Femen: seus atos podem mudar o mundo ou apenas alimentam uma mídia obcecada por sexo?
Dialika Neufeld - Der Spiegel
Patrick Kovarik/AFP
Ativistas do Femen fazem protestos seminuas e em diversas partes do mundo
O grupo ativista ucraniano Femen ganhou manchetes por todo o mundo ao despir seus seios em protestos contra a prostituição, a exploração e a corrupção. Mas seus atos nus podem mudar algo ou apenas fornecem imagem para uma mídia obcecada por sexo?
Oksana Shachko, uma garota com rosto de boneca, deverá ir para a prisão por cinco anos.
É uma fresca quinta-feira de primavera na Ucrânia enquanto a jovem de 24 anos caminha pelas ruas de Kiev com seu advogado. Ela está vestindo uma jaqueta de couro e botas pretas, com um cigarro quase terminado pendurado entre seus dedos. Cinco anos, porque ela exibiu seus seios em público novamente.
A audiência no Ministério do Interior é às 17h, e eles estão com pressa. Em sua caminhada, eles passam por prédios altos, marrons e cinzas, da época de Stalin. Eles discutem modos de dar uma interpretação positiva à expressão “vá à merda”, que é o que Oksana disse ao embaixador indiano. “Era um protesto feliz. Um protesto feliz pelos direitos das mulheres ucranianas”, Oksana finalmente disse. Ela decidiu que era o que diria na audiência no Ministério do Interior.
Shachko é uma ativista dos direitos das mulheres ucranianas, e as armas dela estão ligadas ao seu corpo pequeno e pálido, como as duas metades de uma maçã.
As armas dela são o símbolo de feminilidade, maternidade e sensualidade, e cineastas e publicitários as utilizaram milhões de vezes para vender de tudo, de iogurte a aspiradores de pó. Elas puseram Oksana e sua luta em capas de todo o mundo e a transformaram, juntamente com suas companheiras, em garotas de capa de um movimento internacional de protesto --ícones de uma rebelião nua.
Aqueles que apoiam o movimento acreditam que, ao usarem essas armas, as mulheres inventaram um novo feminismo. Os críticos dizem que elas estão transformando a si mesmas em pornografia com essas armas.
Marxismo em vez de casamento
Elas eram adolescentes, a mais velha com pouco mais de 20 anos, quando tudo começou, diz Oksana, e os pais delas esperavam que elas se casassem cedo. As criadoras do movimento são Oksana, Anna Hutsol e Sasha Shevchenko. Inicialmente, elas viviam em Khmelnytskyi, uma cidade com 300 mil habitantes e dois reatores nucleares.
Não havia muitos empregos, e os homens bebiam. As garotas, por sua vez, passavam longas noites discutindo filosofia, marxismo e a situação das mulheres na sociedade pós-soviética. Elas decidiram que, em vez de se casarem, promoveriam mudanças.
Elas eram apenas três no início, mas agora o movimento, cujas fileiras incluem estudantes, jornalistas e economistas, se espalhou por toda a Ucrânia e inclui mais de 300 mulheres. Chamando a si mesmas de “Femen”, elas iniciaram um movimento que também atraiu mulheres na Tunísia e nos Estados Unidos. É um movimento que encoraja até mesmo ativistas de direitos da mulher experientes a se despirem.
“Talvez precisaremos de asilo político”, diz Oksana. “Aquilo de que me acusam é absurdo.” Ela e seu advogado chegam ao Ministério do Interior.
Acusada de vandalismo
Oksana é uma pintora profissional de ícones e vive em um apartamento estúdio decrépito em Kiev, com bolor verde no teto. Em outras palavras, ela tem uma profissão e está vivendo uma vida ucraniana comum de pobreza e turbulência. Mas seu apartamento está cheio de cartazes de protesto, e ela desenhou uma imagem de uma ativista Femen, com cabelo solto e peitos desnudos, na parede. É um autorretrato de uma mulher que está causando bastante confusão.
Ela foi solta de uma prisão em Moscou há poucos dias, após ter tentado --com os seios expostos-- roubar a urna contendo o voto do líder russo Vladimir Putin durante a eleição presidencial de 4 de março. A ação lhe rendeu duas semanas de prisão.
Agora ela é acusada de vandalismo e de ocupar a embaixada indiana para protestar contra a alegação do Ministério das Relações Exteriores indiano de que as mulheres dos países pós-soviéticos vão para a Índia para trabalharem como prostitutas.
