sábado, 12 de maio de 2012

COMO SEMPRE, NAS COXAS

Os efeitos negativos de medidas apressadas
O Estado de S.Paulo
Medidas tomadas pelo governo para recuperar a economia com uma pressa excessiva têm um resultado contrário ao esperado. Seja na taxa de crescimento, seja na desvalorização da moeda nacional e na expansão do crédito.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, queixa-se do insuficiente crescimento do volume do crédito. E, agora, como já é costume, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, volta a exprimir a mesma queixa - embora num passado recente os documentos do BC clamassem por política de redução do ritmo de expansão de crédito, especialmente para as pessoas físicas.
Ainda que, em março, a expansão do crédito para as famílias, nos 12 últimos meses, registrasse 20,3% (mais que o limite que o BC considerava razoável), no primeiro trimestre foi de apenas 3,2%, embora represente 15,8% do PIB.
O que o ministro da Fazenda e o presidente do BC parecem esquecer é de que o baixo ritmo de crescimento do crédito resulta de boa parte das medidas que adotaram. Ao forçar uma redução das taxas de juros, por meio do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal - num momento em que a insolvência atinge valor preocupante -, as autoridades tinham de saber que, para enfrentar uma concorrência dessas, as instituições financeiras privadas se mostrariam muito mais exigentes quanto à qualidade dos créditos outorgados. Com efeito, a elevação da inadimplência as obriga a manter reservas maiores, o que está reduzindo as disponibilidades para fazer novos empréstimos.
Mas o governo, ao pedir maior expansão do crédito às famílias para aumentar a demanda doméstica, parece não ter levado em conta os efeitos sociais dessa política, com a expansão da classe C. É que o aumento da renda dos trabalhadores, depois de uma elevação do salário mínimo e com o efeito da revisão de todos os outros níveis salariais, gera um novo patamar de poder aquisitivo. Este se reflete num forte aumento do endividamento, não apenas para a aquisição da casa própria (que vai exigir a compra de numerosos bens para equipá-la), mas também de outros bens de consumo duráveis que são pagos com uma prestação aparentemente reduzida.
Os bancos enfrentam mutuários altamente endividados, aos quais não podem oferecer créditos quando outras prestações estão atrasadas. Paralelamente, a provisória desvalorização do real reduz fortemente o efeito deflacionista dos produtos importados. Faltou ao governo consultar os sociólogos...

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