Reportagem de VEJA revela a obscena ofensiva de Lula para subjugar o Supremo e livrar do castigo a quadrilha do mensalão
Augusto Nunes - VEJA
O ex-presidente Lula vem erguendo desde o começo de abril o mais obsceno dos numerosos monumentos à cafajestagem forjados desde 2005 para impedir que os quadrilheiros do mensalão sejam castigados pela Justiça. Inquieto com a aproximação do julgamento, perturbado pela suspeita de que os bandidos de estimação correm perigo, o Padroeiro dos Pecadores jogou o que restava de vergonha numa lixeira do Sírio Libanês e resolveu pressionar pessoalmente os ministros do Supremo Tribunal Federal. De novo, como informou VEJA neste sábado, o colecionador de atrevimentos derrapou na autoconfiança delirante e bateu de frente com um interlocutor que não se intimida com bravatas.
A reportagem de Rodrigo Rangel e Otávio Cabral reproduz os momentos mais espantosos do encontro entre Lula e o ministro Gilmar Mendes ocorrido, há um mês, no escritório mantido em Brasília pelo amigo comum Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo e ex-ministro da Defesa. A conversa fez escala em assuntos diversos até que o palanque ambulante interrompeu o minueto para dar início ao forró do mensalão. “Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula”, disse Gilmar a VEJA. Não é para menos.
“É inconveniente julgar o processo agora”, começou Lula, lembrando que, como 2012 é um ano eleitoral, o PT seria injustamente afetado pelo barulho em torno do escândalo. Depois de registrar que controla a CPI do Cachoeira, insinuou que o ministro, se fosse compreensivo, seria poupado de possíveis desconfortos. “E a viagem a Berlim?”, perguntou em seguida, encampando os boatos segundo os quais Gilmar Mendes e Demóstenes Torres teriam viajado para a cidade alemã num avião cedido por Carlinhos Cachoeira, e com todas as despesas pagas pelo meliante da moda.
Gilmar confirmou que se encontrou com o senador na Europa. Mas esclareceu que foi e voltou em avião de carreira, bancou todas as despesas e tem como provar o que diz. “Vou a Berlim como você vai a São Bernardo. Minha filha mora lá”, informou, antes da recomendação final: “Vá fundo na CPI”. Lula preferiu ir fundo no palavrório arrogante. Com o desembaraço dos autoritários inimputáveis, o ex-presidente que não desencarnou do Planalto e dá ordens ao Congresso disse o suficiente para concluir-se que, enquanto escolhe candidatos a prefeito e dá conselhos ao mundo, pretende usar o caso do mensalão para deixar claro quem manda no STF.
Alguns dos piores momentos da conversa envolveram quatro dos seis ministros que Lula nomeou:
CARMEM LÚCIA
“Vou falar com o Pertence para cuidar dela”. (Sepúlveda Pertence, ex-ministro do STF e hoje presidente da Comissão de Ética Pública, é tratado por Carmen Lúcia como “guru”).
DIAS TOFFOLI
“Ele tem que participar do julgamento”. (O ministro foi advogado do PT e chefe da Advocacia Geral da União. Sua mulher defendeu três mensaleiros. Mas ainda não descobriu que tem o dever de declarar-se sob suspeição).
RICARDO LEWANDOWSKI
“Ele só iria apresentar o relatório no semestre que vem, mas está sofrendo muita pressão”. (Só falta o parecer do revisor do processo para que o julgamento comece. Lewandowski ainda não fixou um prazo para terminar o serviço que está pronto desde que ganhou uma toga).
Os outros dois ministros nomeados por Lula são Joaquim Barbosa (considerado “um traidor, um complexado”) e Ayres Britto, a quem Gilmar relatou na quarta-feira o encontro em Brasília. O atual presidente do STF soube pelo colega que Lula pretende seduzi-lo com a ajuda do jurista Celso Antonio Bandeira de Mello, amigo de ambos e um dos patrocinadores da sua indicação. Imediatamente, Ayres Britto associou o que acabara de escutar ao que ouviu de Lula num recente almoço no Palácio da Alvorada. “O ex-presidente me perguntou se eu tinha notícias do Bandeirinha e disse: ‘Qualquer dia a gente toma um vinho’”, contou o ministro a VEJA.
Na mesma quarta-feira, a chegada ao STF de um documento assinado por dez advogados de mensaleiros comprovou que Lula age em parceria com a tropa comandada pelo inevitável Márcio Thomaz Bastos. “Embora nós saibamos disso, é preciso dar mostras a todos de que o Supremo Tribunal Federal não se curva a pressões e não decide ‘com a faca no pescoço’”, diz um trecho desse inverossímil hino à insolência. A expressão foi pinçada da frase dita em 2007 pelo ministro Ricardo Lewandowski, num restaurante em Brasília, depois da sessão que aprovou a abertura do processo do mensalão. Faltou completar a frase do revisor sem pressa: “Todo mundo votou com a faca no pescoço. A tendência era amaciar pro Dirceu”.
O escândalo descoberto há sete anos se arrasta no STF há cinco, mas os dez doutores criticaram “a correria para o julgamento, atiçada pela grita”. Eles resolveram dar lições ao tribunal por estarem “preocupados com a inaudita onda de pressões deflagradas contra a mais alta corte brasileira”. O Brasil decente faz o que pode para manifestar seu inconformismo com o tratamento gentil dispensado pela Justiça a pecadores que dispõem de padrinhos poderosos e advogados que cobram por minuto. São pressões legítimas. Preocupante é o cerco movido a um Poder independente por um ex-chefe do Executivo. Isso não é uma operação política, muito menos uma ação jurídica. É um genuíno caso de polícia.
Se os bacharéis do mensalão efetivamente se preocupam com pressões ilegais, devem redigir outro documento exigindo que Lula aprenda a comportar-se como ex-presidente e pare de agir como um fora-da-lei.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
A visita a Lewandowski confirma que Lula virou achacador de ministros do Supremo
Augusto Nunes - VEJA
O item 2 da nota do Instituto Lula sobre as revelações feitas pelo ministro Gilmar Mendes garante que “Luiz Inácio Lula da Silva jamais interferiu ou tentou interferir nas decisões do Supremo ou da Procuradoria Geral da República em relação a ação penal do chamado Mensalão, ou a qualquer outro assunto da alçada do Judiciário ou do Ministério Público, nos oito anos em que foi presidente da República”. Faz de conta que sim.
Faz de conta também que merece crédito a primeira das duas frases que compõem o item 4: “A autonomia e independência do Judiciário e do Ministério Público sempre foram rigorosamente respeitadas nos seus dois mandatos”. É na segunda frase do tópico, suficientemente cínica para deixar ruborizado até devotos da seita lulopetista com mais de cinco neurônios, que se consuma a derrapagem espetacular: “O comportamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o mesmo, agora que não ocupa nenhum cargo público”.
Apaixonado pelo personagem que inventou, embevecido com o som da própria voz, Lula embarca na gabolice em reuniões com companheiros, acertos com aliados, papos de botequim ou conversas com porteiros do prédio onde mora. Graças à loquacidade do falastrão vaidoso, sabe-se agora que o protetor de pecadores assumiu o posto de lobista-chefe da quadrilha do mensalão desde que deixou o Palácio do Planalto. Leia o que escreveu em seu blog, nesta terça-feira, a jornalista Cristiana Lobo:
A preocupação de Lula com o julgamento do caso do Mensalão, conhecida de todos no mundo político, aumentou com a chegada de 2012 – ano do julgamento e, ainda, coincidindo com as eleições municipais nas quais o PT deposita grandes esperanças de crescer, particularmente, em São Paulo, antigo território adversário. Foi a partir daí que ele incluiu o assunto em sua agenda prioritária do ano. Fiel a seu estilo de falar muito e revelar seus passos políticos, mesmo aqueles que exigem maior discrição, Lula contou o desejo de visitar o ministro Ricardo Lewandowiski, ministro-revisor do relatório do Mensalão, um amigo de sua família. E assim fez. No começo do ano, acompanhado do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, ele foi à casa de Lewandowski e, conversa-vai-conversa-vem, chegou ao assunto: quando será julgado o mensalão? Sua preocupação central… Depois dessa conversa Lula passou a explicitar aos amigos políticos grande preocupação com a dificuldade de se deixar o julgamento para o ano que vem. Ele diz abertamente que considera inconveniente o julgamento do caso este ano. Com elogios à casa de Lewandowski, num condomínio chique de São Bernardo, Lula relatou a um aliado a pressão que o ministro vem sofrendo para apresentar logo o seu voto-revisor. E mais: o temor de que essa pressão de opinião pública possa afetar o conjunto do julgamento. Este é Lula. Por bravata ou relatando a realidade, ele conta a amigos os seus passos, até mesmo uns que deveriam ser inconfessáveis, como uma visita a um ministro do Supremo Tribunal Federal no ano do julgamento mais importante para sua história política – o caso que marcou negativamente o seu primeiro mandato. Lewandowski ensaiou negar a conversa com Lula. Mas, diante dos detalhes da conversa – a companhia do prefeito e os elogios à casa – ele sorriu e disse: “ele é amigo da família”. De fato, a mulher de Lula, Marisa Letícia, foi amiga da mãe do ministro, falecida ano passado.
É muita desfaçatez. Além de confirmar a essência da conversa de Lula com Gilmar Mendes, o texto acima reproduzido prova que um ex-presidente da República exerce pelo menos desde janeiro o ofício de achacador de ministros do Supremo. E explica por que Ricardo Lewandowski foi tão longe nas manobras forjadas para adiar o julgamento do mensalão. Se desse mais importância ao Estado de Direito, se soubesse rechaçar o assédio de pedintes influentes, o revisor do processo teria apresentado o relatório há muito tempo. O atraso deliberado resultou no episódio que começa a transformar-se em crise institucional.
O julgamento dos mensaleiros já demorou demais. Caso não cumpra seu dever nas próximas horas, Lewandowski transformará a toga de ministro do Supremo na fantasia que disfarça um ministro do Lula. A exasperante insistência em algemar o tempo, encarcerar a verdade e obstruir o avanço da Justiça pode ser a gota que fará transbordar o pote até aqui de náusea.
Cinco dias de silêncio demonstraram que o candidato a D. Pedro III aprendeu a lição de D. João VI: ‘Quando não se sabe o que fazer, é melhor não fazer nada’
Augusto Nunes - VEJA
Sem contar o período de tratamento contra o câncer na laringe, Lula só emudeceu por mais de três dias em 2005, quando explodiu o escândalo do mensalão, e em julho de 2007, depois do acidente com o avião da TAM na pista de Congonhas. Abalroado pela descoberta de que virou achacador de ministros do Supremo Tribunal Federal, o mais falante presidente da história perdeu deliberadamente a voz no último sábado, assim que começou a ser distribuída a edição de VEJA.
“Quando não se sabe o que fazer, é melhor não fazer nada”, vivia recomendando D. João VI. O candidato a D. Pedro III resolveu ouvir o conselho do avô do imperador que rebatizou de “Dom Predo” num comício em que prometeu para 2010 a transposição das águas do Rio São Francisco ─ que continuam onde sempre estiveram. “O silêncio de Lula está impressionantemente, absurdamente ensurdecedor”, espanta-se Sérgio Vaz no artigo reproduzido na seção Feira Livre.
O cronista Paulo Sant’Ana, em sua coluna no jornal Zero Hora, ficou intrigado com a inovadora reação do palanque ambulante: em vez de berrar que está indignado, o ex-presidente valeu-se do bisonho comunicado divulgado pelo Instituto Lula para comunicar ao país que está indignado. “Diz a nota que ele está indignado”, escreveu Paulo Sant’Ana nesta quarta-feira. “Quem está indignado não escreve uma nota dizendo que está indignado. Quem está indignado fica indignado. E vem para a televisão dar murros na mesa e na tela e gritar que está indignado”.
A indignação silenciosa grita que Lula é culpado. Os milhares de minutos de silêncio registram a despedida do estrategista genial que nunca existiu. Nascido e criado na imaginação dos devotos, o mito do intuitivo infalível, tão consistente quanto o Brasil Maravilha do cartório, sucumbiu aos dois últimos disparos do canhão sem mira. Ambos deveriam levar os inimigos à capitulação e livrar do camburão a tropa de mensaleiros. Ambos vão provocando estragos e baixas no exército liderado pelo general trapalhão.
O primeiro tiro foi a instauração da CPI do Cachoeira. Além de desviar para o Congresso os holofotes concentrados no julgamento do mensalão, a CPI seria o instrumento perfeito para que Lula se vingasse do governador Marconi Perillo e do senador Demóstenes Torres. Nesta quarta-feira, Perillo entrou na lista de depoentes, mas ao lado do companheiro Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal. Logo chegará a vez do governador Sérgio Cabral, condenado ao mergulho no pântano pela aprovação da quebra do sigilo bancário da construtora Delta. O segundo tiro foi a intensificação do assédio aos ministros do Supremo. O disparo que deveria adiar o julgamento dos mensaleiros só serviu para apressá-lo.
Louco por um microfone, Lula emergiu da mudez nesta quarta-feira, num comício improvisado em Brasília. Sem quaisquer vestígios de indignação, Lula elogiou Lula, recitou lições sobre questões que desconhece, contou mentiras novas e velhas. Tratou de uma penca de assuntos, menos do que interessa ao Brasil decente. O farsante recuperou a fala mas perdeu um pedaço da memória: não consegue lembrar-se do que houve neste fim de maio. Não tocou no nome de Gilmar Mendes, passou ao largo do STF e fingiu que nem sabe direito o que é mensalão. O surto de amnésia conveniente talvez seja interrompido nesta quinta-feira, durante a entrevista prometida ao apresentador Ratinho, do SBT.
Caso lhes reste algum juízo, os quadrilheiros do mensalão vão torcer para que a audiência do programa fique perto do traço. Se muita gente ouvir a discurseira forjada para justificar o injustificável, os sinais de perigo poderão multiplicar-se. Dependendo do que Lula disser, a turma de José Dirceu será obrigada a sair do desespero para afundar no pânico.
Augusto Nunes - VEJA
Sem contar o período de tratamento contra o câncer na laringe, Lula só emudeceu por mais de três dias em 2005, quando explodiu o escândalo do mensalão, e em julho de 2007, depois do acidente com o avião da TAM na pista de Congonhas. Abalroado pela descoberta de que virou achacador de ministros do Supremo Tribunal Federal, o mais falante presidente da história perdeu deliberadamente a voz no último sábado, assim que começou a ser distribuída a edição de VEJA.
“Quando não se sabe o que fazer, é melhor não fazer nada”, vivia recomendando D. João VI. O candidato a D. Pedro III resolveu ouvir o conselho do avô do imperador que rebatizou de “Dom Predo” num comício em que prometeu para 2010 a transposição das águas do Rio São Francisco ─ que continuam onde sempre estiveram. “O silêncio de Lula está impressionantemente, absurdamente ensurdecedor”, espanta-se Sérgio Vaz no artigo reproduzido na seção Feira Livre.
O cronista Paulo Sant’Ana, em sua coluna no jornal Zero Hora, ficou intrigado com a inovadora reação do palanque ambulante: em vez de berrar que está indignado, o ex-presidente valeu-se do bisonho comunicado divulgado pelo Instituto Lula para comunicar ao país que está indignado. “Diz a nota que ele está indignado”, escreveu Paulo Sant’Ana nesta quarta-feira. “Quem está indignado não escreve uma nota dizendo que está indignado. Quem está indignado fica indignado. E vem para a televisão dar murros na mesa e na tela e gritar que está indignado”.
A indignação silenciosa grita que Lula é culpado. Os milhares de minutos de silêncio registram a despedida do estrategista genial que nunca existiu. Nascido e criado na imaginação dos devotos, o mito do intuitivo infalível, tão consistente quanto o Brasil Maravilha do cartório, sucumbiu aos dois últimos disparos do canhão sem mira. Ambos deveriam levar os inimigos à capitulação e livrar do camburão a tropa de mensaleiros. Ambos vão provocando estragos e baixas no exército liderado pelo general trapalhão.
O primeiro tiro foi a instauração da CPI do Cachoeira. Além de desviar para o Congresso os holofotes concentrados no julgamento do mensalão, a CPI seria o instrumento perfeito para que Lula se vingasse do governador Marconi Perillo e do senador Demóstenes Torres. Nesta quarta-feira, Perillo entrou na lista de depoentes, mas ao lado do companheiro Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal. Logo chegará a vez do governador Sérgio Cabral, condenado ao mergulho no pântano pela aprovação da quebra do sigilo bancário da construtora Delta. O segundo tiro foi a intensificação do assédio aos ministros do Supremo. O disparo que deveria adiar o julgamento dos mensaleiros só serviu para apressá-lo.
Louco por um microfone, Lula emergiu da mudez nesta quarta-feira, num comício improvisado em Brasília. Sem quaisquer vestígios de indignação, Lula elogiou Lula, recitou lições sobre questões que desconhece, contou mentiras novas e velhas. Tratou de uma penca de assuntos, menos do que interessa ao Brasil decente. O farsante recuperou a fala mas perdeu um pedaço da memória: não consegue lembrar-se do que houve neste fim de maio. Não tocou no nome de Gilmar Mendes, passou ao largo do STF e fingiu que nem sabe direito o que é mensalão. O surto de amnésia conveniente talvez seja interrompido nesta quinta-feira, durante a entrevista prometida ao apresentador Ratinho, do SBT.
Caso lhes reste algum juízo, os quadrilheiros do mensalão vão torcer para que a audiência do programa fique perto do traço. Se muita gente ouvir a discurseira forjada para justificar o injustificável, os sinais de perigo poderão multiplicar-se. Dependendo do que Lula disser, a turma de José Dirceu será obrigada a sair do desespero para afundar no pânico.