Apesar da embaixada indiana negar a alegação, isso não impediu Oksana e três outras mulheres de invadirem o prédio. Elas acenavam a bandeira indiana e a batiam contra portas e janelas, gritando: “As mulheres ucranianas não são prostitutas” e “vá à merda”.
Usando o corpo para vender ideias
Essas campanhas de protesto geralmente começam no Café Kupidon. Enquanto Oksana depõe no Ministério do Interior, Anna Hutsol está sentada a uma mesa do café, trabalhando na próxima campanha. O Café Kupidon fica no porão de um casarão na Pushkinskaya Ulitsa, ou rua Pushkin. O café sem janelas serve com quartel-general, escritório e centro de imprensa do Femen. É onde as ativistas recrutam novos membros, apesar de algumas não precisarem ser recrutadas. O grupo já inclui 30 ativistas nuas, mulheres jovens atraentes e idealistas. Elas se reúnem no café, onde bebem suco de maçã e fumam sem parar.
A imagem da mulher ucraniana é tingida pelo clichê de que ela é bela, pobre e fácil. O tráfico de mulheres e a prostituição são desenfreados na Ucrânia, que é co-sede da Eurocopa de 2012. Por toda a parte em Kiev, no metrô e nos classificados, as mulheres são recrutadas com falsas promessas de emprego. Uma frase como “garçonete em clube” é frequentemente um código para prostituta em um bordel.
Muitas caem nessas ofertas porque são pobres e não têm perspectivas. Quase 9% dos ucranianos estão desempregados e muitos deles são mulheres. “Se o corpo da mulher pode vender todo tipo de coisa, nós também temos que usá-lo para vender ideias sociais”, diz Hutsol, enquanto coloca seu cigarro em um cinzeiro cheio. Elas realizaram seu primeiro protesto em meados de 2008, quando tomaram as ruas em roupas de prostituta. “A Ucrânia não é um bordel”, elas gritavam, segurando seus cartazes. O protesto atraiu atenção da mídia e prontamente provocou um debate. De repente, as mulheres perceberam que a produção de escândalo se traduzia em poder. Ao menos essa era a esperança delas.
Elas realizaram a primeira manifestação nua em 2009 na Khreshchatyk, a principal avenida de comércio de Kiev, em protesto contra a pornografia na internet. “No começo foi embaraçoso”, diz Hutsol, “e nós cobrimos nossos seios com as mãos”. Mas a resposta do público foi boa e elas fizeram de novo. Logo elas passaram a ver seus seios como nada mais que um uniforme.
Requisitadas
As questões contra as quais elas protestam podem ser encontradas nos noticiários. Elas não protestam apenas pelos direitos da mulher, mas também por questões econômicas e corrupção, contra políticos como Putin e o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi. Mas não protestam contra as condições enfrentadas na prisão pela ex-primeira-ministra ucraniana, Yulia Tymoshenko, que parecem estar chamando a atenção de grande parte da Europa no momento. Para as mulheres do Femen, Tymoshenko faz parte de uma pequena roda de oligarcas lutando com outros oligarcas, e elas não veem motivo para fazer algo pela política presa.
Hoje elas estão planejando uma viagem a Paris, em resposta ao convite de um grupo de feministas francesas. “Eu tenho que voar amanhã para Moscou, para um programa de TV”, diz Anna. Oksana é que originalmente apareceria no programa, mas agora ela está proibida de entrar na Rússia pelo resto de sua vida.
Anna Hutsol se tornou uma pessoa requisitada. Ela não se parece com a maioria das garotas do Femen, que exibem sua beleza com cabelo oxigenado, maquiagem pesada nos olhos e salto alto. Anna é pequena e séria, usa botas de borracha vermelhas e mantém seu cabelo curto e tingido de ruivo. Aos 27 anos, ela é a integrante mais velha do grupo e, com Oksana e Sasha, é de certa forma a ideóloga chefe.
Quando elas iniciaram o movimento em Khmelnytskyi, ela tinha 21 anos e estava começando a ler August Bebel, o fundador do movimento operário social-democrata na Alemanha. Ela leu que Bebel apresentou um projeto de lei no Parlamento pedindo direitos iguais para as mulheres no final do século 19. Após ler isso, ela pensou em sua própria vida e na de suas amigas, concluindo que nada tinha mudado.
