadas de prédios, situada no distrito industrial de Jinshan, a uma hora de carro, foi até a estação na esperança de encontrar uma centena de operários.
"Há muito poucos candidatos, pois os salários estão aumentando rapidamente em toda parte", reconhece Chen, que oferece 2.500 yuans por mês, além de um bônus adiantado e plano de saúde.
Ao seu lado, a empresa Rogy chama atenção para as fotos da cantina limpa e dos dormitórios, que acomodam somente seis operários.
O governo do distrito de Jinshan tomou a iniciativa de organizar essa pequena feira de empregos na saída dos trens. As oficinas de costura e fábricas de eletrônicos que se instalaram lá não conseguiam encontrar mão de obra.
Elas precisam oferecer melhores salários no momento em que as perspectivas de exportação estão mornas, sobretudo na Europa, conta Xu, um funcionário público do distrito encarregado das relações com as empresas.
"Paralelamente, pedimos a eles que elevem o nível dos produtos, o que requer que sejam reservados fundos para investir em tecnologia. Tudo com uma exigência que é a mesma que vocês encontram na França, garantir a segurança nos empregos", diz Xu.
Dependendo do ponto de vista - do empregador ou do empregado - ou a mão de obra chinesa se tornou bem exigente, ou ela só está recebendo o que lhe era devido. Ela bate de frente com a competitividade pelo preço, que fez o sucesso das fábricas do país durante três décadas, algo que preocupa os patrões.
Para Yin Xingmin, professor de economia industrial na Universidade de Fudan em Xangai, os aumentos atuais não passam de um reajuste, pois o trabalhador chinês é mais produtivo que o do Sudeste Asiático, por exemplo.
"Os operários migrantes passaram nove anos na escola devido à escolarização obrigatória, e muitos chegaram até o fim do colegial, o que soma 12 anos. A China está efetuando sua transição para uma mão de obra semi-qualificada, seus salários devem acompanhar sua produtividade", explica o professor Yin.
A multiplicação das greves, desde a emblemática paralisação nas cadeias de produção da Honda em maio de 2010, levou as fábricas a elevarem regularmente os salários.
Cada região tem seu próprio salário mínimo, de acordo com seu nível de desenvolvimento: de 1.500 yuans na avançadíssima Shenzen, ao norte de Hong Kong, até 870 yuans na mais pobre Jiangxi.
A meta do governo central é um aumento anual de 13% em média até 2015. Há disparidades: a província pobre de Gansu aumentou o salário mínimo em 30% no ano de 2012. O futuro primeiro-ministro, Li Keqiang, que assumirá o cargo em março, promete para 2020 uma sociedade de "xiaokang", a "prosperidade modesta", na qual não falta nada, mas também não se vive com opulência.
Aumentando as rendas, a China poderá contar mais com seu consumo interno. Ela está se aproximando do "fordismo", constata Yin Xinming, ainda que a redução dos custos de produção tenha envelhecido a doutrina do industrial americano, segundo a qual o operário deveria um dia poder comprar um Ford T que ele montava.
Quase todos os operários da Foxconn (grupo taiwanês terceirizado pela Apple) podem comprar um smartphone, mas raramente um iPhone. Se toda a família contribuir, o professor Yin acredita que os operários poderão efetuar sua grande migração anual para seu automóvel próprio até o fim da década, em vez de se espremerem em um trem.
Esse economista conseguiu comprar um Volkswagen Passat dez anos atrás. Qual não foi seu espanto quando a secretária do serviço estacionou, há três anos, um modelo parecido com o seu na vaga reservada até então aos professores ...
O operário Wang Dongfang não acredita que sua família chegará a esse nível com ele em vida. Na melhor das hipóteses ela viverá em um apartamento, no lugar de uma casinha. Por enquanto, todo mês ele enviará o dinheiro que vai alimentar sua filha de quatro anos, seu filho de 14 anos e seus próprios pais.
É claro, suas exigências aumentaram. Em 2000, ele havia aceito um trabalho em Xangai a 900 yuans por mês. Hoje, ele só trabalha por quatro vezes mais. "O custo de vida não parou de aumentar desde então, o salário ainda não permite pagar todas as contas", ele acredita. "É só o que espero!"
Tradutor: Lana Lim
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