Sob recessão, Europa rediscute austeridade
François Hollande, presidente eleito da França, encontra alemã Angela Merkel na terça para tratar de crescimento
Números que serão divulgados no dia da conversa dos líderes devem confirmar queda do PIB na zona do euro
ÁLVARO FAGUNDES/RODRIGO RUSSO - FSP
O crescimento finalmente vai se encontrar com a austeridade nesta semana na Europa, mas as mudanças nessa relação, se vierem, deverão ser sutis e a região caminha para nova recessão, indicam dados e analistas.
A chanceler alemã, Angela Merkel, defensora do controle rígido dos gastos públicos, recebe depois de amanhã, em Berlim, François Hollande, que horas antes toma posse em Paris e se elegeu prometendo incluir o "crescimento" nas decisões sobre os rumos do bloco.
No mesmo dia do encontro "para que os dois se conheçam", como definiu o porta-voz de Merkel, será divulgado o PIB de janeiro a março, que, assim como nos três meses anteriores, deve ter se contraído, derrubando a zona do euro para recessão pela primeira vez desde 2009.
Essa não é apenas a previsão de analistas, como é também o que mostram indicadores como produção da indústria, vendas do varejo e crédito ao setor privado.
Se a Alemanha deve ter voltado a crescer (após a queda no quarto trimestre) e a França deve ter continuado a se expandir (ainda que a taxas modestas), a aposta é que as demais grandes economias (Itália e Holanda entre elas) terão queda no PIB.
A Espanha já confirmou que está em recessão, e Portugal e Grécia devem permanecer no ciclo negativo.
Não é muito diferente do panorama projetado para este ano pela Comissão Europeia, anteontem, que prevê queda de 0,3% no PIB dos 17 países que usam o euro.
Nesse cenário, a maioria dos especialistas ouvidos pela Folha afirma que os países em crise do continente precisam de um relaxamento nas medidas de austeridade.
"Ao menos os líderes europeus estão começando a falar de crescimento, e não apenas de austeridade, austeridade, austeridade, o que é um passo na direção certa, mesmo que as iniciativas para crescer ainda sejam muito tímidas", diz Howard Archer, economista-chefe da consultoria IHS Global Insight.
Para ele, alguma ideias que podem ser colocadas em prática são o aumento do papel do Banco Europeu de Investimento, o uso de fundos da União Europeia para infraestrutura e até mesmo a captação de recursos no mercado.
Medidas mais ousadas, porém, diz Archer, devem esbarrar na Alemanha, a maior economia do bloco, apesar das pressões de Hollande.
A Alemanha é quem tem mais responsabilidades financeiras nos pacotes do bloco, e Merkel não pode desagradar mais ao eleitorado, ainda mais com eleição em 2013 -muitos estão descontentes com a ajuda a países considerados irresponsáveis.
Para Archer, o melhor meio seria permitir um pouco mais de flexibilidade no curto prazo para as medidas de austeridade em países como Espanha e Itália, permitindo que se comprometam com reformas estruturais e metas fiscais de longo prazo. "Um aperto fiscal muito duro pode ser contraproducente."
John Fender, professor de economia na Universidade de Birmingham, discorda e diz que a Alemanha está fazendo a coisa certa ao pressionar o continente a adotar estabilidade fiscal. "A longo prazo, o futuro da Europa envolve um pacto fiscal."
Ele diz acreditar que mesmo políticos como o socialista Hollande terão que moderar seu discurso, pois os mercados atuam como forças disciplinadoras dos políticos.
Já Spyros Blavoukos, professor da Universidade de Atenas de Economia e Administração, diz que a crise política grega, a deposição do governo na Holanda e a eleição na França podem ser "bênçãos disfarçadas, que levem a um novo ambiente político, a um levante europeu".
Blavoukos entende que as medidas de austeridade impostas à Grécia são muito severas, indo além da estabilidade fiscal -que é necessária, faz questão de ressaltar.
Ele diz que uma solução realista é pedir um prazo de três anos de relaxamento das medidas de austeridade, abrindo mais espaço para a recuperação econômica e permanecendo na zona do euro.
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