Um movimento não típico
Ela contou para todas o que leu. Ela encontrou apoio e, com Oksana e Sasha, fundaram um grupo que chamavam de “Nova Ética”. Elas organizaram grupos de discussão na universidade, onde Anna estudava economia, e logo realizaram suas primeiras manifestações --totalmente vestidas, no início. Elas só começaram a despir seus seios dois anos depois, em Kiev.
“Eu sabia desde o início que não queria que nos transformássemos em uma organização feminista típica”, diz Hutsol. “Eu não queria uma organização na qual as mulheres falam, falam e falam, enquanto os anos passam e nada acontece. Nós trouxemos mais extremismo ao movimento das mulheres.”
A partir de 2008, as três mulheres se mudaram para Kiev --primeiro Anna, depois Sasha e, finalmente, Oksana. Elas deram início a uma campanha pelos direitos das estudantes. Mas logo a luta contra a prostituição e o turismo sexual se transformou na preocupação central delas. “A questão estava no ar”, diz Anna, explicando que era irritante para elas, na condição de mulheres normais, não poderem nem mesmo caminhar pela rua Khreshchatyk sem que alguém as abordasse em busca de sexo.
Foi quando elas começaram a chamar a si mesmas de Femen. Anna leu que havia uma parte do fêmur feminino chamado “femen” em latim. Mas isso não está exatamente correto. “Femen” simplesmente significa fêmur, tanto nas mulheres quanto nos homens. Mas soava bem e, mais importante, evocava uma imagem de mulheres fortes.
Parte 2: ‘Nós gritamos e mostramos nossos corpos’
Por toda sua história, o feminismo ocidental tentou uma grande variedade de formas de protesto, desde atos de sabotagem e a colocação de bombas nas caixas de correio de membros do Parlamento no século 19, até grandes demonstrações e queima de sutiãs no final dos anos 60.
Na Alemanha, a luta contra uma lei conhecida como Artigo 218, que tornava o aborto ilegal, se tornou um movimento mais amplo. No início dos anos 70, sob o lema “a esfera privada é política”, centenas de milhares de mulheres tomaram as ruas para defender o direito da mulher de optar pelo aborto. Mas após o movimento ter atingido seu pico na Alemanha e na Europa, não aconteceu quase nada após os anos 90. As mulheres aparentemente atingiram todas as suas metas.
O Femen surge em uma parte da Europa que experimentou a democracia apenas nos últimos 20 anos, uma Europa na qual a maior esperança, para muitas meninas de 16 anos, é encontrar um bom marido após concluírem seus estudos universitários e, eventualmente, se tornarem boas mães. É uma Europa na qual os homens podem encomendar uma mulher pela internet como se estivessem encomendando um sapato, e na qual as mulheres que exibem seus seios em público podem ser presas.
“É por isso que gritamos e exibimos nossos corpos”, diz Anna. E não fazem isso apenas na Ucrânia, mas por toda a Europa --“porque muitas coisas também não estão certas em seus países”. Elas tomaram as ruas de Paris vestidas como empregadas, gritando “vergonha” diante da casa do ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn. Elas tomaram as ruas de Kiev quando uma garota foi estuprada e morta na Ucrânia, como foi o destino de uma jovem de 18 anos no final de março. Elas também protestam contra a Eurocopa e o turismo sexual que o evento trará. E fazem tudo isso com a parte superior do corpo despida. “Nós queremos dar um contexto diferente aos seios, como símbolos.” Um seio, elas disseram, também pode ser político.
“A reação ao protesto nu é uma medida de liberdade em um país”, diz Anna. “Nós não fomos presas na Suíça, mas quase fomos mortas em Belarus.”
O templo do movimento fica no corredor do banheiro do Café Kupidon: uma estante de vidro cheia de suvenires do Femen, incluindo canecas de café e camisetas estampadas com os dois seios estilizados nas cores nacionais da Ucrânia, o logo do Femen. O mostruário parece ter mais em comum com a cultura pop do que com o movimento feminista.
‘Bastante criativas’
Até mesmo a “EMMA”, a principal revista feminista alemã, dedicou recentemente uma história de capa ao Femen. Ela foi escrita pela fundadora da revista, Alice Schwarzer, a ativista antipornografia e feminista mais proeminente da Alemanha. “As garotas não são apenas corajosas e inteligentes”, escreve Schwarzer, “elas também são bastante criativas”.
