BBC - Brasil
Deu no Financial Times: o Brasil é "o país mais empolgante do mundo". Ao menos foi o que defendeu a última edição da revista semanal desse diário econômico britânico, com a manchete Aí vem o Brasil e artigos que tratam de temas ligados ao boom da classe C brasileira.
A realidade, porém, é que desde 2012 ficou mais difícil encontrar quem partilha dessa "empolgação" nos mercados e na imprensa internacional. "Após um período de quase euforia com o Brasil no exterior, por volta de 2009 e 2010, as percepções sobre o país parecem ter sido ajustadas com a decepção gerada pelo desaquecimento da economia", diz Daniel Buarque, jornalista e autor do livro Brasil, um país do presente: A imagem internacional do "país do futuro" (Ed. Alameda), que será lançado no dia 7.
Segundo um levantamento feito a pedido da BBC Brasil pelo consultor Simon Anholt, responsável por um ranking dos países mais admirados do mundo pelo público em geral, em 2012 houve uma queda até na pontuação do Brasil na pesquisa, de 57,91 para 57,86 (de um total de 70 pontos).
Mesmo o FT em sua cobertura diária tem adotado um tom bastante cético e crítico sobre o manejo da economia brasileira desde que o PIB desacelerou dos 7,5%, de 2010, para os 1,6%, de 2012. E a revista britânica The Economist chegou a chamar a economia do país de "criatura moribunda".
A novidade que parece refletida no especial sobre o Brasil do jornal britânico, porém, é que um grupo cada vez maior de observadores externos tem enfatizado que, em meio a esses altos e baixos, é preciso mais "realismo" nas análises sobre o país - e, principalmente, é preciso separar entre as perspectivas de longo e de curto prazo para sua economia.
Ajuste
"Precisamos marcar bem a diferença entre a perspectiva do mercado financeiro e a dos que fazem investimentos diretos e apostam na economia real", enfatiza Richard Lapper, diretor do Brazil Confidential, o serviço de análises sobre o Brasil do Financial Times.
Ele diz que, para os investidores de curto prazo, a queda dos juros, as incertezas sobre a inflação e o fato de que a economia brasileira está crescendo menos que a de países como o México reduziram bastante a atratividade do país.
"Já para o investidor direto, de longo prazo, o Brasil continua a ser um mercado atraente - e foi para essas tendências mais duradouras que olhamos na nossa revista: o desemprego está em níveis historicamente baixos, há estabilidade econômica e política e o consumo continua aquecido com a expansão da classe C, especialmente em alguns setores."
Lapper nota que, apesar da desaceleração do PIB, o volume de investimentos diretos estrangeiros no Brasil permaneceu robusto no ano passado - por volta de US$60 bilhões. O desemprego também foi uma surpresa positiva: ficou em 5,4% em janeiro, o menor para o mês desde o início da série histórica, em 2002.
"Quando o assunto é Brasil é preciso cuidado para distinguir o que é notícia e o que é barulho", opina o criador do termo BRIC, Jim O'Neill, que vem sendo questionado sobre se o País deve ser mantido no grupo das "nações emergentes" mesmo crescendo a um ritmo inferior a China, Rússia e Índia.
Novo 'status'
O'Neill diz acreditar que embora no curto prazo os dados sobre o PIB brasileiro ainda devam decepcionar, as "tendências demográficas e sociais" que sustentam as boas perspectivas para o País e sua mudança de status global são "consistentes".
"É preciso pensar no longo prazo para o Brasil: ainda acho que o país pode muito bem crescer de 4% a 5% ao ano na década", opina.
Para Anthony Pereira, diretor do Instituto Brasil da King's College London, é natural que haja suspeitas sobre a sustentabilidade do crescimento brasileiro, até por uma questão de precedentes históricos: o "milagre econômico" dos anos 70 descambou na pior crise da história do país, nos anos 80.
"Mas uma perspectiva histórica também dá a medida de quão sólidos são os avanços em termos sociais e institucionais, na conquista de estabilidade econômica e política", diz Pereira.
"Os velhos desafios são conhecidos: o Brasil ainda precisa avançar na questão da educação, infraestrutura e burocracia. Mas a decepção também é consequência de um aumento das expectativas - não dá para querer que o país cresça como a Índia, onde a proporção da população rural ainda é equivalente a do Brasil nos anos 60."