ELIÂNICAS
Abstinência de poder
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA - Como escrito nas estrelas desde o encontro nada institucional entre Lula e Gilmar Mendes, Gilmar destrambelhou e se jogou no centro de uma fogueira que não era dele, enquanto Lula faz o caminho inverso: assume a condição de vítima, com direito a homenagem de Dilma em palácio, vídeo do presidente do PT e guerrilha da "militância abnegada" na internet.
Antes que o grave erro de Lula passe a contar a favor e não contra ele, registre-se que o fim do poder lhe fez muito mal. Desde que desceu a rampa do Planalto, Lula vem pisando em falso e botando os pés pelas mãos.
Impôs unilateralmente Haddad ao PT-SP, assim como impusera Roseana Sarney para o PT-MA. São Paulo, porém, não é o Maranhão e Marta Suplicy não é Domingos Dutra.
Haddad é, de fato, um bom produto eleitoral e, se ganhar, será um fenômeno à la Dilma. Mas, por enquanto, patina e custa cada vez mais caro na negociação com os aliados.
Lula também atropelou Dilma, o Congresso e meia bancada do PT ao exigir a criação de uma CPI que só interessava à sua sanha contra a oposição e para embaçar o mensalão.
Do ponto de vista prático, Cachoeira e seus comparsas já estavam presos, Marconi Perillo já tinha caído nos grampos da PF e Demóstenes já estava na lona. Agora, com a quebra de sigilo da Delta, muitos aliados e muitas obras do governo federal podem entrar na dança.
E, enfim, nada pode ser mais "faca no pescoço" do Supremo (como temem os advogados dos réus do mensalão) do que a pressão, orientação ou insinuação de um ex-presidente tão popular e que indicou 8 dos 11 ministros da corte. O que mais Lula pretenderia ao procurar Toffoli e Lewandowski diretamente e outros ministros via seus padrinhos?
Se despreza as regras republicanas, ele deveria ao menos usar sua intuição brilhante e sua habilidade política invejável para imaginar o estrago que Gilmar faria. Como fez.
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA - Como escrito nas estrelas desde o encontro nada institucional entre Lula e Gilmar Mendes, Gilmar destrambelhou e se jogou no centro de uma fogueira que não era dele, enquanto Lula faz o caminho inverso: assume a condição de vítima, com direito a homenagem de Dilma em palácio, vídeo do presidente do PT e guerrilha da "militância abnegada" na internet.
Antes que o grave erro de Lula passe a contar a favor e não contra ele, registre-se que o fim do poder lhe fez muito mal. Desde que desceu a rampa do Planalto, Lula vem pisando em falso e botando os pés pelas mãos.
Impôs unilateralmente Haddad ao PT-SP, assim como impusera Roseana Sarney para o PT-MA. São Paulo, porém, não é o Maranhão e Marta Suplicy não é Domingos Dutra.
Haddad é, de fato, um bom produto eleitoral e, se ganhar, será um fenômeno à la Dilma. Mas, por enquanto, patina e custa cada vez mais caro na negociação com os aliados.
Lula também atropelou Dilma, o Congresso e meia bancada do PT ao exigir a criação de uma CPI que só interessava à sua sanha contra a oposição e para embaçar o mensalão.
Do ponto de vista prático, Cachoeira e seus comparsas já estavam presos, Marconi Perillo já tinha caído nos grampos da PF e Demóstenes já estava na lona. Agora, com a quebra de sigilo da Delta, muitos aliados e muitas obras do governo federal podem entrar na dança.
E, enfim, nada pode ser mais "faca no pescoço" do Supremo (como temem os advogados dos réus do mensalão) do que a pressão, orientação ou insinuação de um ex-presidente tão popular e que indicou 8 dos 11 ministros da corte. O que mais Lula pretenderia ao procurar Toffoli e Lewandowski diretamente e outros ministros via seus padrinhos?
Se despreza as regras republicanas, ele deveria ao menos usar sua intuição brilhante e sua habilidade política invejável para imaginar o estrago que Gilmar faria. Como fez.
DÓRICAS
STF em seu labirinto
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
O dano é evidente: julgue quando julgar, decida como decidir no caso do mensalão, o Supremo Tribunal Federal por ora é a primeira vítima do processo.
Não faz bem à confiança nacional ver ministros da Corte Suprema transitando pelo terreno dos mexericos, das intrigas, sendo alvo de ilações melífluas ou de acusações explícitas.
O ambiente exige respeito, já dizia Billy Blanco referindo-se a gafieiras. No caso da representação da guarda do Estado de Direito exige-se, sobretudo, respeitabilidade.
Não é o que inspira a cena.
Do aviso inicial do ministro Ricardo Lewandowski sobre a hipótese de seu voto revisor ser apresentado só no ano que vem, atrasando o julgamento e tornando alguns crimes passíveis de prescrição, até a revelação do tenebroso encontro entre o ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes, o que se tem é o desgaste da imagem do Supremo.
Certo ou errado - provavelmente mais errado que certo - o cidadão olha para isso e fica no mínimo desconfiado de que os ministros do STF possam ser permeáveis a pressões.
Espera-se que não sejam como, aliás, vêm cuidando de esclarecer os magistrados. Por meio de negativas peremptórias sobre a possibilidade de sujeição a fatores outros que não os autos do processo, pela defesa da realização do julgamento o quanto antes ou por reações de repúdio à tentativa de pressão por parte do advogado "in pectore" dos réus.
Neste aspecto, a ofensiva do PT capitaneada por Lula tem obtido resultados, pois independentemente da data ou do resultado do julgamento, o Tribunal no momento está com sua confiabilidade posta em xeque.
Não quer dizer que não seja confiável, mas que se conseguiu incutir na sociedade uma dúvida quanto a isso, dando margem a questionamentos em relação ao preceito de que decisão da Justiça não se discute.
E a questão que surge na cabeça do "leigo" - ou seja, todos aqueles não familiarizados com o funcionamento do Tribunal e com o significado da função daqueles que ali estão para guardar a Constituição - é a seguinte: a coação influirá na decisão?
A interpretação de que a investida de Lula tenha tido efeito contrário ao pretendido, acabando por levar o Supremo a se apressar e os ministros a tender pela condenação como forma de reação, traz consigo a suposição da substituição do racional pelo emocional na conduta dos ministros.
Estaria aí quebrado o compromisso estrito com a legalidade. Da mesma forma se, por razões processuais, o julgamento atrasar mais que o desejado e/ou por ausência de provas suficientes houver absolvições, dar-se-á - e desde já assim se dá - como certo que houve êxito na pressão dos acusados.
O mais provável é que nenhuma dessas impressões correntes traduza com perfeição a realidade.
Mas, sendo assim o que parece, conviria ao Supremo enfrentar de uma vez o problema tratando de desanuviar o cenário e de se recompor com a majestade de suas funções.
Antes que se consolide a visão deformada de que em julgamento estão os juízes e não os 38 réus acusados de organizar um esquema de assalto - lato e estrito sensos - ao Estado.
Aos fatos. Não existe "guerra de versões" sobre a conversa de Lula com Gilmar Mendes no escritório de Nelson Jobim.
O ministro contou e reafirmou com detalhes o que foi dito. Lula e Jobim apenas o desmentiram, mas não apresentaram as respectivas versões a respeito do que foi dito naquele encontro.
Passo a passo. A decisão de chamar os governadores do Distrito Federal e de Goiás e deixar de fora Sérgio Cabral, do Rio, em princípio não pode ser atribuída a blindagens políticas.
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
O dano é evidente: julgue quando julgar, decida como decidir no caso do mensalão, o Supremo Tribunal Federal por ora é a primeira vítima do processo.
Não faz bem à confiança nacional ver ministros da Corte Suprema transitando pelo terreno dos mexericos, das intrigas, sendo alvo de ilações melífluas ou de acusações explícitas.
O ambiente exige respeito, já dizia Billy Blanco referindo-se a gafieiras. No caso da representação da guarda do Estado de Direito exige-se, sobretudo, respeitabilidade.
Não é o que inspira a cena.
Do aviso inicial do ministro Ricardo Lewandowski sobre a hipótese de seu voto revisor ser apresentado só no ano que vem, atrasando o julgamento e tornando alguns crimes passíveis de prescrição, até a revelação do tenebroso encontro entre o ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes, o que se tem é o desgaste da imagem do Supremo.
Certo ou errado - provavelmente mais errado que certo - o cidadão olha para isso e fica no mínimo desconfiado de que os ministros do STF possam ser permeáveis a pressões.
Espera-se que não sejam como, aliás, vêm cuidando de esclarecer os magistrados. Por meio de negativas peremptórias sobre a possibilidade de sujeição a fatores outros que não os autos do processo, pela defesa da realização do julgamento o quanto antes ou por reações de repúdio à tentativa de pressão por parte do advogado "in pectore" dos réus.
Neste aspecto, a ofensiva do PT capitaneada por Lula tem obtido resultados, pois independentemente da data ou do resultado do julgamento, o Tribunal no momento está com sua confiabilidade posta em xeque.
Não quer dizer que não seja confiável, mas que se conseguiu incutir na sociedade uma dúvida quanto a isso, dando margem a questionamentos em relação ao preceito de que decisão da Justiça não se discute.
E a questão que surge na cabeça do "leigo" - ou seja, todos aqueles não familiarizados com o funcionamento do Tribunal e com o significado da função daqueles que ali estão para guardar a Constituição - é a seguinte: a coação influirá na decisão?
A interpretação de que a investida de Lula tenha tido efeito contrário ao pretendido, acabando por levar o Supremo a se apressar e os ministros a tender pela condenação como forma de reação, traz consigo a suposição da substituição do racional pelo emocional na conduta dos ministros.
Estaria aí quebrado o compromisso estrito com a legalidade. Da mesma forma se, por razões processuais, o julgamento atrasar mais que o desejado e/ou por ausência de provas suficientes houver absolvições, dar-se-á - e desde já assim se dá - como certo que houve êxito na pressão dos acusados.
O mais provável é que nenhuma dessas impressões correntes traduza com perfeição a realidade.
Mas, sendo assim o que parece, conviria ao Supremo enfrentar de uma vez o problema tratando de desanuviar o cenário e de se recompor com a majestade de suas funções.
Antes que se consolide a visão deformada de que em julgamento estão os juízes e não os 38 réus acusados de organizar um esquema de assalto - lato e estrito sensos - ao Estado.
Aos fatos. Não existe "guerra de versões" sobre a conversa de Lula com Gilmar Mendes no escritório de Nelson Jobim.
O ministro contou e reafirmou com detalhes o que foi dito. Lula e Jobim apenas o desmentiram, mas não apresentaram as respectivas versões a respeito do que foi dito naquele encontro.
Passo a passo. A decisão de chamar os governadores do Distrito Federal e de Goiás e deixar de fora Sérgio Cabral, do Rio, em princípio não pode ser atribuída a blindagens políticas.
DESCENDO A LADEIRA
Brasil volta a cair em ranking de competitividade
BBC-Brasil
Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil perdeu posições em um recém-divulgado ranking de competitividade internacional, que cita declínio do país em investimentos diretos no exterior, crescimento da economia, eficiência do governo e inflação.
O ranking de competitividade entre 59 países, feito pela escola de administração suíça IMD, é liderado por Hong Kong e pelos Estados Unidos e coloca o Brasil na 46ª posição, duas abaixo da ocupada em 2011.
O país vinha subindo no ranking entre 2007 e 2010, mas em 2011 caiu do 38º posto ao 44º. Agora, foi ultrapassado pela Hungria e a Lituânia.
A avaliação da IMD, publicada desde 1989, é feita com base em dados compilados por instituições locais - os do Brasil foram levantados pela Fundação Dom Cabral - e por entrevistas com 4.200 executivos internacionais. Seu objetivo é medir como os países gerenciam seus recursos humanos e econômicos para aumentar sua prosperidade.
Em comparação com os países do Bric, o Brasil só se sai melhor que a Rússia, em 48º lugar. A China continental foi colocada em 23º lugar do ranking, e a Índia, em 37º. Ambas perderam posições em relação ao ano anterior.
Na América Latina, três países - Chile, Peru e México - foram considerados mais competitivos que o Brasil.
"O Brasil cresceu nas exportações de commodities, mas não tanto nas exportações de valor agregado", explica à BBC Brasil o português Nuno Fernandes, professor de finanças do IMD.
Ele também diz que medidas protecionistas jogam contra a atuação das empresas brasileiras no exterior. "As empresas focaram no mercado interno e prosperaram, mas quando a economia brasileira abranda e elas tentam ir ao exterior, não têm tanta competitividade."
Altos e baixos
O relatório da IMD lista, entre as "melhorias" apresentadas pelo país, melhor controle da evasão fiscal, melhor expectativa de suprimento de energia, maior recebimento de investimentos diretos estrangeiros e crescimento nas exportações.
Em compensação, o IMD cita uma forte redução do fluxo de investimentos diretos brasileiros no exterior, a redução de ritmo da economia (o governo prevê um aumento do Produto Interno Bruto entre 3% e 4%; o mercado projeta até menos de 3%) e o aumento da inflação e do custo de vida.
O país também pontuou menos em controle das finanças públicas e da corrupção.
Para estimular a competitividade brasileira, o relatório sugere reduções de impostos, investimentos em infraestrutura, acelerar os investimentos para a Copa do Mundo e as Olimpíadas e investir em pesquisas e desenvolvimento, entre outros.
Papel dos EUA
Além de Hong Kong e EUA, o ranking é encabeçado por Suíça, Cingapura e Suécia.
E o papel dos Estados Unidos foi destacado pelo relatório como essencial para a prosperidade global.
"A competitividade dos EUA tem um impacto profundo no resto do mundo porque (o país) está interagindo de forma única com todas as demais economias, avançadas ou emergentes. Nenhum outro país pode exercitar tanto o poder de 'puxar' o mundo", disse em comunicado Stephane Garelli, diretor do Centro de Competitividade Global do IMD.
"A Europa está sob o fardo da austeridade e da liderança política fragmentada e dificilmente será um substituto crível. Enquanto isso, o bloco Sul-Sul de nações emergentes ainda é uma obra em construção. No final das contas, se os EUA competem, o mundo é bem-sucedido", opinou.
BBC-Brasil
Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil perdeu posições em um recém-divulgado ranking de competitividade internacional, que cita declínio do país em investimentos diretos no exterior, crescimento da economia, eficiência do governo e inflação.
O ranking de competitividade entre 59 países, feito pela escola de administração suíça IMD, é liderado por Hong Kong e pelos Estados Unidos e coloca o Brasil na 46ª posição, duas abaixo da ocupada em 2011.
O país vinha subindo no ranking entre 2007 e 2010, mas em 2011 caiu do 38º posto ao 44º. Agora, foi ultrapassado pela Hungria e a Lituânia.
A avaliação da IMD, publicada desde 1989, é feita com base em dados compilados por instituições locais - os do Brasil foram levantados pela Fundação Dom Cabral - e por entrevistas com 4.200 executivos internacionais. Seu objetivo é medir como os países gerenciam seus recursos humanos e econômicos para aumentar sua prosperidade.
Em comparação com os países do Bric, o Brasil só se sai melhor que a Rússia, em 48º lugar. A China continental foi colocada em 23º lugar do ranking, e a Índia, em 37º. Ambas perderam posições em relação ao ano anterior.
Na América Latina, três países - Chile, Peru e México - foram considerados mais competitivos que o Brasil.
"O Brasil cresceu nas exportações de commodities, mas não tanto nas exportações de valor agregado", explica à BBC Brasil o português Nuno Fernandes, professor de finanças do IMD.
Ele também diz que medidas protecionistas jogam contra a atuação das empresas brasileiras no exterior. "As empresas focaram no mercado interno e prosperaram, mas quando a economia brasileira abranda e elas tentam ir ao exterior, não têm tanta competitividade."
Altos e baixos
O relatório da IMD lista, entre as "melhorias" apresentadas pelo país, melhor controle da evasão fiscal, melhor expectativa de suprimento de energia, maior recebimento de investimentos diretos estrangeiros e crescimento nas exportações.
Em compensação, o IMD cita uma forte redução do fluxo de investimentos diretos brasileiros no exterior, a redução de ritmo da economia (o governo prevê um aumento do Produto Interno Bruto entre 3% e 4%; o mercado projeta até menos de 3%) e o aumento da inflação e do custo de vida.
O país também pontuou menos em controle das finanças públicas e da corrupção.
Para estimular a competitividade brasileira, o relatório sugere reduções de impostos, investimentos em infraestrutura, acelerar os investimentos para a Copa do Mundo e as Olimpíadas e investir em pesquisas e desenvolvimento, entre outros.
Papel dos EUA
Além de Hong Kong e EUA, o ranking é encabeçado por Suíça, Cingapura e Suécia.
E o papel dos Estados Unidos foi destacado pelo relatório como essencial para a prosperidade global.
"A competitividade dos EUA tem um impacto profundo no resto do mundo porque (o país) está interagindo de forma única com todas as demais economias, avançadas ou emergentes. Nenhum outro país pode exercitar tanto o poder de 'puxar' o mundo", disse em comunicado Stephane Garelli, diretor do Centro de Competitividade Global do IMD.
"A Europa está sob o fardo da austeridade e da liderança política fragmentada e dificilmente será um substituto crível. Enquanto isso, o bloco Sul-Sul de nações emergentes ainda é uma obra em construção. No final das contas, se os EUA competem, o mundo é bem-sucedido", opinou.