Schwarzer tem lutado amargamente contra a forma como a nudez feminina é retratada na mídia. Então por que ela agora está exibindo os seios das loiras ucranianas na capa de uma edição da “EMMA”? Ao ser perguntada sobre sua posição em relação ao grupo, Schwarzer preferiu responder as perguntas da “Spiegel” por e-mail.
“As mulheres do Femen estão pegando o bumerangue no ar e o atirando de volta”, ela escreveu. “O seio nu, que normalmente as transformaria em objeto, se tornou uma arma para elas. Elas o utilizam para chamar a atenção e enviar sua mensagem para os homens, o protesto delas contra a exposição das mulheres! Contra a prostituição! Contra o tráfico de mulheres! Eu acho isso uma coisa boa.”
Os métodos do Femen são típicos da ironia divertida da segunda ou terceira geração de feministas, escreve Schwarzer. Mas, ela acrescenta, as mulheres também estão realizando um ato de equilibrismo onde podem facilmente escorregar e cair. “Eu vi recentemente que as mulheres do Femen posaram completamente nuas para a revista ‘Elle’. Essa é uma dessas escorregadas. Agora elas precisam tomar cuidado para o bumerangue não voltar e elas serem transformadas em objetos.”
Apesar de seus receios, Schwarzer convidou as mulheres para virem à Alemanha, onde planejam realizar um protesto conjunto. As velhas e novas feministas parecem estar encontrando um ponto em comum: a geração mais velha, que às vezes parece fora de sintonia com os tempos, e a geração mais nova, que reconhece que precisa da mídia para chamar atenção --e que a mídia por acaso adora seios.
O Femen não é o único em sua forma de protesto neofeminista. Alguns de seus contemporâneos incluem a coletividade Pussy Riot em Moscou, com seu punk rock feminista, que está detida no momento aguardando julgamento. Elas podem pegar sete anos de prisão por terem invadido o púlpito de uma igreja e feito duras críticas a Putin. Há as Slutwalks nos Estados Unidos. E há a estudante de arte egípcia Aliaa Magda Elmahdy, que se despiu para lutar por sua autodeterminação sexual e cuja foto correu por todo o mundo após ela tê-la publicado em seu blog. Uma divisão do Femen até mesmo foi formada recentemente na Tunísia.
Às vezes elas se encontram na vida real, e velhas e novas feministas, as duas versões da Europa, e às vezes elas se ajudam para seus respectivos fins.
Procurando por um local
Uma semana após sua audiência no Ministério do Interior, em uma sexta-feira primaveril, Oksana Shachko está no Trocadero em Paris, tendo a Torre Eiffel ao fundo. Um grupo francês de ativistas de direitos da mulher convidou as mulheres do Femen para virem a Paris, pagando pelo voo e fornecendo a elas acomodações. Elas pretendem se despir juntas.
Shachko na verdade recebeu ordens para não sair de Kiev até seu julgamento e ela até mesmo assinou um documento se comprometendo a cumprir a ordem. Levará pelo menos mais um mês até que ela saiba sua sentença. “O que importa é que estou aqui”, ela diz. “É um ótimo lugar para uma manifestação.”
Juntamente com Sasha Shevchenko, com seu cabelo loiro longo e óculos de aviador, e Inna Shevchenko, também loira e usando micro-shorts, ela fica entre turistas enquanto eles tiram fotos.
À esquerda delas, alguém está tocando flauta, e um vendedor está vendendo crepes à direita. Mas Oksana, Sasha e Inna não notam nada disso. Elas estão aqui para estudar a praça, à procura de policiais, checando rotas de fuga e minimizando possíveis pontos de ataque.
O plano delas, juntamente com as mulheres francesas, é ocupar a praça no dia seguinte. O protesto delas tratará dos direitos das mulheres muçulmanas e da burca. A ideia veio de Safia Lebdi, a mulher que trouxe o Femen à França. O escritório dela fica na Maison de la Mixité, um centro cultural no piso térreo de um prédio de apartamentos comum no leste de Paris.
‘Vamos ficar nuas’
Ela é conhecida na França com fundadora da organização de direitos da mulher “Ni putes, ni soumises” (Nem putas, nem submissas). Ela também é uma política do Partido Verde e fala com voz alta enquanto seus cachos pretos sobem e descem. “Nós vamos expor nosso sexo em praça pública amanhã. É bacana. É algo novo”, ela diz, apesar de alguém poder se perguntar qual é a verdadeira questão aqui: os direitos das mulheres muçulmanas ou seios nus? E ao que exatamente esses protestos levam? Eles fazem os homens mudarem sua forma de pensar? Ou apenas lhes dão uma boa vista de corpos bonitos?