Imagem externa
As percepções externas sobre um país importam por uma série de razões, segundo Anholt. No campo econômico, uma boa reputação pode ajudar a atrair investimentos, e impulsionar os fluxos de comércio e turismo.
"Antes de fazer um investimento direto, por exemplo, empresários calculam qual seria a dificuldade para se convencer funcionários-chave a viver naquele lugar", diz o consultor.
Uma melhoria de 10% nos índices gerais de aprovação de um país, calculado por Anholt com base em 38 mil entrevistas, resultaria em um crescimento de 11% na chegada de turistas a seu território. E a correlação seria semelhante para o crescimento das exportações.
"Se um país se torna sinônimo de qualidade, pode cobrar mais por seus produtos. Consumidores tendem a pagar mais caro por um celular japonês que por um aparelho produzido em outro país asiático, por exemplo."
No caso do Brasil, Anholt enfatiza que, apesar de o país ter deixado de ser a menina dos olhos da imprensa e mercados internacionais, a mudança em sua imagem entre o público em geral foi pequena e o país permaneceu na 20ª posição no ranking das nações mais admiradas do globo.
Por outro lado, mesmo durante o período em que o Brasil esteve "na moda", também avançou pouco - subindo apenas uma posição em 2009.
"No geral, o Brasil ainda está associado a festa, futebol e carnaval. É um país que todo mundo vê com simpatia, mas ninguém leva a sério. Sinônimo de 'alegria', que pouquíssimos se aventuram a visitar", afirma o consultor.
Já Buarque - que baseou seu livro em mais de 100 entrevistas com formadores de opinião, elites acadêmicas, políticas e econômicas nos EUA - tem uma perspectiva diferente. Para ele, ao menos entre essas elites tomadoras de decisão, não há como negar que as mudanças na "imagem do país" tem sido bastante significativas.
"Ainda que haja clichês ligados ao imaginário internacional sobre o Brasil, em setores da elite política e econômica global, o país tem de fato se tornado mais relevante no mundo, ainda que seja difícil precisar quanto", afirma.
"Além disso, mesmo que a frequência das demonstrações de 'empolgação' sobre o Brasil tenha diminuído, não acho que tenhamos voltado a uma situação pré 2008-2010 em termos de imagem externa. O que há agora é um maior equilíbrio - a euforia foi substituída por uma avaliação mais sóbria, mesmo quando positiva."
A realidade, porém, é que desde 2012 ficou mais difícil encontrar quem partilha dessa "empolgação" nos mercados e na imprensa internacional. "Após um período de quase euforia com o Brasil no exterior, por volta de 2009 e 2010, as percepções sobre o país parecem ter sido ajustadas com a decepção gerada pelo desaquecimento da economia", diz Daniel Buarque, jornalista e autor do livro Brasil, um país do presente: A imagem internacional do "país do futuro" (Ed. Alameda), que será lançado no dia 7.
Segundo um levantamento feito a pedido da BBC Brasil pelo consultor Simon Anholt, responsável por um ranking dos países mais admirados do mundo pelo público em geral, em 2012 houve uma queda até na pontuação do Brasil na pesquisa, de 57,91 para 57,86 (de um total de 70 pontos).
Mesmo o FT em sua cobertura diária tem adotado um tom bastante cético e crítico sobre o manejo da economia brasileira desde que o PIB desacelerou dos 7,5%, de 2010, para os 1,6%, de 2012. E a revista britânica The Economist chegou a chamar a economia do país de "criatura moribunda".
A novidade que parece refletida no especial sobre o Brasil do jornal britânico, porém, é que um grupo cada vez maior de observadores externos tem enfatizado que, em meio a esses altos e baixos, é preciso mais "realismo" nas análises sobre o país - e, principalmente, é preciso separar entre as perspectivas de longo e de curto prazo para sua economia.
Ajuste
"Precisamos marcar bem a diferença entre a perspectiva do mercado financeiro e a dos que fazem investimentos diretos e apostam na economia real", enfatiza Richard Lapper, diretor do Brazil Confidential, o serviço de análises sobre o Brasil do Financial Times.
Ele diz que, para os investidores de curto prazo, a queda dos juros, as incertezas sobre a inflação e o fato de que a economia brasileira está crescendo menos que a de países como o México reduziram bastante a atratividade do país.
