Presos em protesto contra Alckmin são acusados de formação de quadrilha; medida retarda libertação de suspeitos
Ato terminou em depredação de banco e loja de carros; 5 detidos teriam
apedrejado veículo da Rota
RICARDO
GALLO - FSP
A Polícia Civil recorreu a uma estratégia para manter presos 5 dos 20 manifestantes detidos anteontem após protesto na avenida Rebouças, em São Paulo: acusou-os de formação de quadrilha, um crime inafiançável.
Os cinco --dos quais um designer e quatro estudantes de primeiro e segundo graus-- são acusados de jogar pedras contra um carro da Rota, da Polícia Militar.
O protesto foi marcado por vandalismo de pessoas mascaradas contra agências bancárias e uma loja de carros, mas ninguém foi apontado individualmente como responsável por esses crimes.
Os cinco estão detidos em unidades prisionais para presos provisórios na capital paulista. A defesa deles entrou ontem com pedido de liberdade provisória ou relaxamento do flagrante --a decisão da Justiça deve sair hoje.
O designer gráfico Thiago Frias, 31, de Pinheiros (zona oeste) e o estudante Francisco Lopes, 20, de Santa Cecília (centro), são acusados de dano qualificado por supostamente terem atirado as pedras. Amigos de Thiago dizem que ele foi preso enquanto estava sentado, após a polícia lançar gás lacrimogêneo.
Os estudantes Andressa Santos, 19, do Grajaú (extremo sul), Nicolas de Deus, 20, da Vila Carrão (zona leste) e Bruno Soares, 19, que é de Paulista (Pernambuco), respondem por tentar atirar pedras (tentativa de dano) no carro da PM, diz o registro da ocorrência na delegacia.
Os cinco também foram acusados de xingar policiais de "assassinos do Alckmin" e de resistir à prisão.
Com eles foram apreendidos vinagre, pincel atômico, leite de magnésio, máscara de proteção e um celular.
Luiz Guilherme Ferreira, que defende os cinco, disse que o grupo não se conhecia, o que, diz, desqualifica a acusação de formação de quadrilha. Ferreira nega que eles tenham atirado as pedras.
Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública, os delegados têm autonomia para classificar os casos da maneira mais apropriada na lei e que a Justiça decidirá se a interpretação é correta.
A Folha apurou que a estratégia de delegados de prender por formação de quadrilha é um modo de endurecer contra manifestantes.
O mesmo havia sido feito em junho, após protesto contra o aumento das tarifas de transporte. Na ocasião, 13 pessoas foram presas por formação de quadrilha --12 delas soltas porque a Justiça disse não haver provas.
PROVAS
A manifestação de anteontem foi marcada pela depredação de agências bancárias e de uma loja de carros por pessoas mascaradas. Eles integravam o protesto, que pedia a desmilitarização da PM e criticava o governador Geraldo Alckmin (PSDB).
A PM deteve outras 15 pessoas suspeitas de participar dos atos de depredação. Com um deles, foi apreendido um martelo. Mas todos foram liberados porque os próprios policiais que os detiveram afirmaram que não era possível "apontar nenhum dos averiguados como autores do delito, tornando inviável a individualização da conduta".
A PM vai analisar imagens de câmeras de segurança para identificar vândalos.
Um dos detidos e depois liberados foi Victor Oliveira, 21, aluno de história da USP. Ele disse ter participado da manifestação e que foi abordado de forma "aleatória" pela polícia. Ele nega ter atacado as agências e diz não integrar os "black blocs", grupo acusado de articular os ataques.
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