Documentário sobre álbum clássico de Paul Simon nos leva ao passado
Thomas L. Friedman - UOL
De todos os depoimentos francos e fortes do documentário obrigatório de Joe Berlinger, “Sob os Céus Africanos”, sobre a gravação do álbum clássico de Paul Simon “Graceland” na África do Sul em 1985 --e seu reencontro com os mesmos artistas africanos 25 anos mais tarde--, meu favorito é o do baixista de Graceland Bakithi Kumalo. Ele conta sobre o dia em que conheceu Simon num estúdio de Johannesburgo em 1985:
“Eu estava trabalhando como mecânico”, diz Kumalo, “e um dia recebi um telefonema do meu chefe e ele disse: 'ei, Paul Simon está na cidade, sabia, e ele está procurando alguns músicos'. E eu disse: 'Paul Simon, quem é Paul Simon?' Quer dizer, eu não fazia ideia. E então o cara tentou me explicar. Ele canta todas as músicas. Você sabe, como músicas de Simon e Garfunkel. E eu disse: 'não tenho a mínima ideia'. E então peguei meu baixo e fui para o estúdio e encontrei Paul e Roy Halee, o engenheiro, e eles falaram: 'ei, cara, vamos tocar um pouco'. Nós tocávamos um acorde --Paul sorria... e então ele parava e mudava. Não sabíamos por que ele estava mudando. Mas ele precisava de outra parte lá e nós não sabíamos. Então ele fazia um intervalo e nos dava acordes diferentes, e então aprendíamos coisas diferentes e parecia que tínhamos voltado para a escola de música.”
Assistir a esse filme é, de fato, como voltar para a escola de música e muito mais. Para muitos, é voltar para a primeira vez que de fato ouviram as harmonias e ritmos únicos da música africana --graças a “Graceland”. Para outros, é como entrar no estúdio de um dos músicos mais criativos de nossos tempos, vê-lo provar e experimentar estilos, vozes e melodias dos músicos sul-africanos e misturá-los com os acordes e letras que dançavam em sua própria cabeça para transformá-los em músicas que nós cantarolamos desde então. Quem sabia que ela tinha diamantes nas solas dos sapatos?
Mas o que me intrigou foi voltar para a política de meados dos anos 80, quando o apartheid sul-africano estava em seu momento mais pernicioso, levando o Congresso Nacional Africano --ou ANC, na sigla em inglês-- a pedir um boicote total diplomático, econômico, esportivo e cultural. Isso foi antes da internet, da globalização, do iTunes e do YouTube. Simon se sentiu atraído pela música da África do Sul por conta de uma fita cassete enviada a ele pelos Boyoyo Boys. O músico dentro dele insistiu em perseguir aquele som até suas origens, independentemente da política. Ao ousar ignorar o boicote cultural para fazer Graceland, ele ajudou a globalizar, à moda antiga, os talentos e sons de um grupo de músicos sul-africanos --um show e um disco por vez-- e, nesse processo, empoderou esses artistas de maneira que nenhum movimento de libertação poderia ter feito.
Hoje, os Boyoyo Boys teriam simplesmente colocado um vídeo no YouTube e se globalizado. Mas isso não era possível naquela época. Ainda assim, será que Simon tinha o direito, e estava certo, de fazer o que fez? Costuradas em meio à narrativa estão as cenas de um encontro, 25 anos depois, entre Simon e Dali Tambo, o cofundador sul-africano do Artistas Contra o Apartheid, que impôs o boicote cultural.
“Acho que ele teve uma ótima ideia criativa de misturar sua música e seus ritmos e sua ingenuidade com algo que encontrou na África do Sul”, lembra-se Tambo. “Mas, naquela época, não ajudou (…) Estávamos lutando pela nossa terra, por nossa identidade. Tínhamos um trabalho a fazer, e era um trabalho sério. E víamos a vinda de Paul Simon como uma ameaça (…) porque não era sancionada (…) pelo movimento de liberação.”
Simon, que é meu amigo, ficou horrorizado com o apartheid, mas ficava indignado com a ideia de que, ao colaborar com artistas negros sul-africanos numa síntese que lançava a música e os talentos deles para o cenário mundial, estivesse prejudicando a causa nacional. “Quando o artista entra em algum tipo de desacordo com a política”, pergunta Simon no filme, “por que é que os políticos podem dizer a nós, artistas, o que fazer e nós devemos obedecer --ou então não seremos bons cidadãos ou boas pessoas?”
No final, Simon e Tambo conversam tudo isso no filme e afirmam que nenhum deles tinha a intenção de prejudicar a causa do outro. De fato, o ANC havia convidado Simon e a banda de Graceland para tocar em seu centenário. Mas o filme recém-lançado não deixa dúvida sobre o lugar em que estavam os músicos sul-africanos.
Lembrando sua turnê mundial com Simon depois que Graceland se tornou um sucesso, o saxofonista Barney Rachabane observou: “na África do Sul, não tínhamos oportunidade. Só podíamos tocar nos subúrbios. Não podíamos tocar nos belos clubes noturnos da cidade. Você podia sonhar, mas os sonhos nunca se realizavam. Isso acabava nos destruindo. Mas Graceland abriu meus olhos e deu um tom de esperança para minha vida.”
O guitarrista John Selolwane acrescentou: “Lembro-me de quando estávamos em turnê, especialmente na Europa durante o inverno. Toda vez que Black Mabazo subia no palco e começava a cantar, eu ficava com lágrimas nos olhos. Eu pensava: 'Aqui estou. Sou um menino africano. Estou no meio da neve e... há 50 mil pessoas enchendo o estádio', e eu chorava. Pensava: 'nossa, estamos de fato vendo o mundo.'”
Tradutor: Eloise De Vylder
Thomas L. Friedman - UOL
De todos os depoimentos francos e fortes do documentário obrigatório de Joe Berlinger, “Sob os Céus Africanos”, sobre a gravação do álbum clássico de Paul Simon “Graceland” na África do Sul em 1985 --e seu reencontro com os mesmos artistas africanos 25 anos mais tarde--, meu favorito é o do baixista de Graceland Bakithi Kumalo. Ele conta sobre o dia em que conheceu Simon num estúdio de Johannesburgo em 1985:
“Eu estava trabalhando como mecânico”, diz Kumalo, “e um dia recebi um telefonema do meu chefe e ele disse: 'ei, Paul Simon está na cidade, sabia, e ele está procurando alguns músicos'. E eu disse: 'Paul Simon, quem é Paul Simon?' Quer dizer, eu não fazia ideia. E então o cara tentou me explicar. Ele canta todas as músicas. Você sabe, como músicas de Simon e Garfunkel. E eu disse: 'não tenho a mínima ideia'. E então peguei meu baixo e fui para o estúdio e encontrei Paul e Roy Halee, o engenheiro, e eles falaram: 'ei, cara, vamos tocar um pouco'. Nós tocávamos um acorde --Paul sorria... e então ele parava e mudava. Não sabíamos por que ele estava mudando. Mas ele precisava de outra parte lá e nós não sabíamos. Então ele fazia um intervalo e nos dava acordes diferentes, e então aprendíamos coisas diferentes e parecia que tínhamos voltado para a escola de música.”
Assistir a esse filme é, de fato, como voltar para a escola de música e muito mais. Para muitos, é voltar para a primeira vez que de fato ouviram as harmonias e ritmos únicos da música africana --graças a “Graceland”. Para outros, é como entrar no estúdio de um dos músicos mais criativos de nossos tempos, vê-lo provar e experimentar estilos, vozes e melodias dos músicos sul-africanos e misturá-los com os acordes e letras que dançavam em sua própria cabeça para transformá-los em músicas que nós cantarolamos desde então. Quem sabia que ela tinha diamantes nas solas dos sapatos?
Mas o que me intrigou foi voltar para a política de meados dos anos 80, quando o apartheid sul-africano estava em seu momento mais pernicioso, levando o Congresso Nacional Africano --ou ANC, na sigla em inglês-- a pedir um boicote total diplomático, econômico, esportivo e cultural. Isso foi antes da internet, da globalização, do iTunes e do YouTube. Simon se sentiu atraído pela música da África do Sul por conta de uma fita cassete enviada a ele pelos Boyoyo Boys. O músico dentro dele insistiu em perseguir aquele som até suas origens, independentemente da política. Ao ousar ignorar o boicote cultural para fazer Graceland, ele ajudou a globalizar, à moda antiga, os talentos e sons de um grupo de músicos sul-africanos --um show e um disco por vez-- e, nesse processo, empoderou esses artistas de maneira que nenhum movimento de libertação poderia ter feito.
Hoje, os Boyoyo Boys teriam simplesmente colocado um vídeo no YouTube e se globalizado. Mas isso não era possível naquela época. Ainda assim, será que Simon tinha o direito, e estava certo, de fazer o que fez? Costuradas em meio à narrativa estão as cenas de um encontro, 25 anos depois, entre Simon e Dali Tambo, o cofundador sul-africano do Artistas Contra o Apartheid, que impôs o boicote cultural.
“Acho que ele teve uma ótima ideia criativa de misturar sua música e seus ritmos e sua ingenuidade com algo que encontrou na África do Sul”, lembra-se Tambo. “Mas, naquela época, não ajudou (…) Estávamos lutando pela nossa terra, por nossa identidade. Tínhamos um trabalho a fazer, e era um trabalho sério. E víamos a vinda de Paul Simon como uma ameaça (…) porque não era sancionada (…) pelo movimento de liberação.”
Simon, que é meu amigo, ficou horrorizado com o apartheid, mas ficava indignado com a ideia de que, ao colaborar com artistas negros sul-africanos numa síntese que lançava a música e os talentos deles para o cenário mundial, estivesse prejudicando a causa nacional. “Quando o artista entra em algum tipo de desacordo com a política”, pergunta Simon no filme, “por que é que os políticos podem dizer a nós, artistas, o que fazer e nós devemos obedecer --ou então não seremos bons cidadãos ou boas pessoas?”
No final, Simon e Tambo conversam tudo isso no filme e afirmam que nenhum deles tinha a intenção de prejudicar a causa do outro. De fato, o ANC havia convidado Simon e a banda de Graceland para tocar em seu centenário. Mas o filme recém-lançado não deixa dúvida sobre o lugar em que estavam os músicos sul-africanos.
Lembrando sua turnê mundial com Simon depois que Graceland se tornou um sucesso, o saxofonista Barney Rachabane observou: “na África do Sul, não tínhamos oportunidade. Só podíamos tocar nos subúrbios. Não podíamos tocar nos belos clubes noturnos da cidade. Você podia sonhar, mas os sonhos nunca se realizavam. Isso acabava nos destruindo. Mas Graceland abriu meus olhos e deu um tom de esperança para minha vida.”
O guitarrista John Selolwane acrescentou: “Lembro-me de quando estávamos em turnê, especialmente na Europa durante o inverno. Toda vez que Black Mabazo subia no palco e começava a cantar, eu ficava com lágrimas nos olhos. Eu pensava: 'Aqui estou. Sou um menino africano. Estou no meio da neve e... há 50 mil pessoas enchendo o estádio', e eu chorava. Pensava: 'nossa, estamos de fato vendo o mundo.'”
Tradutor: Eloise De Vylder
quarta-feira, 30 de maio de 2012
"Não há nada que possa ser uma causa perdida porque não há nada que possa ser uma causa ganha. Lutamos por causas perdidas porque sabemos que a derrota e o desânimo podem ser o preâmbulo da vitória de nossos sucessores, embora tal vitória seja, em si, temporária; lutamos mais para manter algo vivo do que na esperança de que algo triunfe."
T. S. Eliot
T. S. Eliot
OOOOPS! MERKEL: BERLIM DEVERIA SER AQUI (NA RÚSSIA)...
Em aula de geografia, Angela Merkel aponta Berlim no mapa da Rússia
“O quê? A Rússia é tão perto?, questionou a chanceler ao ser informada sobre o erro
Opera Mundi
A chanceler alemã, Angela Merkel, visitou uma escola de seu país nesta terça-feira (29/05) e cometeu uma gafe ao participar de uma aula de geografia. Ao tentar localizar Berlim, a capital de seu próprio país, em um mapa-mundi, ela acabou indicando o território da Rússia e teve que ser auxiliada pela professora da turma.
O “desafio” foi proposto por um aluno que pediu à chanceler para que indicasse a localização de Hamburgo, sua cidade natal. Incerta, ela sugeriu que começasse a brincadeira mostrando onde estava a capital da Alemanha, Berlim.
Após apontar na direção do centro da Rússia, ela arrancou risadas dos alunos. A professora corrigiu educadamente a governante, mas Merkel conseguiu piorar a gafe: “O quê? A Rússia é tão perto? E Berlim deveria ser aqui”, insistiu.
O vídeo da cena foi publicado pela emissora russa RT. Ele já tem quase 300 mil visualizações e foi classificado pelo jornal Vecernje Novosti, de Belgrado, como "gravemente embaraçoso".
“O quê? A Rússia é tão perto?, questionou a chanceler ao ser informada sobre o erro
Opera Mundi
A chanceler alemã, Angela Merkel, visitou uma escola de seu país nesta terça-feira (29/05) e cometeu uma gafe ao participar de uma aula de geografia. Ao tentar localizar Berlim, a capital de seu próprio país, em um mapa-mundi, ela acabou indicando o território da Rússia e teve que ser auxiliada pela professora da turma.
O “desafio” foi proposto por um aluno que pediu à chanceler para que indicasse a localização de Hamburgo, sua cidade natal. Incerta, ela sugeriu que começasse a brincadeira mostrando onde estava a capital da Alemanha, Berlim.
Após apontar na direção do centro da Rússia, ela arrancou risadas dos alunos. A professora corrigiu educadamente a governante, mas Merkel conseguiu piorar a gafe: “O quê? A Rússia é tão perto? E Berlim deveria ser aqui”, insistiu.
O vídeo da cena foi publicado pela emissora russa RT. Ele já tem quase 300 mil visualizações e foi classificado pelo jornal Vecernje Novosti, de Belgrado, como "gravemente embaraçoso".
O GOVERNO INVENTOU UMA NOVA CLASSE MÉDIA: MISERÁVEL (QUEM PODE VIVER COM MENOS DE R$ 10.000?) E IGNORANTE (DESSES, QUEM SABE LER E ENTENDER O QUE LEU?).
Classe média tem renda per capita de R$ 291 a R$ 1.019, diz governo
MARIA PAULA AUTRAN - FSP
As pessoas com renda familiar per capita entre cerca de R$ 291 e R$ 1.019 são as que formam a classe média brasileira, segundo uma nova definição aprovada ontem por uma comissão da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República).
De acordo com a secretaria, essa classe representa 54% da população brasileira e é a maior do país.
Dentro da classe média, foram definidos três grupos: a baixa classe média, com renda familiar per capita entre R$ 291 e R$ 441, a média, com renda familiar per capita de R$ R$ 441 a R$ 641 e a alta classe média, cuja renda familiar per capita fica entre R$ 641 e R$ 1.019.
A classe alta estaria acima de R$ 1.019 e também foi dividida em dos grupos. A baixa classe alta ficaria entre R$ 1.019 e R$ 2.480 e a alta, que fica acima deste valor.
Os extremamente pobres têm renda per capita familiar até R$ 81 e os pobres, de R$ 81 a R$ 162.
Para definir os grupos de consumidores, foi usado o critério de vulnerabilidade, que considera a chance do brasileiro de determinada classe social voltar à condição de pobreza.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Segundo o secretário de ações estratégicas da SAE, Ricardo Paes de Barros, a nova classe média precisa viver com menos incertezas e estar instrumentalizada para aproveitar o rapidamente as oportunidades que se abrem.
Para Barros, o crescimento desse segmento da população deve-se principalmente ao acesso ao emprego formal, mas ainda há grande rotatividade dos trabalhadores, que precisa ser reduzida.
"Queremos alcançar essa estabilidade tornando mais interessante para o trabalhador permanecer no posto que ocupa e estimulando o empregador a ter interesse em mantê-lo".
Segundo Barros, a comissão analisa a criação de políticas públicas para a classe média nas seguintes frentes: um sistema de qualificação continuada do trabalhador ocupado, inovações no mercado de microsseguros, medidas para estimular a poupança nesse segmento e a educação financeira.
O ministro Moreira Franco anunciou que será criada uma ferramenta para interagir e estimular o debate, para aprofundar os estudos sobre a nova classe média.
MARIA PAULA AUTRAN - FSP
As pessoas com renda familiar per capita entre cerca de R$ 291 e R$ 1.019 são as que formam a classe média brasileira, segundo uma nova definição aprovada ontem por uma comissão da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República).
De acordo com a secretaria, essa classe representa 54% da população brasileira e é a maior do país.
Dentro da classe média, foram definidos três grupos: a baixa classe média, com renda familiar per capita entre R$ 291 e R$ 441, a média, com renda familiar per capita de R$ R$ 441 a R$ 641 e a alta classe média, cuja renda familiar per capita fica entre R$ 641 e R$ 1.019.
A classe alta estaria acima de R$ 1.019 e também foi dividida em dos grupos. A baixa classe alta ficaria entre R$ 1.019 e R$ 2.480 e a alta, que fica acima deste valor.
Os extremamente pobres têm renda per capita familiar até R$ 81 e os pobres, de R$ 81 a R$ 162.
Para definir os grupos de consumidores, foi usado o critério de vulnerabilidade, que considera a chance do brasileiro de determinada classe social voltar à condição de pobreza.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Segundo o secretário de ações estratégicas da SAE, Ricardo Paes de Barros, a nova classe média precisa viver com menos incertezas e estar instrumentalizada para aproveitar o rapidamente as oportunidades que se abrem.
Para Barros, o crescimento desse segmento da população deve-se principalmente ao acesso ao emprego formal, mas ainda há grande rotatividade dos trabalhadores, que precisa ser reduzida.