"Já para o investidor direto, de longo prazo, o Brasil continua a ser um mercado atraente - e foi para essas tendências mais duradouras que olhamos na nossa revista: o desemprego está em níveis historicamente baixos, há estabilidade econômica e política e o consumo continua aquecido com a expansão da classe C, especialmente em alguns setores."
Lapper nota que, apesar da desaceleração do PIB, o volume de investimentos diretos estrangeiros no Brasil permaneceu robusto no ano passado - por volta de US$60 bilhões. O desemprego também foi uma surpresa positiva: ficou em 5,4% em janeiro, o menor para o mês desde o início da série histórica, em 2002.
"Quando o assunto é Brasil é preciso cuidado para distinguir o que é notícia e o que é barulho", opina o criador do termo BRIC, Jim O'Neill, que vem sendo questionado sobre se o País deve ser mantido no grupo das "nações emergentes" mesmo crescendo a um ritmo inferior a China, Rússia e Índia.
Novo 'status'
O'Neill diz acreditar que embora no curto prazo os dados sobre o PIB brasileiro ainda devam decepcionar, as "tendências demográficas e sociais" que sustentam as boas perspectivas para o País e sua mudança de status global são "consistentes".
"É preciso pensar no longo prazo para o Brasil: ainda acho que o país pode muito bem crescer de 4% a 5% ao ano na década", opina.
Para Anthony Pereira, diretor do Instituto Brasil da King's College London, é natural que haja suspeitas sobre a sustentabilidade do crescimento brasileiro, até por uma questão de precedentes históricos: o "milagre econômico" dos anos 70 descambou na pior crise da história do país, nos anos 80.
"Mas uma perspectiva histórica também dá a medida de quão sólidos são os avanços em termos sociais e institucionais, na conquista de estabilidade econômica e política", diz Pereira.
"Os velhos desafios são conhecidos: o Brasil ainda precisa avançar na questão da educação, infraestrutura e burocracia. Mas a decepção também é consequência de um aumento das expectativas - não dá para querer que o país cresça como a Índia, onde a proporção da população rural ainda é equivalente a do Brasil nos anos 60."
Imagem externa
As percepções externas sobre um país importam por uma série de razões, segundo Anholt. No campo econômico, uma boa reputação pode ajudar a atrair investimentos, e impulsionar os fluxos de comércio e turismo.
"Antes de fazer um investimento direto, por exemplo, empresários calculam qual seria a dificuldade para se convencer funcionários-chave a viver naquele lugar", diz o consultor.
Uma melhoria de 10% nos índices gerais de aprovação de um país, calculado por Anholt com base em 38 mil entrevistas, resultaria em um crescimento de 11% na chegada de turistas a seu território. E a correlação seria semelhante para o crescimento das exportações.
"Se um país se torna sinônimo de qualidade, pode cobrar mais por seus produtos. Consumidores tendem a pagar mais caro por um celular japonês que por um aparelho produzido em outro país asiático, por exemplo."
No caso do Brasil, Anholt enfatiza que, apesar de o país ter deixado de ser a menina dos olhos da imprensa e mercados internacionais, a mudança em sua imagem entre o público em geral foi pequena e o país permaneceu na 20ª posição no ranking das nações mais admiradas do globo.
Por outro lado, mesmo durante o período em que o Brasil esteve "na moda", também avançou pouco - subindo apenas uma posição em 2009.
"No geral, o Brasil ainda está associado a festa, futebol e carnaval. É um país que todo mundo vê com simpatia, mas ninguém leva a sério. Sinônimo de 'alegria', que pouquíssimos se aventuram a visitar", afirma o consultor.
Já Buarque - que baseou seu livro em mais de 100 entrevistas com formadores de opinião, elites acadêmicas, políticas e econômicas nos EUA - tem uma perspectiva diferente. Para ele, ao menos entre essas elites tomadoras de decisão, não há como negar que as mudanças na "imagem do país" tem sido bastante significativas.
"Ainda que haja clichês ligados ao imaginário internacional sobre o Brasil, em setores da elite política e econômica global, o país tem de fato se tornado mais relevante no mundo, ainda que seja difícil precisar quanto", afirma.
"Além disso, mesmo que a frequência das demonstrações de 'empolgação' sobre o Brasil tenha diminuído, não acho que tenhamos voltado a uma situação pré 2008-2010 em termos de imagem externa. O que há agora é um maior equilíbrio - a euforia foi substituída por uma avaliação mais sóbria, mesmo quando positiva."
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