Oksana, Sasha e outras mulheres francesas estão na sala ao lado, fazendo cartazes para o dia seguinte com pincéis e tinta preta, pintando slogans como “Mulheres muçulmanas, vamos ficar nuas”, “Nudez é liberdade” e “Afeganistão, tire suas roupas”.
Lebdi reuniu doações para trazer as mulheres da Ucrânia para Paris. Ela passou semanas falando com apoiadores, dando telefonemas e escrevendo para todas as ativistas de direitos da mulher que conhece, incluindo feministas que estariam dispostas a se despir pela causa. “Foi muito difícil convencer as mulheres. Há muito medo, incluindo o medo de falar sobre a burca”, ela disse.
Ela contatou centenas de mulheres e agora espera que 20 delas, a maioria de origem árabe, participem do protesto. Lebdi sabe que pode se beneficiar com o Femen. Ela está usando o Femen para chamar atenção para suas causas feministas, porque é mais fácil ser ouvida quando mulheres ucranianas seminuas estão ao seu lado. Da mesma forma, as mulheres do Femen estão usando as feministas francesas para chegar a Paris e criar novas imagens de si mesmas para que o mundo veja.
Discussão em torno do slogan
Na manhã seguinte, Oksana, Inna e Sasha estão diante de uma mesa vermelha cheia de tintas e pincéis, discutindo como querem que sejam essas imagens. Elas incluirão as palavras que elas escreverem em seus seios. Lebdi, ao lado delas, descobre um cartaz que diz: “Islã é a religião do sadismo”.
“Não”, diz Lebdi. “Não, eu não aceito isso.”
“Nós deveríamos adicionar um ponto de interrogação no final dela?” pergunta Sasha.
“Não, não é uma pergunta”, diz Lebdi, com seus cachos dançando em sua cabeça. “Se fizermos isso, as outras mulheres recuarão.” Islã, islamismo e fundamentalismo são coisas completamente diferentes, ela diz.
Oksana, Sasha e Inna olham para o cartaz com olhos vazios e está claro que o pensamento nunca lhes ocorreu. Elas são boas em fazer expressões faciais fanáticas e em cantar slogans, e são corajosas e dispostas a correr grandes riscos. Mas as diferenças entre Islã e islamismo? Lebdi assegura que o cartaz vá para o lixo.
‘Vocês não são modelos, vocês são soldados’
As primeiras ativistas chegam na Maison de la Mixité no final da manhã. A ativista pelos direitos das mulheres iranianas, Maryam Namazie, veio de Londres, e a atriz e escritora nascida no Líbano, Darina al Joundi, também está lá. As mulheres comem bolo, riem e gradualmente tiram suas roupas. Elas fazem burcas grampeando pedaços de material preto, que vestirão e então rasgarão para aumentar o impacto do choque. Oksana, a artista, escreve as palavras “Guerra Nua” nos seios das mulheres mais jovens, e “eu sou uma mulher, não um objeto” nos das mulheres mais velhas.
Elas escondem seus passaportes nas calcinhas, caso sejam presas. E então se posicionam a frente das outras mulheres e lhes dão suas instruções finais. “Nós somos um exército pequeno, mas um poderoso”, diz Inna. “Nós contaremos até quatro --um, dois, três, quatro-- e então arrancaremos nossas burcas.”
As mulheres se posicionam em meio círculo, Inna conta até quatro e elas arrancam seus véus. “Não façam pose”, diz Inna. “Vocês não são modelos, são soldados.”
Polícia sorridente
Quando elas saem de vários táxis por volta das 14h, usando seus véus pretos, lado a lado, o velho feminismo ao lado do novo, as ativistas encontram cerca de 40 jornalistas com câmeras de vídeo e microfones. Inna avisou a mídia a respeito da hora e local do protesto. É como sempre fazem e sempre funciona. Cinco viaturas de polícia também apareceram.
Oksana, Inna e Sasha correm para a praça e as outras mulheres correm atrás delas. Elas arrancam suas burcas e erguem seus cartazes na direção do céu parisiense nublado, com as mulheres francesas nuas até seus jeans e as ucranianas vestindo nada exceto calcinhas pretas, gritando com toda sua força.
Os policiais seguem as mulheres até a praça e se posicionam diante delas, sorrindo. Eles não querem prender ninguém.
Eles apenas querem olhar.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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