"Queremos alcançar essa estabilidade tornando mais interessante para o trabalhador permanecer no posto que ocupa e estimulando o empregador a ter interesse em mantê-lo".
Segundo Barros, a comissão analisa a criação de políticas públicas para a classe média nas seguintes frentes: um sistema de qualificação continuada do trabalhador ocupado, inovações no mercado de microsseguros, medidas para estimular a poupança nesse segmento e a educação financeira.
O ministro Moreira Franco anunciou que será criada uma ferramenta para interagir e estimular o debate, para aprofundar os estudos sobre a nova classe média.
DÓRICAS
Contradição em termos
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Em seu depoimento ao Conselho de Ética do Senado, durante cinco horas o senador Demóstenes Torres transitou entre dois papéis.
Ora mostrava profundo conhecimento do mundo e suas circunstâncias, exibindo credenciais de larga experiência nas áreas jurídica, política e administrativa, ora se apresentava como um néscio enganado durante 13 anos por um amigo íntimo, incapaz de se aperceber da impropriedade do uso de telefone, despesas de festas e viagens em aviões pagos por terceiros.
Como a figura do simplório não se coaduna com a atuação de ex-procurador-geral de Goiás, ex-secretário de Segurança Pública do mesmo Estado e senador sempre alerta para assuntos de desvios éticos e corrupção, a versão que apresentou sobre suas relações com Carlos Augusto Ramos (Cachoeira) revelou-se inverossímil.
Demóstenes Torres disse ao conselho que conheceu o hoje presidiário em 1999, mas só veio saber de suas atividades ilegais em 29 de fevereiro de 2012 quando Carlos Cachoeira foi preso, acusado de chefiar uma organização criminosa envolvida em jogatina ilegal, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, espionagem e corrupção.
Buscou confundir a cena recorrendo a uma frase de efeito - "quero ser julgado pelo que fiz não pelo que falei", como se a fala não traduzisse no mínimo a intenção do gesto - e ao argumento de que é vítima de um conluio entre o Ministério Público e a Polícia Federal, "para pegar um parlamentar e instituir um estado policialesco no Brasil".
Além de surrada, a alegação conspiratória, de largo uso entre alvos da cruzada ética em que o senador sustentou sua carreira, soa delirante diante do fato essencial.
E este é a natureza de suas relações com Carlos Cachoeira. O senador saiu do Conselho de Ética com elas mais complicadas do que quando entrou.
A opção pela negativa de total desconhecimento sobre as atividades do acusado de chefiar uma organização criminosa acabou conferindo inverosimilhança à defesa do senador, justamente pela contradição existente entre a argúcia marcante em sua trajetória profissional e a ingenuidade extrema que buscou exibir ao se defender.
Com o quê, então, o rigoroso senador que no próprio dizer frequentava todas as rodas de poder, defendia os interesses "republicanos" (discernia-os, portanto) que fosse instado a defender, não percebeu que o amigo próximo ao ponto de pagar pelos fogos de artifício da festa de formatura da mulher era o mesmo flagrado pagando propina a Waldomiro Diniz e depois indiciado pela CPI dos Bingos?
Segundo ele, acreditou quando Cachoeira lhe assegurou ter-se afastado dos negócios ilegais. Então sabia das ilegalidades, mas o teve como redimido? Justiça seja feita ao senador Demóstenes, não foi o único alegadamente crédulo nessa questão.
O governador de Goiás, Marconi Perillo, bem como vários outros empresários e políticos compraram a palavra de Carlos Cachoeira pelo valor de face deixando ao encargo do passado os fatos que, como logo se viu, estiveram sempre presentes.
No trânsito entre os dois personagens incorporados no depoimento, o senador Demóstenes deixou ao mais sagaz deles o cuidado de não envolver colegas, embora tenha acentuado as relações do réu com "dezenas de parlamentares", numa evidente aposta na salvação pelo voto secreto do plenário.
Ilegal, e daí? Um trecho de telefonema entre Demóstenes Torres e Carlos Cachoeira publicado pelo Estado e citado no Conselho de Ética pelo relator Humberto Costa, diz bastante sobre doações legais e ilegais para campanhas eleitorais.
Demóstenes demonstra receio de que a construtora Delta tenha feito "doação oficial" para ele. Tranquiliza-se quando Cachoeira garante que não.
Ou seja, caixa 2 tudo bem. Recursos devidamente contabilizados já são complicados, pois podem vir a servir de prova ou indício em eventuais investigações sobre ilícitos envolvendo doador e receptor.
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Em seu depoimento ao Conselho de Ética do Senado, durante cinco horas o senador Demóstenes Torres transitou entre dois papéis.
Ora mostrava profundo conhecimento do mundo e suas circunstâncias, exibindo credenciais de larga experiência nas áreas jurídica, política e administrativa, ora se apresentava como um néscio enganado durante 13 anos por um amigo íntimo, incapaz de se aperceber da impropriedade do uso de telefone, despesas de festas e viagens em aviões pagos por terceiros.
Como a figura do simplório não se coaduna com a atuação de ex-procurador-geral de Goiás, ex-secretário de Segurança Pública do mesmo Estado e senador sempre alerta para assuntos de desvios éticos e corrupção, a versão que apresentou sobre suas relações com Carlos Augusto Ramos (Cachoeira) revelou-se inverossímil.
Demóstenes Torres disse ao conselho que conheceu o hoje presidiário em 1999, mas só veio saber de suas atividades ilegais em 29 de fevereiro de 2012 quando Carlos Cachoeira foi preso, acusado de chefiar uma organização criminosa envolvida em jogatina ilegal, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, espionagem e corrupção.
Buscou confundir a cena recorrendo a uma frase de efeito - "quero ser julgado pelo que fiz não pelo que falei", como se a fala não traduzisse no mínimo a intenção do gesto - e ao argumento de que é vítima de um conluio entre o Ministério Público e a Polícia Federal, "para pegar um parlamentar e instituir um estado policialesco no Brasil".
Além de surrada, a alegação conspiratória, de largo uso entre alvos da cruzada ética em que o senador sustentou sua carreira, soa delirante diante do fato essencial.
E este é a natureza de suas relações com Carlos Cachoeira. O senador saiu do Conselho de Ética com elas mais complicadas do que quando entrou.
A opção pela negativa de total desconhecimento sobre as atividades do acusado de chefiar uma organização criminosa acabou conferindo inverosimilhança à defesa do senador, justamente pela contradição existente entre a argúcia marcante em sua trajetória profissional e a ingenuidade extrema que buscou exibir ao se defender.
Com o quê, então, o rigoroso senador que no próprio dizer frequentava todas as rodas de poder, defendia os interesses "republicanos" (discernia-os, portanto) que fosse instado a defender, não percebeu que o amigo próximo ao ponto de pagar pelos fogos de artifício da festa de formatura da mulher era o mesmo flagrado pagando propina a Waldomiro Diniz e depois indiciado pela CPI dos Bingos?
Segundo ele, acreditou quando Cachoeira lhe assegurou ter-se afastado dos negócios ilegais. Então sabia das ilegalidades, mas o teve como redimido? Justiça seja feita ao senador Demóstenes, não foi o único alegadamente crédulo nessa questão.
O governador de Goiás, Marconi Perillo, bem como vários outros empresários e políticos compraram a palavra de Carlos Cachoeira pelo valor de face deixando ao encargo do passado os fatos que, como logo se viu, estiveram sempre presentes.
No trânsito entre os dois personagens incorporados no depoimento, o senador Demóstenes deixou ao mais sagaz deles o cuidado de não envolver colegas, embora tenha acentuado as relações do réu com "dezenas de parlamentares", numa evidente aposta na salvação pelo voto secreto do plenário.
Ilegal, e daí? Um trecho de telefonema entre Demóstenes Torres e Carlos Cachoeira publicado pelo Estado e citado no Conselho de Ética pelo relator Humberto Costa, diz bastante sobre doações legais e ilegais para campanhas eleitorais.
Demóstenes demonstra receio de que a construtora Delta tenha feito "doação oficial" para ele. Tranquiliza-se quando Cachoeira garante que não.
Ou seja, caixa 2 tudo bem. Recursos devidamente contabilizados já são complicados, pois podem vir a servir de prova ou indício em eventuais investigações sobre ilícitos envolvendo doador e receptor.
A ARTE DE GOVERNAR (MAL)
Os vetos e a MP da presidente
O Estado de S.Paulo - Editorial
Ao vetar parcialmente o texto do Código Florestal aprovado pelo Congresso e propor novas regras por meio de medida provisória (MP), a presidente Dilma Rousseff conseguiu, ao mesmo tempo, desagradar a ruralistas e ambientalistas, perder a oportunidade de criar um novo quadro institucional que equilibre produção agrícola e preservação ambiental, alimentar a insegurança num setor essencial para a economia do País e reabrir o debate político de um tema que lhe tem criado dificuldades no relacionamento com sua base parlamentar.
Se alguma vantagem auferiu com sua decisão foi a de, com o envio da Medida Provisória 571 ao Congresso, adiar para depois da Rio + 20 - a conferência mundial sobre sustentabilidade que se realizará em junho no Rio de Janeiro - uma decisão com grande potencial para desagradar ainda mais aos ambientalistas, especialmente os militantes de organizações não governamentais estrangeiras, que comparecerão em grande número ao evento. Haveria o risco de ser ofuscada a participação da presidente na conferência, que deverá contar com a presença de mais de uma centena de chefes de Estado e de governo.
A presidente resistiu à pressão de ambientalistas e alguns ex-dirigentes de órgãos da área ambiental que, de maneira irrealista, propunham o veto total ao Código Florestal aprovado pela Câmara. Os deputados, imprudentemente, mudaram a versão aprovada pelo Senado, que tinha resultado de negociações entre o Palácio do Planalto e os senadores. O texto resultante permitia a interpretação - algo forçada, é claro - de que os desmatadores seriam anistiados. Para não desagradar inteiramente aos ambientalistas, o governo reiterou - tanto na entrevista coletiva de quatro ministros na sexta-feira passada como nas justificativas dos vetos ao texto originário do Congresso - que não aceita a "anistia ampla" de desmatadores.
O ponto mais polêmico do texto se refere às Áreas de Preservação Permanente (APPs). O texto aprovado pela Câmara autorizava "a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008". Para os imóveis rurais em áreas consolidadas de APPs ao longo de rios com largura de até 10 metros, o texto assegurava a manutenção das atividades rurais existentes, com a obrigatoriedade de recomposição de uma faixa de 15 metros, independentemente do tamanho da área.
Todo o artigo que tratava do assunto foi vetado e substituído por regras instituídas pela MP 171. Para atender a parte dos movimentos sociais do campo, influentes no PT, o governo restabeleceu regras variáveis, menos rígidas para propriedades menores.
O movimento pelo veto total mostrou o grau de irracionalidade a que - por iniciativa de ativistas da área ambiental e por erro político de outros interessados no tema - chegou o debate desse tema essencial para se estabelecer limites às atividades de um segmento indispensável para garantir a alimentação dos brasileiros, a produção de componentes de bens essenciais à vida moderna e a obtenção de saldos crescentes no comércio exterior. Ao contrário do que afirmam muitos ambientalistas, produção agropecuária e equilíbrio ambiental não são conflitantes.
Indiscutivelmente, há que haver regras para assegurar esse equilíbrio. Foi o que a Câmara procurou fazer, ao rever o texto anteriormente aprovado pelo Senado.
Mas, como apontam com sensatez muitos dirigentes rurais, o reflorestamento na forma exigida pelos ambientalistas, e parcialmente adotada pelo governo em sua nova proposta, imporá altos custos aos produtores, sobretudo os de maior porte. O ônus adicional à atividade do agronegócio afetará sua eficiência, que tem sido essencial para assegurar sua crescente produtividade e seus resultados econômicos, com os quais tem assegurado os bons números da balança comercial nos últimos anos.
Embora possa resultar em desgastes para o governo, o fato de o Congresso dispor de um prazo razoável para discutir a nova MP, podendo adiar sua decisão para depois de encerrada a Rio + 20 (a conferência terminará no dia 22 de junho), pode dar mais racionalidade ao debate.
O Estado de S.Paulo - Editorial
Ao vetar parcialmente o texto do Código Florestal aprovado pelo Congresso e propor novas regras por meio de medida provisória (MP), a presidente Dilma Rousseff conseguiu, ao mesmo tempo, desagradar a ruralistas e ambientalistas, perder a oportunidade de criar um novo quadro institucional que equilibre produção agrícola e preservação ambiental, alimentar a insegurança num setor essencial para a economia do País e reabrir o debate político de um tema que lhe tem criado dificuldades no relacionamento com sua base parlamentar.
Se alguma vantagem auferiu com sua decisão foi a de, com o envio da Medida Provisória 571 ao Congresso, adiar para depois da Rio + 20 - a conferência mundial sobre sustentabilidade que se realizará em junho no Rio de Janeiro - uma decisão com grande potencial para desagradar ainda mais aos ambientalistas, especialmente os militantes de organizações não governamentais estrangeiras, que comparecerão em grande número ao evento. Haveria o risco de ser ofuscada a participação da presidente na conferência, que deverá contar com a presença de mais de uma centena de chefes de Estado e de governo.
A presidente resistiu à pressão de ambientalistas e alguns ex-dirigentes de órgãos da área ambiental que, de maneira irrealista, propunham o veto total ao Código Florestal aprovado pela Câmara. Os deputados, imprudentemente, mudaram a versão aprovada pelo Senado, que tinha resultado de negociações entre o Palácio do Planalto e os senadores. O texto resultante permitia a interpretação - algo forçada, é claro - de que os desmatadores seriam anistiados. Para não desagradar inteiramente aos ambientalistas, o governo reiterou - tanto na entrevista coletiva de quatro ministros na sexta-feira passada como nas justificativas dos vetos ao texto originário do Congresso - que não aceita a "anistia ampla" de desmatadores.
O ponto mais polêmico do texto se refere às Áreas de Preservação Permanente (APPs). O texto aprovado pela Câmara autorizava "a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008". Para os imóveis rurais em áreas consolidadas de APPs ao longo de rios com largura de até 10 metros, o texto assegurava a manutenção das atividades rurais existentes, com a obrigatoriedade de recomposição de uma faixa de 15 metros, independentemente do tamanho da área.
Todo o artigo que tratava do assunto foi vetado e substituído por regras instituídas pela MP 171. Para atender a parte dos movimentos sociais do campo, influentes no PT, o governo restabeleceu regras variáveis, menos rígidas para propriedades menores.
O movimento pelo veto total mostrou o grau de irracionalidade a que - por iniciativa de ativistas da área ambiental e por erro político de outros interessados no tema - chegou o debate desse tema essencial para se estabelecer limites às atividades de um segmento indispensável para garantir a alimentação dos brasileiros, a produção de componentes de bens essenciais à vida moderna e a obtenção de saldos crescentes no comércio exterior. Ao contrário do que afirmam muitos ambientalistas, produção agropecuária e equilíbrio ambiental não são conflitantes.
Indiscutivelmente, há que haver regras para assegurar esse equilíbrio. Foi o que a Câmara procurou fazer, ao rever o texto anteriormente aprovado pelo Senado.
Mas, como apontam com sensatez muitos dirigentes rurais, o reflorestamento na forma exigida pelos ambientalistas, e parcialmente adotada pelo governo em sua nova proposta, imporá altos custos aos produtores, sobretudo os de maior porte. O ônus adicional à atividade do agronegócio afetará sua eficiência, que tem sido essencial para assegurar sua crescente produtividade e seus resultados econômicos, com os quais tem assegurado os bons números da balança comercial nos últimos anos.
Embora possa resultar em desgastes para o governo, o fato de o Congresso dispor de um prazo razoável para discutir a nova MP, podendo adiar sua decisão para depois de encerrada a Rio + 20 (a conferência terminará no dia 22 de junho), pode dar mais racionalidade ao debate.
"INDIÃO CHERADO" NÃO QUER SABER DE JUSTIÇA. POR QUE SERÁ?
Evo Morales, presidente da Bolívia: "Não nos interessa ter boas relações com os EUA"
Francesc Relea - El Pais
Ele não dorme mais de quatro horas. Qual é o segredo? As pequenas sestas no avião que o transporta por todos os cantos da Bolívia. "Durmo um pouquinho e já estou descansado." É difícil aguentar o ritmo endiabrado de Evo Morales Ayma, 52, o primeiro presidente indígena do novo Estado Plurinacional da Bolívia, que se propôs contra ventos e marés transformar o país andino.
Em uma escala no caminho e depois de várias mudanças na agenda, ele recebe "El País" na cidade de Cochabamba.
El País: Seis anos depois de sua chegada ao governo, quais são o maior sucesso e o maior fracasso de sua gestão?
Evo Morales: O problema que mais me doeu foi o violento confronto em Huanuni entre mineiros cooperativistas e do Estado, em 2006, no qual houve mais de dez mortos e feridos. Não foi uma luta contra o Estado e o governo, e sim entre irmãos mineiros que se enfrentaram com dinamites. E em três temas tivemos de revisar nossos decretos. O primeiro foi a liberação do preço dos combustíveis...
El País: O famoso gasolinaço.
Morales: Não é gasolinaço. Isso é o que diz a direita. Não quero pensar que você... É um decreto que vem dos governos neoliberais. A questão é: quanto o Estado perde? Este ano teremos pelo menos US$ 800 milhões de subvenção ao combustível. Além disso, entre 30% e 40% saem de contrabando.
El País: A construção de uma estrada através do Parque Nacional Isiboro Securé, na Amazônia, provocou um grande protesto de organizações indígenas e antigos colaboradores seus.
