As manifestações de policiais na França revelam inquietação e desilusão
Yves Bordenave e Laurent Borredon - Le Monde
Uma nova manifestação de policiais irados estava prevista para bloquear a circulação no bairro de Porte Maillot, em Paris, no final da manhã desta sexta-feira (4). O objetivo da passeata era chegar até a Place de la Concorde – mas, no caminho, havia o palácio do Eliseu e o Ministério do Interior. A convocação, de origem indeterminada, vinha circulando há quatro dias através de SMS e fora dos circuitos dos sindicatos.
A razão foi o indiciamento de um policial de Seine-Saint-Denis por “homicídio doloso”, na quarta-feira (25), após a morte de um criminoso, no dia 21 de abril em Noisy-le-Sec (Seine-Saint-Denis). Na quinta-feira (3), outras manifestações esporádicas, mais espontâneas, reuniram dezenas de policiais em Pau, em Saint-Etienne e em Bordeaux – e até centenas, como em Lyon. Nos dias anteriores, houve manifestações em Nanterre, onde uma delegação foi recebida pelo governador, em Evry e ainda em Nice. Nessa cidade, os policiais protestaram por várias noites em torno da praça Massena e na Promenade des Anglais a bordo de viaturas.
O movimento, que começou na noite de 25 de abril em Bobigny indo depois para os Champs-Elysées, não está perdendo força. Em um primeiro momento, o descontentamento foi canalizado pelos seus superiores em Seine-Saint-Denis. Na quinta-feira (26), quando a viagem de Nicolas Sarkozy para Raincy se mostrou ameaçada, o governador Christian Lambert, aliado do chefe do Estado, organizou a recepção de uma delegação pelo presidente-candidato, e depois, durante uma última manifestação em Bobigny, conseguiu a dispersão do movimento.
O problema é que a mobilização bem-sucedida em Seine-Saint-Denis tem inspirado policiais em toda a França. “É como se tivessem nos dito: ‘Tudo bem rapazes, acordem, vocês podem se organizar’”, conta um deles. E o movimento hoje ultrapassa o motivo que lhe deu origem. Ele evidencia a inquietação e as desilusões de uma profissão. As manifestações têm ocorrido em setores onde as relações com os magistrados são muito difíceis (Essonne), em áreas onde a falta de verbas para a polícia nacional é ainda mais gritante pelo fato de que as polícias municipais são excepcionais, como no Sudeste.
Os policiais estão desanimados. As reivindicações envolvem causas diversas: ressentimento em relação aos magistrados, falta de efetivos e de verbas, problemas de transferências, a política dos números... Os chamados para uma operação-padrão – a greve de verdade é proibida para policiais – também se multiplicaram. “Não fazemos ‘buscas’ e nem relatórios”, explica o mesmo policial manifestante, a serviço em uma unidade de intervenção na região parisiense.
“Estamos meio impotentes”
Os sindicatos, poderosos na polícia, são mantidos afastados e às vezes são duramente atacados nos SMS que têm circulado entre policiais. “Estamos meio impotentes, não há um perfil típico, não sabemos realmente o que eles querem”, lamenta um líder sindical regional. Os representantes temem abusos e sanções para os agentes que protestarem de uniforme ou a bordo de viaturas – o que é ilegal, mas vem sendo tolerado há uma semana.
Além disso, os sindicatos Unité-SGP Police, sujeito a divergências internas, e a Alliance, próxima da UMP, têm travado uma disputa de influências. A Alliance lançou, na quarta-feira, uma palavra de ordem para manifestações regionais no dia 11 de maio para obter o reconhecimento “da presunção de legítima defesa” prometida no dia 26 de abril por Nicolas Sarkozy. Alguns momentos mais tarde, o Unité-SGP escolheu a data de 10 de maio. Uma apropriação criticada em um SMS que circulou na quinta-feira, convocando para uma manifestação... no dia 9 de maio!
Essa última mensagem também anunciava a criação de uma coordenação. Teria o movimento capacidade de se organizar? Muitos duvidam disso. Houve uma tentativa através do Facebook, onde um grupo chamado “Policiais irados” reuniu em algumas horas mais de 9 mil membros. Ele foi fechado alguns dias depois: o fato de que seria fácil os membros serem identificados pelos superiores ou por movimentos anti-policiais como o Copwatch dissuadiu os administradores. Do outro lado, o Ministério do Interior não dá sinal de vida. O interlocutor dos sindicatos, o comissário Emmanuel Bordeau, assessor social do ministro, foi nomeado subgovernador em Saint-Nazaire, no dia 20 de abril. E ele assumiu o cargo às pressas, no último fim de semana.
Tradutor: Lana Lim
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