Grécia vive impasse, e crescem chances de novas eleições
Encontro de lideranças para formar "governo de união nacional" fracassou ontem; conversas continuam hoje
Integrante do Banco Central Europeu afirma que é possível saída dos gregos do bloco de países que usam o euro
RODRIGO RUSSO - FSP
Uma semana após as eleições parlamentares na Grécia, a quarta tentativa de formação de um governo de coalizão, liderada pelo presidente Karolos Papoulias, chegou ontem a um impasse.
Dessa forma, crescem as chances de novas eleições serem convocadas para junho.
Depois de os líderes dos três partidos mais votados, o Nova Democracia, de centro-direita, o Syriza (Coalizão da Esquerda Radical) e o Pasok, socialista, não conseguirem capitanear coalizões, Papoulias convocou-os para uma reunião em que esperava formar um "governo de união nacional".
O encontro não teve sucesso, mas as conversas vão continuar hoje. As rodadas de negociação são necessárias porque nenhum partido obteve na eleição maioria absoluta para nomear o premiê.
O grande impasse é a participação do Syriza, liderado por Alexis Tsipras, na coalizão que se discute.
O partido é contra a manutenção do acordo de resgate da Grécia, que obriga o país a cortar salários e aposentadorias e a demitir 150 mil funcionários públicos até 2015, entre outras medidas de austeridade.
O Nova Democracia e o Pasok defendem o acordo, mas querem que seus termos sejam renegociados, posição que a sigla de esquerda considera branda demais.
O partido Esquerda Democrática acenou com a possibilidade de integrar uma coalizão quando procurado por Evangelos Venizelos, líder do Pasok, mas condicionou sua participação à entrada do Syriza no governo -o que travou as negociações.
As pesquisas de opinião pública na Grécia indicam que o Syriza (que foi o segundo mais votado no pleito do dia 6 passado) será o grande beneficiado no caso de uma nova eleição no mês que vem, chegando a 25% de intenções de voto. Em 2009, o partido teve menos de 5% dos votos.
CONTUNDÊNCIA
Com esse apoio popular, Tsipras vem fazendo declarações cada vez mais contundentes, o que preocupa lideranças de outros países europeus e reforça temores de que o país sairá da zona do euro.
Ontem, o líder do Syriza afirmou: "Eles [os partidos Nova Democracia e Pasok] não estão pedindo um acordo, estão pedindo que sejamos seus parceiros em um crime, mas nós não seremos seus cúmplices".
Ainda que vença as prováveis eleições, seria preciso novamente um esforço para montar um governo de coalizão, já que não haveria votos suficientes para que o Syriza indicasse sozinho o primeiro-ministro -o que levará o país a novo impasse.
No fim de semana, Luc Coene, presidente do banco central da Bélgica e integrante do conselho do Banco Central Europeu, afirmou em entrevista ao "Financial Times" que é possível a saída da Grécia da zona do euro, mesmo que isso não seja do interesse da Europa.
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