Morales: Não é um projeto novo. Eu acreditava estar cumprindo um mandato para integrar e criar três portas de entrada e saída da região amazônica para o altiplano e do altiplano para a região amazônica: por Santa Cruz, La Paz e Cochabamba. Isso é integração. Mas um grupo de irmãos indígenas se juntou com a direita para desencadear uma grande ação de oposição ao governo, com o pretexto de defender o meio ambiente. Estou convencido de que na consulta que faremos as pessoas dirão: "Façam a estrada".
El País: Algumas vozes dizem que por trás do projeto estão os interesses dos cocaleiros para ampliar as plantações de coca, interesses econômicos do Brasil...
Morales: Mas se os cocaleiros são os maiores interessados em evitar novos assentamentos. Há um pequeno grupo que gostaria de ampliar os cultivos, mas a grande maioria defende o Parque Nacional Isiboro Securé. A acusação veio justamente do império, de satanizar o cocaleiro. A folha de coca em estado natural é um produto com muitas qualidades nutritivas e medicinais. O produtor de coca não é narcotraficante, nem o consumidor de folha de coca é narcodependente. Quanto a supostos interesses brasileiros, acabamos de expulsar a construtora OAS, que não estava cumprindo as condições do contrato.
El País: Relatórios da ONU indicam que há milhares de hectares de plantações de coca que superam a superfície autorizada para consumo local e legal. Para onde vai a coca excedente?
Morales: No trópico de Cochabamba há consciência de reduzir os cultivos de coca, porque sabem que uma parte vai para um problema ilegal. Tomaram essa decisão voluntariamente, sem erradicação forçosa nem camponeses mortos. Não há livre cultivo da coca, mas também não pode haver cota zero. Há uma redução permanente.
El País: Pode dar exemplos?
Morales: Em Los Yungas e La Paz nunca houve redução de cultivos. Chegou nosso governo e no ano passado foram reduzidos mais de mil hectares em La Paz. Foi algo histórico e inédito. Mas sejamos sérios. Enquanto houver um mercado ilegal de cocaína haverá desvio de folhas de coca. A origem do narcotráfico é o mercado ilegal.
El País: Como se pode acabar com o mercado ilegal?
Morales: Pergunte aos países capitalistas, aos Estados Unidos. Em quanto se reduziu o mercado nos EUA? Não olhe para mim, dirija seu olhar para Obama.
El País: Como estão as relações da Bolívia com os EUA?
Morales: Mal. Também não gostaria de ter boas relações. Não nos interessa. Começamos a nos libertar economicamente e portanto não precisamos dos EUA. O que foi a Bolívia durante os tantos anos que durou sua aliança com os EUA? Era o penúltimo país da América. Em curto tempo nos levantamos, expulsamos o embaixador, acabamos com a base militar americana, expulsamos a DEA [agência antidrogas dos EUA]. Quando estamos sem os EUA estamos melhor.
El País: Não considera possível uma relação normal com os EUA?
Morales: Hummm, seria desejável.
El País: A Bolívia vive um processo de transformação profunda. Qual é a meta?
Morales: Igualdade, dignidade, comunidade. Em 2006 encontrei um Estado colonial mendigo. Os dados dos organismos internacionais demonstram que reduzimos tremendamente a pobreza e a mortalidade materno-infantil. Economicamente não somos tão dependentes. Dou-lhe três dados: em 2006, as reservas internacionais eram de US$ 1,7 bilhão, hoje estamos acima dos US$ 3 bilhões. Nossa maior empresa, a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), faturou US$ 300 milhões em 2005; este ano vai superar os US$ 3 bilhões. O investimento público era de US$ 600 milhões quando cheguei ao governo, hoje está estimado em mais de US$ 5 bilhões.
El País: O senhor prevê fazer novas nacionalizações depois da filial da Rede Elétrica Espanhola, e até que ponto está garantido o investimento estrangeiro na Bolívia?
Morales: Toda empresa que tiver investido na Bolívia e cumprir as condições pactuadas será respeitada. Mas há empresas que não investem, como a Rede Elétrica Espanhola, que havia investido apenas US$ 5 milhões. Nós, com nossa gestão, já estamos nos US$ 300 milhões. Temos excelentes relações com a Repsol, é um bom sócio e um prestador de serviços.
El País: Aumentam os conflitos e cresce a decepção com seu governo, inclusive na cidade de El Alto, um de seus bastiões.
Morales: Sessenta por cento de moradias com gás canalizado em toda a Bolívia estão em Al Alto. Que governo fez isso?
El País: Como o senhor vê a justiça na Bolívia?
Morales: Não me falem de justiça, por favor, não me falem.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Francesc Relea - El Pais
Ele não dorme mais de quatro horas. Qual é o segredo? As pequenas sestas no avião que o transporta por todos os cantos da Bolívia. "Durmo um pouquinho e já estou descansado." É difícil aguentar o ritmo endiabrado de Evo Morales Ayma, 52, o primeiro presidente indígena do novo Estado Plurinacional da Bolívia, que se propôs contra ventos e marés transformar o país andino.
Em uma escala no caminho e depois de várias mudanças na agenda, ele recebe "El País" na cidade de Cochabamba.
El País: Seis anos depois de sua chegada ao governo, quais são o maior sucesso e o maior fracasso de sua gestão?
Evo Morales: O problema que mais me doeu foi o violento confronto em Huanuni entre mineiros cooperativistas e do Estado, em 2006, no qual houve mais de dez mortos e feridos. Não foi uma luta contra o Estado e o governo, e sim entre irmãos mineiros que se enfrentaram com dinamites. E em três temas tivemos de revisar nossos decretos. O primeiro foi a liberação do preço dos combustíveis...
El País: O famoso gasolinaço.
Morales: Não é gasolinaço. Isso é o que diz a direita. Não quero pensar que você... É um decreto que vem dos governos neoliberais. A questão é: quanto o Estado perde? Este ano teremos pelo menos US$ 800 milhões de subvenção ao combustível. Além disso, entre 30% e 40% saem de contrabando.
El País: A construção de uma estrada através do Parque Nacional Isiboro Securé, na Amazônia, provocou um grande protesto de organizações indígenas e antigos colaboradores seus.
Morales: Não é um projeto novo. Eu acreditava estar cumprindo um mandato para integrar e criar três portas de entrada e saída da região amazônica para o altiplano e do altiplano para a região amazônica: por Santa Cruz, La Paz e Cochabamba. Isso é integração. Mas um grupo de irmãos indígenas se juntou com a direita para desencadear uma grande ação de oposição ao governo, com o pretexto de defender o meio ambiente. Estou convencido de que na consulta que faremos as pessoas dirão: "Façam a estrada".
El País: Algumas vozes dizem que por trás do projeto estão os interesses dos cocaleiros para ampliar as plantações de coca, interesses econômicos do Brasil...
Morales: Mas se os cocaleiros são os maiores interessados em evitar novos assentamentos. Há um pequeno grupo que gostaria de ampliar os cultivos, mas a grande maioria defende o Parque Nacional Isiboro Securé. A acusação veio justamente do império, de satanizar o cocaleiro. A folha de coca em estado natural é um produto com muitas qualidades nutritivas e medicinais. O produtor de coca não é narcotraficante, nem o consumidor de folha de coca é narcodependente. Quanto a supostos interesses brasileiros, acabamos de expulsar a construtora OAS, que não estava cumprindo as condições do contrato.
El País: Relatórios da ONU indicam que há milhares de hectares de plantações de coca que superam a superfície autorizada para consumo local e legal. Para onde vai a coca excedente?
Morales: No trópico de Cochabamba há consciência de reduzir os cultivos de coca, porque sabem que uma parte vai para um problema ilegal. Tomaram essa decisão voluntariamente, sem erradicação forçosa nem camponeses mortos. Não há livre cultivo da coca, mas também não pode haver cota zero. Há uma redução permanente.
El País: Pode dar exemplos?
Morales: Em Los Yungas e La Paz nunca houve redução de cultivos. Chegou nosso governo e no ano passado foram reduzidos mais de mil hectares em La Paz. Foi algo histórico e inédito. Mas sejamos sérios. Enquanto houver um mercado ilegal de cocaína haverá desvio de folhas de coca. A origem do narcotráfico é o mercado ilegal.
El País: Como se pode acabar com o mercado ilegal?
Morales: Pergunte aos países capitalistas, aos Estados Unidos. Em quanto se reduziu o mercado nos EUA? Não olhe para mim, dirija seu olhar para Obama.
El País: Como estão as relações da Bolívia com os EUA?
Morales: Mal. Também não gostaria de ter boas relações. Não nos interessa. Começamos a nos libertar economicamente e portanto não precisamos dos EUA. O que foi a Bolívia durante os tantos anos que durou sua aliança com os EUA? Era o penúltimo país da América. Em curto tempo nos levantamos, expulsamos o embaixador, acabamos com a base militar americana, expulsamos a DEA [agência antidrogas dos EUA]. Quando estamos sem os EUA estamos melhor.
El País: Não considera possível uma relação normal com os EUA?
Morales: Hummm, seria desejável.
El País: A Bolívia vive um processo de transformação profunda. Qual é a meta?
Morales: Igualdade, dignidade, comunidade. Em 2006 encontrei um Estado colonial mendigo. Os dados dos organismos internacionais demonstram que reduzimos tremendamente a pobreza e a mortalidade materno-infantil. Economicamente não somos tão dependentes. Dou-lhe três dados: em 2006, as reservas internacionais eram de US$ 1,7 bilhão, hoje estamos acima dos US$ 3 bilhões. Nossa maior empresa, a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), faturou US$ 300 milhões em 2005; este ano vai superar os US$ 3 bilhões. O investimento público era de US$ 600 milhões quando cheguei ao governo, hoje está estimado em mais de US$ 5 bilhões.
El País: O senhor prevê fazer novas nacionalizações depois da filial da Rede Elétrica Espanhola, e até que ponto está garantido o investimento estrangeiro na Bolívia?
Morales: Toda empresa que tiver investido na Bolívia e cumprir as condições pactuadas será respeitada. Mas há empresas que não investem, como a Rede Elétrica Espanhola, que havia investido apenas US$ 5 milhões. Nós, com nossa gestão, já estamos nos US$ 300 milhões. Temos excelentes relações com a Repsol, é um bom sócio e um prestador de serviços.
El País: Aumentam os conflitos e cresce a decepção com seu governo, inclusive na cidade de El Alto, um de seus bastiões.
Morales: Sessenta por cento de moradias com gás canalizado em toda a Bolívia estão em Al Alto. Que governo fez isso?
El País: Como o senhor vê a justiça na Bolívia?
Morales: Não me falem de justiça, por favor, não me falem.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
JOÃO BOSCO LEAL
Por detrás da reforma agrária
Há exatamente 10 anos, quando era presidente do MNP - Movimento Nacional de Produtores, no dia 24 de Maio de 2002, escrevi um texto mostrando o que estava por detrás das invasões de terra no país.
Como elas continuaram, apesar de agora em menor escala e utilizando como massa de manobra principalmente as populações indígenas, penso que o mesmo continua atual e resolvi republicá-lo, numa versão revisada.
A Reforma Agrária Brasileira
João Bosco Leal
Ao discorrer sobre nossa posição frente à reforma agrária brasileira, antes de qualquer coisa devemos dizer que, como cidadãos brasileiros, queremos e exigimos que a lei seja cumprida.
Invasões, saques, assassinatos, abate de gado, bloqueio de rodovias, destruição de propriedades particulares e de prédios públicos não são manifestações, são crimes e assim devem ser tratados.
O não cumprimento pelo Poder Executivo de mandados de reintegração de posse expedidos pelo Poder Judiciário também é crime e ameaça a democracia, em virtude de provocar o desequilíbrio entre os poderes legalmente constituídos.
Em nosso estado, Mato Grosso do Sul, temos hoje, 24/05/2002, seis mandados de reintegração de posse não cumpridos, sendo 01 desde 1999, 01 desde 2000, 03 de 2001 e 01 de 2002.
Num país democrático, isso é inconcebível, pois a lei existe para ser cumprida e se não se conseguiu cumpri-la através de negociações depois de três anos de tentativas, cumpra-se até com o uso da força, se necessário, mas cumpra-se, pois três anos é tempo demasiado longo para qualquer cidadão receber o amparo legal que lhe é devido, principalmente com seu imóvel invadido.
A Constituição Brasileira prevê a reforma agrária no país, e por este motivo a mesma deve ser executada, mas como nela prevista.
Existem diversas maneiras de fazer isso dentro da lei, entretanto, soluções eficazes são desprezadas ou não interessam às chamadas “lideranças”.
Muitos exemplos de como fazer isso pacifica e ordeiramente podem ser dados, como a reforma agrária através do Banco da Terra, projeto apoiado integralmente por todos os produtores rurais sensatos do país.
O projeto do governo federal onde os interessados fazem sua inscrição pelos correios e a partir daí passam por uma triagem de seleção de acordo com sua vocação também é uma boa opção.
Diversos projetos sérios, de quem procura realmente resolver os problemas agrários e querem a fixação do homem ao campo são apresentados Brasil afora, como o excelente trabalho do Dr. Paulo César de Figueiredo, digníssimo Juiz de Direito de Três Lagoas – MS, “Uma Terceira Via à Reforma Agrária: O Arrendamento Social Rural”.
Pequenas áreas públicas próximas aos centros urbanos, com uma estrutura mínima de saúde, educação e habitação poderiam ser criadas e usadas como “acampamentos provisórios”, até que as famílias que ali estivessem pudessem ser definitivamente assentadas.
Isso evitaria que estas famílias fossem expostas por suas “lideranças” a acampamentos às margens das rodovias, geralmente em condições subumanas, exclusivamente para servirem de vitrine a quem por ali passa, esperando com isto conseguir apoio da opinião pública.
Por outro lado, o custo médio total de um assentamento é de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) por família assentada. Isso se a família conseguir sobreviver com a renda proveniente desta área após o primeiro ano, o que não acontece, demandando um grande debate sobre a eficácia social deste projeto, uma vez que a grande maioria de nossa sociedade desconhece estes custos e afinal é esta sociedade quem paga a conta.
A instalação de estruturas nos assentamentos é muito complexa, em virtude das distâncias entre as residências, o que encarece em demasia a instalação de redes de água, luz, esgoto, etc. para estas famílias, coisa que o país ainda não conseguiu realizar sequer para a maioria de sua população urbana.
Pelo mesmo motivo, a educação acaba tendo um custo elevado em transporte para que os alunos residentes nos assentamentos possam chegar até a escola municipal mais próxima.
Sem escolas para os filhos dos assentados, na próxima geração teremos mais cinco “sem terra” por família assentada hoje, uma vez que este é o número médio de filhos do assentado no país, e assim sucessivamente, a cada geração, num processo sem fim e com enormes custos para a economia do país.
Além de todas estas dificuldades, devemos observar que a agropecuária moderna exige cada vez mais tecnologia e menos mão de obra para que possamos competir em um mercado globalizado, que é irreversível.
As máquinas para o trabalho no campo também são cada vez maiores, mais eficientes e mais caras, o que torna inviável sua aquisição para pequenas áreas, excluindo assim, automaticamente, essas pequenas propriedades de qualquer possibilidade de modernização.
Assim sendo, as áreas hoje destinadas à reforma agrária da maneira como estão sendo implantadas estão destinadas ao insucesso financeiro no mundo globalizado, podendo ser utilizadas exclusivamente para a agricultura de subsistência.
E essa agricultura de subsistência trará um grande problema econômico aos municípios onde estiver localizada, pois como o nome diz, sendo de subsistência para a família assentada, não gerará empregos nem excedentes de produção para exportação e, em consequência, não gerará impostos.
Ora, se não gerar empregos, não gerar impostos e, além disso, cobrar do município educação, saúde, transporte, etc., qualquer economia municipal será inviabilizada.
Depois de 25 anos vivendo intensamente o assunto, primeiramente em Presidente Prudente - SP, onde fui criado, e nos últimos cinco anos trabalhando diariamente sobre o tema na entidade que aqui represento, posso declarar textualmente que o que as lideranças dos grupos chamados “Sem Terra” querem não é e nunca foi a reforma agrária.
Uma verdadeira solução para os problemas do homem do campo, geralmente sem estudo e que por este motivo não consegue colocação digna para sua sobrevivência no meio urbano, precisando assim permanecer longe das cidades e do conforto por elas propiciado, não interessa muito às chamadas “lideranças”.
O real interesse dessas pessoas que usam e abusam desta massa de manobra humilde e desinformada é e sempre foi a tomada do poder e a mudança do regime político no país.
Observem que as principais usinas hidrelétricas, hidrovias, ferrovias, rodovias, aeroportos, indústrias, universidades, além das principais redes de telefonia e de transmissão de energia elétrica do país estão localizadas dentro de um raio de 500 Km em torno de Presidente Prudente – SP, como mostram os mapas:
Mapa Energético do país
Esta região também concentra mais de 90% (noventa por cento) das invasões de terra no país.
Coincidência? Não, além de procurarem invadir propriedades somente nos locais com a maior infraestrutura existente no país, esta é uma estratégia, estratégia de guerra, de guerrilha.
Vejamos agora trechos da cartilha utilizada nos cinco “Cursos de Capacitação de Militantes de Base do Cone Sul” já realizados em nosso estado, sempre dentro de estabelecimentos da igreja católica, que está e sempre esteve por trás destes movimentos através da Comissão Pastoral da Terra – CPT, fornecendo aos movimentos inclusive seus líderes, como o Sr. João Pedro Stédile, maior liderança do MST, que teve sua formação inicial em seminários católicos:
"… ocupação de espaços deixa de ser uma ação oportunista, para transformar-se em uma atitude revolucionária".
