terça-feira, 15 de maio de 2012

"NINGUÉM ME AMA, NINGUÉM ME QUER" - É A GRÉCIA SENDO DESPEJADA DA ZONA DO EURO

Bancos já se preparam para o retorno da dracma

O Estado de S.Paulo
Uma desvalorização da dracma de 50%, uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 20%, inflação de até 50%. Esses seriam alguns dos cenários que poderiam se materializar se a Grécia deixar a zona do euro e voltar a adotar sua moeda nacional.
Mas o que ninguém sabe em Bruxelas e nas capitais europeias é exatamente o que deve ocorrer legalmente para Atenas deixar a moeda única.
Bancos e empresas já se prepararam para um eventual retorno da dracma, enquanto líderes políticos não se entendem sobre qual seria o status da Grécia se o euro fosse abandonado.
Debater a saída da Grécia da zona do euro deixou de ser um tabu, seja entre governo, bancos ou comércio. Segundo o analista Hartmut Grossman, da ICS Risk Advisors, bancos já começaram a buscar conselhos sobre como fazer a transição ainda em 2009.
Departamentos jurídicos dos grandes bancos teriam mergulhado na avaliação dos contratos para entender como transformá-los para outra moeda. 
Uma das maiores operadoras de turismo do mundo, a Kuoni, também já admitiu que fez sua preparação para a volta da dracma, principalmente porque se trata de um país-chave em roteiros turísticos.
Dentro da Grécia, revelações ontem apontaram que o próprio governo de George Papandreou, que caiu no ano passado, já havia pensando em deixar a zona do euro. Quem confirma isso é um de seus assessores mais próximos, Richard Parker, em entrevista à Sky News.
Segundo ele, a proposta foi "seriamente debatida" já em 2010. A ideia era sair da moeda comum, desvalorizar a dracma, dando maior competitividade para as exportações.
Parker, que hoje é professor da Universidade de Harvard, apontou que o setor do turismo e do transporte marítimo foram contrários. Na discussão, até mesmo argentinos foram chamados para contar o que fizeram em sua crise há dez anos. Mas a conclusão final foi de que sair do euro não valeria a pena.
Confusão. Entre os líderes europeus, a confusão é grande, já que nenhum tratado diz qual seria o procedimento para a saída de um país da moeda única. Ontem, diplomatas em Bruxelas apontavam que uma medida obrigatória seria o anúncio do governo de que voltaria a imprimir a moeda local e o estabelecimento de um prazo para a transição.
Politicamente, as incertezas são ainda maiores. Ontem, a chanceler alemã, Angela Merkel, garantiu que a Grécia "sempre" faria parte da União Europeia, numa mensagem de que o eventual abandono do euro não significa o fim de sua participação no bloco. "Isso nem se discute", apontou. "Acredito que seria melhor para os gregos permanecer na zona do euro. Mas isso exige que tenhamos um plano pelo qual a Grécia consiga se levantar de novo, passo a passo", indicou. "A solidariedade só vai terminar quando a Grécia disser: não vamos cumprir os acordos", disse. Segundo ela, porém, não há alternativa à austeridade.
Mas nem todos pensam como Merkel. Para a ministra de Finanças da Áustria, Maria Fekter, a saída da zona do euro deve ser seguida também por uma saída da União Europeia. Hoje, o bloco conta com 27 países. Mas apenas 17 usam a moeda comum. Hoje, se a Grécia pedisse para aderir à UE, teria sua candidatura rejeitada por não atender aos critérios econômicos.

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