"… projeto nacional, que se contraponha ao projeto globalizador, formule novas táticas para desenvolver a luta de classes no país e termine com a ilusão democrata social".
"Todas as leis, decretos e medidas provisórias devem ser contestadas pela sociedade…".
"A população deve acostumar-se a ser desobediente…".
"… dirigir o processo revolucionário…".
"… envolvam toda a sociedade em lutas de massas…".
"... para que este grande movimento social possa realizar a revolução…".
"Nossa tarefa é colocar no centro da luta a Reforma Agrária… como objetivo estratégico".
"... direção correta e revolucionária para o processo de luta...".
"… criação de numerosos movimentos de massas…".
"O socialismo é uma grande causa, vale a pena morrer por ele…".
"As prefeituras podem ter influência dos assentados nos municípios do interior…".
"… escolas, faculdades e igrejas. Além destes espaços contribuírem para desenvolver o MST, como por exemplo a igreja através de suas pastorais…".
O que esperamos, como todo brasileiro que deseja um país melhor, mais humano, com menor desigualdade social, com melhor distribuição de riquezas e com maior oportunidade para todos é, antes de qualquer coisa, um país que cumpra as leis.
Não queremos uma nova Colômbia, com irmãos se destruindo em uma batalha que começou exatamente assim, com uma proposta de reforma agrária, mas que teve suas lideranças se associando com narcotraficantes e hoje está muito próxima de uma guerra civil.
Para que possamos atingir esses objetivos, são propostas do Movimento Nacional de Produtores – MNP/ MS:
Levantamento total da quantidade de recursos já utilizados neste programa de reforma agrária, objetivando uma ampla discussão com a sociedade, se os mesmos recursos não seriam melhor aproveitados investidos em saúde, educação e construção civil, por exemplo.
Investimento em uma política agrícola eficiente, que mantenha o pequeno agricultor no campo, pois enquanto o governo federal diz haver assentado 280.000 famílias, dados oficiais mostravam que 400.000 pequenos agricultores haviam deixado o campo por falta de uma política agrícola condizente com suas necessidades.
Investimentos maciços na construção civil, que além de suprir a carência habitacional existente no país absorveria grande parte da mão de obra menos qualificada.
Investimento maciço no ensino fundamental do homem do campo, proporcionando assim condições para que o mesmo tenha outras possibilidades de emprego.
Investimentos na capacitação e atualização do homem do campo, proporcionando, assim, condições para que o mesmo tenha outras possibilidades de emprego.
João Bosco Leal www.joaoboscoleal.com.br
*Jornalista, escritor e produtor rural
Há exatamente 10 anos, quando era presidente do MNP - Movimento Nacional de Produtores, no dia 24 de Maio de 2002, escrevi um texto mostrando o que estava por detrás das invasões de terra no país.
Como elas continuaram, apesar de agora em menor escala e utilizando como massa de manobra principalmente as populações indígenas, penso que o mesmo continua atual e resolvi republicá-lo, numa versão revisada.
A Reforma Agrária Brasileira
João Bosco Leal
Ao discorrer sobre nossa posição frente à reforma agrária brasileira, antes de qualquer coisa devemos dizer que, como cidadãos brasileiros, queremos e exigimos que a lei seja cumprida.
Invasões, saques, assassinatos, abate de gado, bloqueio de rodovias, destruição de propriedades particulares e de prédios públicos não são manifestações, são crimes e assim devem ser tratados.
O não cumprimento pelo Poder Executivo de mandados de reintegração de posse expedidos pelo Poder Judiciário também é crime e ameaça a democracia, em virtude de provocar o desequilíbrio entre os poderes legalmente constituídos.
Em nosso estado, Mato Grosso do Sul, temos hoje, 24/05/2002, seis mandados de reintegração de posse não cumpridos, sendo 01 desde 1999, 01 desde 2000, 03 de 2001 e 01 de 2002.
Num país democrático, isso é inconcebível, pois a lei existe para ser cumprida e se não se conseguiu cumpri-la através de negociações depois de três anos de tentativas, cumpra-se até com o uso da força, se necessário, mas cumpra-se, pois três anos é tempo demasiado longo para qualquer cidadão receber o amparo legal que lhe é devido, principalmente com seu imóvel invadido.
A Constituição Brasileira prevê a reforma agrária no país, e por este motivo a mesma deve ser executada, mas como nela prevista.
Existem diversas maneiras de fazer isso dentro da lei, entretanto, soluções eficazes são desprezadas ou não interessam às chamadas “lideranças”.
Muitos exemplos de como fazer isso pacifica e ordeiramente podem ser dados, como a reforma agrária através do Banco da Terra, projeto apoiado integralmente por todos os produtores rurais sensatos do país.
O projeto do governo federal onde os interessados fazem sua inscrição pelos correios e a partir daí passam por uma triagem de seleção de acordo com sua vocação também é uma boa opção.
Diversos projetos sérios, de quem procura realmente resolver os problemas agrários e querem a fixação do homem ao campo são apresentados Brasil afora, como o excelente trabalho do Dr. Paulo César de Figueiredo, digníssimo Juiz de Direito de Três Lagoas – MS, “Uma Terceira Via à Reforma Agrária: O Arrendamento Social Rural”.
Pequenas áreas públicas próximas aos centros urbanos, com uma estrutura mínima de saúde, educação e habitação poderiam ser criadas e usadas como “acampamentos provisórios”, até que as famílias que ali estivessem pudessem ser definitivamente assentadas.
Isso evitaria que estas famílias fossem expostas por suas “lideranças” a acampamentos às margens das rodovias, geralmente em condições subumanas, exclusivamente para servirem de vitrine a quem por ali passa, esperando com isto conseguir apoio da opinião pública.
Por outro lado, o custo médio total de um assentamento é de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) por família assentada. Isso se a família conseguir sobreviver com a renda proveniente desta área após o primeiro ano, o que não acontece, demandando um grande debate sobre a eficácia social deste projeto, uma vez que a grande maioria de nossa sociedade desconhece estes custos e afinal é esta sociedade quem paga a conta.
A instalação de estruturas nos assentamentos é muito complexa, em virtude das distâncias entre as residências, o que encarece em demasia a instalação de redes de água, luz, esgoto, etc. para estas famílias, coisa que o país ainda não conseguiu realizar sequer para a maioria de sua população urbana.
Pelo mesmo motivo, a educação acaba tendo um custo elevado em transporte para que os alunos residentes nos assentamentos possam chegar até a escola municipal mais próxima.
Sem escolas para os filhos dos assentados, na próxima geração teremos mais cinco “sem terra” por família assentada hoje, uma vez que este é o número médio de filhos do assentado no país, e assim sucessivamente, a cada geração, num processo sem fim e com enormes custos para a economia do país.
Além de todas estas dificuldades, devemos observar que a agropecuária moderna exige cada vez mais tecnologia e menos mão de obra para que possamos competir em um mercado globalizado, que é irreversível.
As máquinas para o trabalho no campo também são cada vez maiores, mais eficientes e mais caras, o que torna inviável sua aquisição para pequenas áreas, excluindo assim, automaticamente, essas pequenas propriedades de qualquer possibilidade de modernização.
Assim sendo, as áreas hoje destinadas à reforma agrária da maneira como estão sendo implantadas estão destinadas ao insucesso financeiro no mundo globalizado, podendo ser utilizadas exclusivamente para a agricultura de subsistência.
E essa agricultura de subsistência trará um grande problema econômico aos municípios onde estiver localizada, pois como o nome diz, sendo de subsistência para a família assentada, não gerará empregos nem excedentes de produção para exportação e, em consequência, não gerará impostos.
Ora, se não gerar empregos, não gerar impostos e, além disso, cobrar do município educação, saúde, transporte, etc., qualquer economia municipal será inviabilizada.
Depois de 25 anos vivendo intensamente o assunto, primeiramente em Presidente Prudente - SP, onde fui criado, e nos últimos cinco anos trabalhando diariamente sobre o tema na entidade que aqui represento, posso declarar textualmente que o que as lideranças dos grupos chamados “Sem Terra” querem não é e nunca foi a reforma agrária.
Uma verdadeira solução para os problemas do homem do campo, geralmente sem estudo e que por este motivo não consegue colocação digna para sua sobrevivência no meio urbano, precisando assim permanecer longe das cidades e do conforto por elas propiciado, não interessa muito às chamadas “lideranças”.
O real interesse dessas pessoas que usam e abusam desta massa de manobra humilde e desinformada é e sempre foi a tomada do poder e a mudança do regime político no país.
Observem que as principais usinas hidrelétricas, hidrovias, ferrovias, rodovias, aeroportos, indústrias, universidades, além das principais redes de telefonia e de transmissão de energia elétrica do país estão localizadas dentro de um raio de 500 Km em torno de Presidente Prudente – SP, como mostram os mapas:
Mapa Energético do país
Esta região também concentra mais de 90% (noventa por cento) das invasões de terra no país.
Coincidência? Não, além de procurarem invadir propriedades somente nos locais com a maior infraestrutura existente no país, esta é uma estratégia, estratégia de guerra, de guerrilha.
Vejamos agora trechos da cartilha utilizada nos cinco “Cursos de Capacitação de Militantes de Base do Cone Sul” já realizados em nosso estado, sempre dentro de estabelecimentos da igreja católica, que está e sempre esteve por trás destes movimentos através da Comissão Pastoral da Terra – CPT, fornecendo aos movimentos inclusive seus líderes, como o Sr. João Pedro Stédile, maior liderança do MST, que teve sua formação inicial em seminários católicos:
"… ocupação de espaços deixa de ser uma ação oportunista, para transformar-se em uma atitude revolucionária".
"… projeto nacional, que se contraponha ao projeto globalizador, formule novas táticas para desenvolver a luta de classes no país e termine com a ilusão democrata social".
"Todas as leis, decretos e medidas provisórias devem ser contestadas pela sociedade…".
"A população deve acostumar-se a ser desobediente…".
"… dirigir o processo revolucionário…".
"… envolvam toda a sociedade em lutas de massas…".
"... para que este grande movimento social possa realizar a revolução…".
"Nossa tarefa é colocar no centro da luta a Reforma Agrária… como objetivo estratégico".
"... direção correta e revolucionária para o processo de luta...".
"… criação de numerosos movimentos de massas…".
"O socialismo é uma grande causa, vale a pena morrer por ele…".
"As prefeituras podem ter influência dos assentados nos municípios do interior…".
"… escolas, faculdades e igrejas. Além destes espaços contribuírem para desenvolver o MST, como por exemplo a igreja através de suas pastorais…".
O que esperamos, como todo brasileiro que deseja um país melhor, mais humano, com menor desigualdade social, com melhor distribuição de riquezas e com maior oportunidade para todos é, antes de qualquer coisa, um país que cumpra as leis.
Não queremos uma nova Colômbia, com irmãos se destruindo em uma batalha que começou exatamente assim, com uma proposta de reforma agrária, mas que teve suas lideranças se associando com narcotraficantes e hoje está muito próxima de uma guerra civil.
Para que possamos atingir esses objetivos, são propostas do Movimento Nacional de Produtores – MNP/ MS:
Levantamento total da quantidade de recursos já utilizados neste programa de reforma agrária, objetivando uma ampla discussão com a sociedade, se os mesmos recursos não seriam melhor aproveitados investidos em saúde, educação e construção civil, por exemplo.
Investimento em uma política agrícola eficiente, que mantenha o pequeno agricultor no campo, pois enquanto o governo federal diz haver assentado 280.000 famílias, dados oficiais mostravam que 400.000 pequenos agricultores haviam deixado o campo por falta de uma política agrícola condizente com suas necessidades.
Investimentos maciços na construção civil, que além de suprir a carência habitacional existente no país absorveria grande parte da mão de obra menos qualificada.
Investimento maciço no ensino fundamental do homem do campo, proporcionando assim condições para que o mesmo tenha outras possibilidades de emprego.
Investimentos na capacitação e atualização do homem do campo, proporcionando, assim, condições para que o mesmo tenha outras possibilidades de emprego.
João Bosco Leal www.joaoboscoleal.com.br
*Jornalista, escritor e produtor rural
terça-feira, 29 de maio de 2012
BANDIDOS. NÃO PASSAM DISSO
Suprema indecência O Estado de S.Paulo - Editorial
Ainda que se compre pelo valor de face a inverossímil alegação do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim, de que promoveu o encontro do ministro e ex-presidente da Corte Gilmar Mendes com o ex-presidente Lula, a pedido deste, porque "gostava muito dele e o ministro sempre o havia tratado muito bem", o acatamento da solicitação foi um grave lapso moral. O seu ex-chefe (Jobim foi ministro da Defesa entre 2007 e 2011) que encontrasse outra via para transmitir a tardia gratidão ao magistrado.
Gilmar, por sua vez, errou ao aceitar a reunião. Ministros da Suprema Corte, tendo numerosos compromissos derivados de sua condição, não raro se encontram com outras autoridades, políticos, empresários e figurões em geral. Nada haveria de repreensível se, numa dessas ocasiões, Lula o abordasse para lhe dizer o que, segundo Jobim, teria querido dizer. Mas se então ouvisse do ex-presidente as palavras que lhe foram atribuídas pela revista Veja na reunião de 26 de abril no escritório de Jobim, teria de se retirar imediatamente.
Afinal, mesmo que o seu ex-colega não lhe tivesse adiantado o assunto sobre o qual Lula queria conversar, o ministro tinha tudo para adivinhar que se trataria do julgamento do mensalão, previsto para começar em agosto. Em qualquer país, raros são os que recusam convites para um tête-à-tête com um ex-chefe de Estado. Mas, por todos os motivos concebíveis, Mendes deveria ter sido uma daquelas exceções. Depois, tendo sido como foi noticiado o diálogo entre eles, não se entende por que o ministro levou tanto tempo para fazer chegar a história à imprensa.
Se ficou perplexo "com o comportamento e as insinuações despropositadas" de Lula, como afirma, deveria dar-lhes sem demora a merecida resposta pública. Bastaria a enormidade do acontecido. Se o escândalo do mensalão não tem precedentes, tampouco se tem notícia de um ex-presidente da República procurar um membro do Supremo Tribunal para dizer-lhe que considera "inconveniente" o julgamento próximo de uma ação que o alcança politicamente. A inoportunidade - teria alegado Lula - viria da coincidência com a campanha para as eleições municipais deste ano.
Não podendo remeter às calendas o julgamento de um processo aberto há sete anos contra a cúpula do PT, além de outros companheiros e seus sócios na "organização criminosa" de que fala a denúncia do Ministério Público, Lula quer empurrar o desfecho para depois da aposentadoria de dois ministros, o atual presidente Carlos Ayres Britto e Cezar Peluso, que tenderiam a votar pela condenação dos réus mais notórios. Tivesse Lula ficado nisso, já teria superado as próprias façanhas em matéria de indecências políticas.
Mas, além disso, ele não só teria ofendido o relator Joaquim Barbosa, chamando-o de "complexado"; teria avisado que incumbiria o ex-ministro Sepúlveda Pertence de "cuidar" da ministra Carmem Lúcia para que ajude no adiamento; e contado que pediu ao ministro José Dias Toffoli que não se declarasse impedido por ter sido assessor jurídico da Casa Civil, ao tempo de José Dirceu; como praticamente chantageou o interlocutor, ao oferecer-lhe proteção na CPI do Cachoeira, que teria se gabado de controlar. Proteção, no caso, contra alguma tentativa de convocá-lo a explicar as suas relações com o senador Demóstenes Torres, parceiro do contraventor.
Quando Mendes disse que elas sempre se deram nos limites institucionais, Lula teria perguntado algo como: "E a viagem a Berlim?". Os dois, de fato estiveram na capital alemã, onde mora a filha do ministro, e a viagem teria sido paga por Cachoeira - o que Mendes negou veementemente, e batendo na perna de Lula desafiou: "Vá fundo na CPI!". A revelação do ultraje levou os ministros Marco Aurélio Mello e Celso de Mello a condenar o ex-presidente da República nos termos mais duros, compatíveis com o extremo a que levou o seu despudor - algo "inimaginável", estarreceu-se Marco Aurélio. O seu colega, decano da Corte, criticou o "grave desconhecimento (de Lula) das instituições republicanas". Se ele ainda fosse presidente, resumiu com exatidão, "esse comportamento seria passível de impeachment".
Ainda que se compre pelo valor de face a inverossímil alegação do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim, de que promoveu o encontro do ministro e ex-presidente da Corte Gilmar Mendes com o ex-presidente Lula, a pedido deste, porque "gostava muito dele e o ministro sempre o havia tratado muito bem", o acatamento da solicitação foi um grave lapso moral. O seu ex-chefe (Jobim foi ministro da Defesa entre 2007 e 2011) que encontrasse outra via para transmitir a tardia gratidão ao magistrado.
Gilmar, por sua vez, errou ao aceitar a reunião. Ministros da Suprema Corte, tendo numerosos compromissos derivados de sua condição, não raro se encontram com outras autoridades, políticos, empresários e figurões em geral. Nada haveria de repreensível se, numa dessas ocasiões, Lula o abordasse para lhe dizer o que, segundo Jobim, teria querido dizer. Mas se então ouvisse do ex-presidente as palavras que lhe foram atribuídas pela revista Veja na reunião de 26 de abril no escritório de Jobim, teria de se retirar imediatamente.
Afinal, mesmo que o seu ex-colega não lhe tivesse adiantado o assunto sobre o qual Lula queria conversar, o ministro tinha tudo para adivinhar que se trataria do julgamento do mensalão, previsto para começar em agosto. Em qualquer país, raros são os que recusam convites para um tête-à-tête com um ex-chefe de Estado. Mas, por todos os motivos concebíveis, Mendes deveria ter sido uma daquelas exceções. Depois, tendo sido como foi noticiado o diálogo entre eles, não se entende por que o ministro levou tanto tempo para fazer chegar a história à imprensa.
Se ficou perplexo "com o comportamento e as insinuações despropositadas" de Lula, como afirma, deveria dar-lhes sem demora a merecida resposta pública. Bastaria a enormidade do acontecido. Se o escândalo do mensalão não tem precedentes, tampouco se tem notícia de um ex-presidente da República procurar um membro do Supremo Tribunal para dizer-lhe que considera "inconveniente" o julgamento próximo de uma ação que o alcança politicamente. A inoportunidade - teria alegado Lula - viria da coincidência com a campanha para as eleições municipais deste ano.
Não podendo remeter às calendas o julgamento de um processo aberto há sete anos contra a cúpula do PT, além de outros companheiros e seus sócios na "organização criminosa" de que fala a denúncia do Ministério Público, Lula quer empurrar o desfecho para depois da aposentadoria de dois ministros, o atual presidente Carlos Ayres Britto e Cezar Peluso, que tenderiam a votar pela condenação dos réus mais notórios. Tivesse Lula ficado nisso, já teria superado as próprias façanhas em matéria de indecências políticas.
Mas, além disso, ele não só teria ofendido o relator Joaquim Barbosa, chamando-o de "complexado"; teria avisado que incumbiria o ex-ministro Sepúlveda Pertence de "cuidar" da ministra Carmem Lúcia para que ajude no adiamento; e contado que pediu ao ministro José Dias Toffoli que não se declarasse impedido por ter sido assessor jurídico da Casa Civil, ao tempo de José Dirceu; como praticamente chantageou o interlocutor, ao oferecer-lhe proteção na CPI do Cachoeira, que teria se gabado de controlar. Proteção, no caso, contra alguma tentativa de convocá-lo a explicar as suas relações com o senador Demóstenes Torres, parceiro do contraventor.
Quando Mendes disse que elas sempre se deram nos limites institucionais, Lula teria perguntado algo como: "E a viagem a Berlim?". Os dois, de fato estiveram na capital alemã, onde mora a filha do ministro, e a viagem teria sido paga por Cachoeira - o que Mendes negou veementemente, e batendo na perna de Lula desafiou: "Vá fundo na CPI!". A revelação do ultraje levou os ministros Marco Aurélio Mello e Celso de Mello a condenar o ex-presidente da República nos termos mais duros, compatíveis com o extremo a que levou o seu despudor - algo "inimaginável", estarreceu-se Marco Aurélio. O seu colega, decano da Corte, criticou o "grave desconhecimento (de Lula) das instituições republicanas". Se ele ainda fosse presidente, resumiu com exatidão, "esse comportamento seria passível de impeachment".
CASTELO DE AREIA?
Crise evidencia problemas domésticos da economia brasileira
BBC - Brasil
A deterioração econômica nos países desenvolvidos e a desaceleração da China revelam com maior nitidez fragilidades antigas da economia brasileira, como a falta de investimentos em infraestrutura e baixa competitividade industrial.
Aliados, esses fatores atravancam uma retomada mais robusta do crescimento, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
De acordo com a pesquisa Focus, divulgada nesta segunda-feira pelo Banco Central, os agentes do mercado financeiro revisaram para baixo as previsões de crescimento do PIB em 2012, de 3,09% para 2,99%.
Para os economistas, o Brasil não está imune ao revés causado pela piora da crise financeira internacional. O seu impacto nas contas do país, no entanto, deve ter efeito apenas "comedido".
Para os especialistas, a baixa produtividade e competitividade aliadas a deficiências de infraestrutura constituem alguns dos principais empecilhos para um crescimento mais robusto.
"É nesse momento que nossos pontos fracos, como uma taxa de investimentos em relação ao PIB ainda baixa, que não foram totalmente mitigados, acabam atravacando nosso crescimento", disse à BBC Brasil Francisco Lopreato, professor de economia da Unicamp, em São Paulo.
"A lógica é simples. Sem estradas de boa qualidade e uma baixa produtividade do trabalhador, o preço dos produtos brasileiros tende a ficar mais caro, perdendo espaço para os importados internamente e sofrendo concorrência acirrada no exterior, o que acaba por afetar nosso crescimento", afirmou Sílvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria.
"A crise internacional tem sua parcela de culpa, mas se tornou um álibi do governo para explicar a letargia da economia", disse.
Reformas
Para os economistas, o Brasil "desperdiçou a oportunidade" de realizar reformas essenciais em meio à bonança econômica durante o último governo. Na ocasião, a economia cresceu a patamares elevados, desafogando, por exemplo, o setor produtivo, que ainda sofre com uma infraestrutura precária.
"Com gargalos logísticos ainda não solucionados, além de problemas crônicos estruturais, como uma elevada carga tributária e uma poupança baixa, o Brasil dificilmente conseguirá manter um crescimento sustentável de sua economia", disse Campos Neto.
Na opinião dos analistas, o país precisa de reformas para aumentar o nível de produtividade e reduzir custos operacionais e no momento atual, de crise nos países desenvolvidos, deverá fazer isso com um fluxo de capital externo agora menor, o que torna o processo mais difícil.
O cenário estaria levando investidores a "pisar no freio" com relação aos aportes no país.
Por isso, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, o Brasil encontra-se num patamar diferente do que há quatro anos, quando atravessou, sem grandes sobressaltos, o início da crise financeira internacional.
Com as exportações brasileiras afetadas pela queda no preço internacional das commodities e o consumo interno com menor espaço para crescer devido a níveis mais altos de endividamento das famílias e inadimplência, o país teria agora sua "capacidade de manobra" reduzida para ensaiar uma retomada da economia.
Analistas também destacam a pauta limitada de exportações brasileiras, compostas sobretudo por commodities de baixo valor agregado, como soja e carne.
Grécia e China
Além das incertezas trazidas pela crise europeia, sobretudo com o risco de saída da Grécia da zona do euro, outro fator de grande preocupação para o Brasil é a desaceleração da China.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil e o principal comprador de commodities brasileiras. A alta nos precos e a voracidade chinesa explica, em grande parte, o crescimento registrado na economia nacional nos últimos anos.
Para contornar a baixa no comércio internacional e a queda nas exportações, o governo tem adotado várias medidas para estimular o consumo e impulsionar o crescimento.
Na última semana, foi anunciada uma redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis, em até sete pontos percentuais, dependendo do tipo e da cilindrada do veículo.
O governo também reduziu o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para o crédito ao consumo e liberou compulsórios dos bancos com vistas a estender e baratear as linhas de financiamento.
BBC - Brasil
A deterioração econômica nos países desenvolvidos e a desaceleração da China revelam com maior nitidez fragilidades antigas da economia brasileira, como a falta de investimentos em infraestrutura e baixa competitividade industrial.
Aliados, esses fatores atravancam uma retomada mais robusta do crescimento, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
De acordo com a pesquisa Focus, divulgada nesta segunda-feira pelo Banco Central, os agentes do mercado financeiro revisaram para baixo as previsões de crescimento do PIB em 2012, de 3,09% para 2,99%.
Para os economistas, o Brasil não está imune ao revés causado pela piora da crise financeira internacional. O seu impacto nas contas do país, no entanto, deve ter efeito apenas "comedido".
Para os especialistas, a baixa produtividade e competitividade aliadas a deficiências de infraestrutura constituem alguns dos principais empecilhos para um crescimento mais robusto.
"É nesse momento que nossos pontos fracos, como uma taxa de investimentos em relação ao PIB ainda baixa, que não foram totalmente mitigados, acabam atravacando nosso crescimento", disse à BBC Brasil Francisco Lopreato, professor de economia da Unicamp, em São Paulo.
"A lógica é simples. Sem estradas de boa qualidade e uma baixa produtividade do trabalhador, o preço dos produtos brasileiros tende a ficar mais caro, perdendo espaço para os importados internamente e sofrendo concorrência acirrada no exterior, o que acaba por afetar nosso crescimento", afirmou Sílvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria.
"A crise internacional tem sua parcela de culpa, mas se tornou um álibi do governo para explicar a letargia da economia", disse.
Reformas
Para os economistas, o Brasil "desperdiçou a oportunidade" de realizar reformas essenciais em meio à bonança econômica durante o último governo. Na ocasião, a economia cresceu a patamares elevados, desafogando, por exemplo, o setor produtivo, que ainda sofre com uma infraestrutura precária.
"Com gargalos logísticos ainda não solucionados, além de problemas crônicos estruturais, como uma elevada carga tributária e uma poupança baixa, o Brasil dificilmente conseguirá manter um crescimento sustentável de sua economia", disse Campos Neto.
Na opinião dos analistas, o país precisa de reformas para aumentar o nível de produtividade e reduzir custos operacionais e no momento atual, de crise nos países desenvolvidos, deverá fazer isso com um fluxo de capital externo agora menor, o que torna o processo mais difícil.
O cenário estaria levando investidores a "pisar no freio" com relação aos aportes no país.
Por isso, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, o Brasil encontra-se num patamar diferente do que há quatro anos, quando atravessou, sem grandes sobressaltos, o início da crise financeira internacional.
Com as exportações brasileiras afetadas pela queda no preço internacional das commodities e o consumo interno com menor espaço para crescer devido a níveis mais altos de endividamento das famílias e inadimplência, o país teria agora sua "capacidade de manobra" reduzida para ensaiar uma retomada da economia.
Analistas também destacam a pauta limitada de exportações brasileiras, compostas sobretudo por commodities de baixo valor agregado, como soja e carne.
Grécia e China
Além das incertezas trazidas pela crise europeia, sobretudo com o risco de saída da Grécia da zona do euro, outro fator de grande preocupação para o Brasil é a desaceleração da China.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil e o principal comprador de commodities brasileiras. A alta nos precos e a voracidade chinesa explica, em grande parte, o crescimento registrado na economia nacional nos últimos anos.
Para contornar a baixa no comércio internacional e a queda nas exportações, o governo tem adotado várias medidas para estimular o consumo e impulsionar o crescimento.
Na última semana, foi anunciada uma redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis, em até sete pontos percentuais, dependendo do tipo e da cilindrada do veículo.
O governo também reduziu o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para o crédito ao consumo e liberou compulsórios dos bancos com vistas a estender e baratear as linhas de financiamento.
DÓRICAS
Criação coletiva
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Não, o ex-presidente Lula não perdeu o juízo como sugere em princípio o relato da pressão explícita sobre ministros do Supremo Tribunal Federal para influir no julgamento do mensalão, em particular da conversa com o ministro Gilmar Mendes eivada de impropriedades por parte de todas as partes.
Lula não está fora de si. Está, isto sim, cada vez mais senhor de si. Investido no figurino do personagem autorizado a desrespeitar tudo e todos no cumprimento de suas vontades.
E por que o faz? Porque sente que pode. E pode mesmo porque deixam que faça. A exacerbação desse rude atrevimento é fruto de criação coletiva e não surgiu da noite para o dia.
A obra vem sendo construída gradativamente no terreno da permissividade geral onde se assentam fatores diversos e interesses múltiplos, cuja conjugação conferiu a Lula o diploma de inimputável no qual ele se encontra em pleno usufruto.
Nesse último e bastante assombroso caso, produto direto da condescendência institucional - para dizer de modo leve - de dois ex-presidentes da Corte guardiã da Constituição: o advogado Nelson Jobim, que convidou, e o ministro Gilmar Mendes, que aceitou ir ao encontro do ex-presidente.
Nenhum dos dois dispõe da prerrogativa da inocência. Podiam até não imaginar que Lula chegaria ao ponto da desfaçatez extrema de explicitar a intenção de influir no processo, aconselhando o tribunal a adiar o julgamento e ainda insinuar oferta de "proteção" ao ministro.
Inverossímil é que não desconfiassem da motivação do ex-presidente que anunciou disposição de se dedicar diuturnamente ao desmonte da "farsa do mensalão" e provou isso ao alimentar a criação de uma comissão parlamentar de inquérito no intuito de embaralhar as cartas e embananar o jogo.
Mas, apenas para raciocinar aceitemos o pressuposto da ingenuidade, compremos a versão do encontro entre amigos e consideremos natural tanto o convite quanto a anuência.
À primeira questão posta - "é inconveniente julgar esse processo agora" -, à primeira pergunta feita pelo ex-presidente - "não tem como adiar o julgamento?" -, se o ministro Gilmar Mendes tivesse agradecido ao convite e polidamente se retirado, não teria ouvido o que viria a seguir, segundo o relato que fez depois ao presidente do STF, ao procurador-geral da República e ao advogado-geral da União.
Narrativa esta que se pressupõe verdadeira. Se aceitarmos a versão do desmentido apresentada por Nelson Jobim teremos de aceitar a existência de um caluniador com assento no Supremo Tribunal Federal e de esperar contra ele algum tipo de interpelação.
Tivesse dado por encerrado o encontro logo de início, o ministro Gilmar Mendes não teria ficado "perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula".
Não teria ouvido alusões ao seu possível envolvimento com o esquema Cachoeira - razão da oferta de proteção na CPMI -, não teria escutado o ex-presidente chamar o ministro Joaquim Barbosa de "complexado".
Não teria testemunhado Lula desqualificar ao mesmo tempo o ex-ministro Sepúlveda Pertence e a ministra Cármen Lúcia ao sugerir a existência de uma cadeia de comando com a frase "vou falar para o Pertence cuidar dela".
É verdade que se tivesse ido embora o ministro Gilmar Mendes teria poupado a si um enorme constrangimento.
Mas não daria ao País a oportunidade de saber que o ex-presidente tem acesso a informações de um inquérito na data da conversa (26 de abril) ainda protegido por sigilo de Justiça.
Não saberíamos que Lula diz orientar a conduta do ministro Dias Toffoli - "eu falei que ele tem que participar do julgamento"- e que afirma acompanhar de perto os passos do ministro revisor do processo do mensalão, Ricardo Lewandowski - "ele só iria apresentar o relatório no semestre que vem".
Em suma, ninguém fica bem nessa história, mas Lula fica pior ao deixar que a soberba e o ressentimento o façam porta-voz do pior combate: a desqualificação das instituições. Entre elas o papel de ex-presidente da República.
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Não, o ex-presidente Lula não perdeu o juízo como sugere em princípio o relato da pressão explícita sobre ministros do Supremo Tribunal Federal para influir no julgamento do mensalão, em particular da conversa com o ministro Gilmar Mendes eivada de impropriedades por parte de todas as partes.
Lula não está fora de si. Está, isto sim, cada vez mais senhor de si. Investido no figurino do personagem autorizado a desrespeitar tudo e todos no cumprimento de suas vontades.
E por que o faz? Porque sente que pode. E pode mesmo porque deixam que faça. A exacerbação desse rude atrevimento é fruto de criação coletiva e não surgiu da noite para o dia.
A obra vem sendo construída gradativamente no terreno da permissividade geral onde se assentam fatores diversos e interesses múltiplos, cuja conjugação conferiu a Lula o diploma de inimputável no qual ele se encontra em pleno usufruto.
Nesse último e bastante assombroso caso, produto direto da condescendência institucional - para dizer de modo leve - de dois ex-presidentes da Corte guardiã da Constituição: o advogado Nelson Jobim, que convidou, e o ministro Gilmar Mendes, que aceitou ir ao encontro do ex-presidente.
Nenhum dos dois dispõe da prerrogativa da inocência. Podiam até não imaginar que Lula chegaria ao ponto da desfaçatez extrema de explicitar a intenção de influir no processo, aconselhando o tribunal a adiar o julgamento e ainda insinuar oferta de "proteção" ao ministro.
Inverossímil é que não desconfiassem da motivação do ex-presidente que anunciou disposição de se dedicar diuturnamente ao desmonte da "farsa do mensalão" e provou isso ao alimentar a criação de uma comissão parlamentar de inquérito no intuito de embaralhar as cartas e embananar o jogo.
Mas, apenas para raciocinar aceitemos o pressuposto da ingenuidade, compremos a versão do encontro entre amigos e consideremos natural tanto o convite quanto a anuência.
À primeira questão posta - "é inconveniente julgar esse processo agora" -, à primeira pergunta feita pelo ex-presidente - "não tem como adiar o julgamento?" -, se o ministro Gilmar Mendes tivesse agradecido ao convite e polidamente se retirado, não teria ouvido o que viria a seguir, segundo o relato que fez depois ao presidente do STF, ao procurador-geral da República e ao advogado-geral da União.
Narrativa esta que se pressupõe verdadeira. Se aceitarmos a versão do desmentido apresentada por Nelson Jobim teremos de aceitar a existência de um caluniador com assento no Supremo Tribunal Federal e de esperar contra ele algum tipo de interpelação.
Tivesse dado por encerrado o encontro logo de início, o ministro Gilmar Mendes não teria ficado "perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula".
Não teria ouvido alusões ao seu possível envolvimento com o esquema Cachoeira - razão da oferta de proteção na CPMI -, não teria escutado o ex-presidente chamar o ministro Joaquim Barbosa de "complexado".
Não teria testemunhado Lula desqualificar ao mesmo tempo o ex-ministro Sepúlveda Pertence e a ministra Cármen Lúcia ao sugerir a existência de uma cadeia de comando com a frase "vou falar para o Pertence cuidar dela".
É verdade que se tivesse ido embora o ministro Gilmar Mendes teria poupado a si um enorme constrangimento.
Mas não daria ao País a oportunidade de saber que o ex-presidente tem acesso a informações de um inquérito na data da conversa (26 de abril) ainda protegido por sigilo de Justiça.
Não saberíamos que Lula diz orientar a conduta do ministro Dias Toffoli - "eu falei que ele tem que participar do julgamento"- e que afirma acompanhar de perto os passos do ministro revisor do processo do mensalão, Ricardo Lewandowski - "ele só iria apresentar o relatório no semestre que vem".
Em suma, ninguém fica bem nessa história, mas Lula fica pior ao deixar que a soberba e o ressentimento o façam porta-voz do pior combate: a desqualificação das instituições. Entre elas o papel de ex-presidente da República.
ELIÂNICAS
"STF não é sindicato"
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA - Nem Lula, nem Nelson Jobim, nem Gilmar Mendes desmentem que houve um encontro entre eles, no dia citado pela "Veja" e no escritório de Jobim. Esses são os fatos, o resto são versões e especulações. A elas.
Jobim foi ministro de Lula e é (pelo menos era até sexta-feira passada) amigo pessoal de Gilmar. Logo, um mediador perfeito para uma conversa espinhosa entre os dois, dessas que jamais podem sair na imprensa, mas vivem saindo. Seria muita cara de pau dizer que o encontro foi mera coincidência.
Gilmar vive às turras com o PT de Lula, e Lula não gosta de ninguém que não o endeuse. Gilmar e Lula não marcariam de se encontrar no escritório de Jobim só para bater um papo, tomar uma cerveja e comer amendoim. Nem para falar de flores.
Já que tratamos aqui de especulações, vamos pensar: falaram, então, do clima seco de Brasília? Da Rio+20? Do Corinthians na Libertadores? Do sucesso de Dilma? Ou, ao contrário, do novo "pibinho" de menos de 3% que se anuncia para 2012?
Afora o Corinthians, não consta que Lula esteja dando muita bola para nenhuma dessas coisas. Dizem -não os adversários, mas os fiéis seguidores- que ele só age pensando naquilo: eleição de São Paulo, CPI do Cachoeira e... mensalão. Questões, aliás, bastante intrincadas entre elas.
Logo, "se non é vero, é bene trovato" que Lula ande à cata de ministros do Supremo para adiar o julgamento do mensalão em ano eleitoral e tente usar a CPI como moeda de troca. Como também soa quase natural, até pela personalidade, Gilmar botar a boca no trombone.
Tudo faz tanto sentido que os demais ministros compraram rapidamente a história e reagiram com firmeza. O decano Celso de Mello acusa ingerência entre Poderes e Marco Aurélio Mello dá um basta: "O Supremo não é sindicato!".
Pode não ser, mas há quem trate o país como um grande sindicato.
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA - Nem Lula, nem Nelson Jobim, nem Gilmar Mendes desmentem que houve um encontro entre eles, no dia citado pela "Veja" e no escritório de Jobim. Esses são os fatos, o resto são versões e especulações. A elas.
Jobim foi ministro de Lula e é (pelo menos era até sexta-feira passada) amigo pessoal de Gilmar. Logo, um mediador perfeito para uma conversa espinhosa entre os dois, dessas que jamais podem sair na imprensa, mas vivem saindo. Seria muita cara de pau dizer que o encontro foi mera coincidência.
Gilmar vive às turras com o PT de Lula, e Lula não gosta de ninguém que não o endeuse. Gilmar e Lula não marcariam de se encontrar no escritório de Jobim só para bater um papo, tomar uma cerveja e comer amendoim. Nem para falar de flores.
Já que tratamos aqui de especulações, vamos pensar: falaram, então, do clima seco de Brasília? Da Rio+20? Do Corinthians na Libertadores? Do sucesso de Dilma? Ou, ao contrário, do novo "pibinho" de menos de 3% que se anuncia para 2012?
Afora o Corinthians, não consta que Lula esteja dando muita bola para nenhuma dessas coisas. Dizem -não os adversários, mas os fiéis seguidores- que ele só age pensando naquilo: eleição de São Paulo, CPI do Cachoeira e... mensalão. Questões, aliás, bastante intrincadas entre elas.
Logo, "se non é vero, é bene trovato" que Lula ande à cata de ministros do Supremo para adiar o julgamento do mensalão em ano eleitoral e tente usar a CPI como moeda de troca. Como também soa quase natural, até pela personalidade, Gilmar botar a boca no trombone.
Tudo faz tanto sentido que os demais ministros compraram rapidamente a história e reagiram com firmeza. O decano Celso de Mello acusa ingerência entre Poderes e Marco Aurélio Mello dá um basta: "O Supremo não é sindicato!".
Pode não ser, mas há quem trate o país como um grande sindicato.
O MOLUSCO CANCEROSO ATACA NOVAMENTE
Lula contra Gilmar
FSP - Editorial
Choque de versões quanto a encontro do ex-presidente com ministro do STF eleva temperatura e ansiedade com o julgamento do mensalão
O mais acabrunhante no episódio da estranha reunião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes relatada na revista "Veja" está no fato de ela soar absolutamente plausível.
Revela-se, de pronto, o abismo que separa a opinião pública dos operadores políticos no Brasil. Estes hão de considerar trivial o encontro. Àquela fica patente sua total impropriedade, quando se sabe que Lula está em campanha frenética para negar o mensalão -o mesmo escândalo cujas provas o procurador-geral da República e o Supremo consideraram suficientes para levar 38 réus a julgamento.
Por certo falta esclarecer o real teor da conversa, mas ninguém negou que a reunião tenha ocorrido. No contexto da CPI exigida do Congresso por um Lula sequioso de produzir ali o antídoto ao iminente processo do mensalão, o encontro de abril arranjado à socapa pelo onipresente Nelson Jobim já pareceria suspeito; que Lula o tenha usado para fazer pressão -ou até chantagem- sobre Gilmar o colocaria definitivamente na categoria do intolerável.
O ex-presidente mandou negar, por certo, a proposta de barganhar proteção a Gilmar na CPI pela protelação do julgamento. Não se concebe, porém, quais motivos teria o ministro do STF para dar versão tão peremptória e comprometedora do encontro, que só agora, decorrido quase um mês, veio a público.
A confirmar-se na sua inteireza o relato de Gilmar (em parte desautorizado por Jobim, mencione-se, ainda que sem acréscimo de veracidade), Lula se revelará quase irreconhecível: tomado pela ansiedade com o exame do maior escândalo político desde o Collorgate e entregue à retaliação contra demistas, tucanos e a imprensa independente, em franca contradição com a lendária intuição política que conduziu o líder operário à Presidência da República.
A soberba do ex-mandatário talvez não lhe permita perceber, como a todos parece, que terá dado um passo temerário, no encontro tal como narrado, ao tentar comprometer a independência de um ministro do STF. Que dê ouvidos então a outro, Celso de Mello (em declaração ao portal Consultor Jurídico): "Se ainda fosse presidente da República, esse comportamento seria passível de impeachment por configurar infração político-administrativa, em que um chefe de Poder tenta interferir em outro".
Tal é a gravidade do evento que reuniu um ex-presidente da República e dois ex-presidentes do Supremo (um deles ainda ministro da corte): se um dia for elucidado, ficará evidente que um (ou dois) dos três próceres faltou com a prudência, se não com a verdade.
FSP - Editorial
Choque de versões quanto a encontro do ex-presidente com ministro do STF eleva temperatura e ansiedade com o julgamento do mensalão
O mais acabrunhante no episódio da estranha reunião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes relatada na revista "Veja" está no fato de ela soar absolutamente plausível.
Revela-se, de pronto, o abismo que separa a opinião pública dos operadores políticos no Brasil. Estes hão de considerar trivial o encontro. Àquela fica patente sua total impropriedade, quando se sabe que Lula está em campanha frenética para negar o mensalão -o mesmo escândalo cujas provas o procurador-geral da República e o Supremo consideraram suficientes para levar 38 réus a julgamento.
Por certo falta esclarecer o real teor da conversa, mas ninguém negou que a reunião tenha ocorrido. No contexto da CPI exigida do Congresso por um Lula sequioso de produzir ali o antídoto ao iminente processo do mensalão, o encontro de abril arranjado à socapa pelo onipresente Nelson Jobim já pareceria suspeito; que Lula o tenha usado para fazer pressão -ou até chantagem- sobre Gilmar o colocaria definitivamente na categoria do intolerável.
O ex-presidente mandou negar, por certo, a proposta de barganhar proteção a Gilmar na CPI pela protelação do julgamento. Não se concebe, porém, quais motivos teria o ministro do STF para dar versão tão peremptória e comprometedora do encontro, que só agora, decorrido quase um mês, veio a público.
A confirmar-se na sua inteireza o relato de Gilmar (em parte desautorizado por Jobim, mencione-se, ainda que sem acréscimo de veracidade), Lula se revelará quase irreconhecível: tomado pela ansiedade com o exame do maior escândalo político desde o Collorgate e entregue à retaliação contra demistas, tucanos e a imprensa independente, em franca contradição com a lendária intuição política que conduziu o líder operário à Presidência da República.
A soberba do ex-mandatário talvez não lhe permita perceber, como a todos parece, que terá dado um passo temerário, no encontro tal como narrado, ao tentar comprometer a independência de um ministro do STF. Que dê ouvidos então a outro, Celso de Mello (em declaração ao portal Consultor Jurídico): "Se ainda fosse presidente da República, esse comportamento seria passível de impeachment por configurar infração político-administrativa, em que um chefe de Poder tenta interferir em outro".
Tal é a gravidade do evento que reuniu um ex-presidente da República e dois ex-presidentes do Supremo (um deles ainda ministro da corte): se um dia for elucidado, ficará evidente que um (ou dois) dos três próceres faltou com a prudência, se não com a verdade.
domingo, 27 de maio de 2012
DÓRICAS
Espalha brasa
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Convocado ou não, o governador Marconi Perillo está pronto para ir à CPMI que investiga as conexões público-privadas da organização Cachoeira e nesta terça-feira decide, além da quebra de sigilos da matriz da construtora Delta, se chama ou não para depor os governadores de Goiás, Brasília e Rio de Janeiro.
Caso a comissão resolva não convocar os governadores, Perillo (GO) examina fortemente a hipótese de ainda assim se oferecer para depor. Contraria, nessa posição, a opinião de seu partido (PSDB) que considera sua ida arriscada por expor o governador a um massacre político patrocinado pelo PT.
Marconi Perillo concorda em parte. Acha que é mesmo alvo de "uma CPMI que nasceu direcionada para atingir a imprensa, desmoralizar o procurador da República, enfraquecer a oposição e desviar o foco do julgamento do mensalão".
Por isso, em princípio não veria "razão objetiva" para ser convocado. Mas, segundo ele, as "razões subjetivas" existem e não podem ser ignoradas.
Dos três governadores, reconhece, é o mais atingido. Portanto, melhor ir "e esclarecer tudo de uma vez" do que não ir e sangrar na opinião pública como suspeito.
Uma espécie de contra-ataque no qual incluirá a apresentação de uma proposta para que se faça a CPI das Empreiteiras. "Aí se poderia obter um quadro bastante realista sobre financiamentos de campanhas eleitorais no Brasil."
O roteiro de Perillo na CPMI já está praticamente concluído: da exposição inicial - em que ressaltará a importância de instrumentos de fiscalização como comissões de inquérito - aos documentos que levará mostrando que os negócios da Delta em Goiás começaram no governo do PMDB e prosperaram também em administrações do PT.
Sobre a venda da casa onde foi preso Carlos Augusto de Almeida Ramos no fim de fevereiro, exibirá uma entrevista que deu na ocasião dizendo exatamente o que Wladimir Garcez Henrique - lobista da Delta e braço direito de Cachoeira - disse à CPMI na última quinta-feira.
"Não há choque de versões", atesta. Na edição de 3 de março, o jornal O Popular, de Goiás, registra que o governador contou ter sido procurado por Wladimir, interessado em comprar a casa. "Quando fui passar a escritura, ele me informou que o (empresário) Walter Paulo seria o comprador. Recebi três cheques e fui fazendo os depósitos como combinado."
Sim, mas como o governador explica ter recebido os três cheques assinados por Leonardo de Almeida Ramos, sobrinho de alguém que já havia sido protagonista do escândalo Waldomiro Diniz?
Pois é, não explica. Atribui a "erro imperdoável" o fato de não ter verificado a identidade de quem assinada os cheques. "Daí o desgaste extremo que venho sofrendo."
Segundo ele, injusto, pois "quem primeiro levou Cachoeira a fazer negócios com o governo foi o Maguito (Vilela, do PMDB), em 1995, para exploração da loteria estadual por meio da empresa Gerplan".
A Delta, de acordo com o governador, entrou em Goiás pelas mãos do mesmo partido quando Íris Rezende era prefeito de Goiânia, em 2005.
Perillo apresentará à comissão certidões do tribunal de contas mostrando que entre 2005 e 2011 a empreiteira recebeu cerca de R$ 300 milhões de contratos firmados em Goiânia, Aparecida de Goiás, Anápolis e Catalão, em gestões do PT e do PMDB.
Com isso, pretende demonstrar a "diversificação" geográfica e partidária da atuação da Delta em Goiás.
Voltemos a Carlos Cachoeira, já que Perillo é citado nos grampos da Operação Monte Carlo que registra um telefonema dele para o hoje presidiário e na época prestigiado empresário no Estado - "morava no edifício onde moram os mais ricos de Goiânia".
O governador qualifica suas relações com ele como "absolutamente esporádicas". E o que significa isso?
"Que o recebi uma vez a pedido do senador Demóstenes, que o encontrei em dois ou três jantares e que telefonei para ele uma vez para cumprimentar pelo aniversário."
A propósito de quê, se não eram próximos? "Estava numa festa, bebendo vinho numa roda de amigos que sugeriram e eu telefonei."
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Convocado ou não, o governador Marconi Perillo está pronto para ir à CPMI que investiga as conexões público-privadas da organização Cachoeira e nesta terça-feira decide, além da quebra de sigilos da matriz da construtora Delta, se chama ou não para depor os governadores de Goiás, Brasília e Rio de Janeiro.
Caso a comissão resolva não convocar os governadores, Perillo (GO) examina fortemente a hipótese de ainda assim se oferecer para depor. Contraria, nessa posição, a opinião de seu partido (PSDB) que considera sua ida arriscada por expor o governador a um massacre político patrocinado pelo PT.
Marconi Perillo concorda em parte. Acha que é mesmo alvo de "uma CPMI que nasceu direcionada para atingir a imprensa, desmoralizar o procurador da República, enfraquecer a oposição e desviar o foco do julgamento do mensalão".
Por isso, em princípio não veria "razão objetiva" para ser convocado. Mas, segundo ele, as "razões subjetivas" existem e não podem ser ignoradas.
Dos três governadores, reconhece, é o mais atingido. Portanto, melhor ir "e esclarecer tudo de uma vez" do que não ir e sangrar na opinião pública como suspeito.
Uma espécie de contra-ataque no qual incluirá a apresentação de uma proposta para que se faça a CPI das Empreiteiras. "Aí se poderia obter um quadro bastante realista sobre financiamentos de campanhas eleitorais no Brasil."
O roteiro de Perillo na CPMI já está praticamente concluído: da exposição inicial - em que ressaltará a importância de instrumentos de fiscalização como comissões de inquérito - aos documentos que levará mostrando que os negócios da Delta em Goiás começaram no governo do PMDB e prosperaram também em administrações do PT.
Sobre a venda da casa onde foi preso Carlos Augusto de Almeida Ramos no fim de fevereiro, exibirá uma entrevista que deu na ocasião dizendo exatamente o que Wladimir Garcez Henrique - lobista da Delta e braço direito de Cachoeira - disse à CPMI na última quinta-feira.
"Não há choque de versões", atesta. Na edição de 3 de março, o jornal O Popular, de Goiás, registra que o governador contou ter sido procurado por Wladimir, interessado em comprar a casa. "Quando fui passar a escritura, ele me informou que o (empresário) Walter Paulo seria o comprador. Recebi três cheques e fui fazendo os depósitos como combinado."
Sim, mas como o governador explica ter recebido os três cheques assinados por Leonardo de Almeida Ramos, sobrinho de alguém que já havia sido protagonista do escândalo Waldomiro Diniz?
Pois é, não explica. Atribui a "erro imperdoável" o fato de não ter verificado a identidade de quem assinada os cheques. "Daí o desgaste extremo que venho sofrendo."
Segundo ele, injusto, pois "quem primeiro levou Cachoeira a fazer negócios com o governo foi o Maguito (Vilela, do PMDB), em 1995, para exploração da loteria estadual por meio da empresa Gerplan".
A Delta, de acordo com o governador, entrou em Goiás pelas mãos do mesmo partido quando Íris Rezende era prefeito de Goiânia, em 2005.
Perillo apresentará à comissão certidões do tribunal de contas mostrando que entre 2005 e 2011 a empreiteira recebeu cerca de R$ 300 milhões de contratos firmados em Goiânia, Aparecida de Goiás, Anápolis e Catalão, em gestões do PT e do PMDB.
Com isso, pretende demonstrar a "diversificação" geográfica e partidária da atuação da Delta em Goiás.
Voltemos a Carlos Cachoeira, já que Perillo é citado nos grampos da Operação Monte Carlo que registra um telefonema dele para o hoje presidiário e na época prestigiado empresário no Estado - "morava no edifício onde moram os mais ricos de Goiânia".
O governador qualifica suas relações com ele como "absolutamente esporádicas". E o que significa isso?
"Que o recebi uma vez a pedido do senador Demóstenes, que o encontrei em dois ou três jantares e que telefonei para ele uma vez para cumprimentar pelo aniversário."
A propósito de quê, se não eram próximos? "Estava numa festa, bebendo vinho numa roda de amigos que sugeriram e eu telefonei."
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