Papéis foram os que mais subiram ontem na Bovespa, com alta de até 9%; novo modelo não está garantido
Governo e estatal não descartam reajuste de 6% neste ano pelo critério atual, que leva em conta a inflação
DENISE LUNA E VALDO CRUZ - FSPGoverno e estatal não descartam reajuste de 6% neste ano pelo critério atual, que leva em conta a inflação
O anúncio de uma nova metodologia para o reajuste de preços de gasolina e diesel foi o suficiente para o mercado esquecer a forte queda de lucros da Petrobras no terceiro trimestre e turbinar as ações da empresa nas Bolsas no Brasil e nos EUA.
A nova fórmula deverá funcionar como um gatilho que dispara quando determinado nível de defasagem for atingido, mas os parâmetros ainda não foram definidos.
As ações da Petrobras tiveram as maiores altas da Bovespa ontem --as ordinárias, de 9%, e as preferenciais, 7%.
Analistas afirmam que apenas a equiparação de preços com o mercado internacional, neste momento, pode não ser suficiente para equilibrar o caixa da companhia.
Segundo Luiz Caetano, da corretora Planner, a defasagem foi muito forte no terceiro trimestre. Nos seus cálculos, se a equiparação fosse feita ontem, o diesel seria ajustado em 9%, e a gasolina, em 4,5%. "Mas em agosto essa defasagem chegou a 30% no caso do diesel."
O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, critica o anúncio de mudanças na metodologia no momento em que a defasagem está menor. "É difícil acreditar que eles vão equiparar com preços lá fora em plena eleição de 2014."
Já para Marcelo Torto, da Corretora Ativa, a indicação de que a política de reajustes vai mudar justifica a alta das ações. "Mostra que a Petrobras está buscando mais clareza nos ajustes."
Os preços da Petrobras estão submetidos desde o início de 2002 a uma política de ajustes de longo prazo, que varia de acordo com o humor da inflação do país.
Agora, segundo o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, a ideia é dar maior previsibilidade a esses ajustes, com periodicidade e percentuais definidos.
Mas Barbassa não afastou, em reunião com analistas, a possibilidade de alta nos moldes antigos ainda neste ano, na casa de 6%. Essa também é a perspectiva de assessores de Dilma, apurou a Folha.
Com o recuo do dólar, eles consideram que o governo ganhou tempo para definir a data e o tamanho do aumento.
Apresentada ao Conselho de Administração na sexta, a proposta de novo método de reajuste será analisada em 22 de novembro.
Mercado calcula o preço da ingerência política
Política previsível de reajustes poderia impulsionar a Bolsa e melhorar o humor dos investidores estrangeiros
Ações subiram, mas a inflação implícita não andou: metade do mercado acreditou, a outra, não
ANDRÉ PERFEITO - FSPAções subiram, mas a inflação implícita não andou: metade do mercado acreditou, a outra, não
Poucos assuntos evidenciam tanto a falta de racionalidade do investidor quanto a Petrobras. A gigante brasileira suscita casos de amor e ódio em questão de dias, e o resultado da empresa apresentado na sexta-feira passada não foi exceção.
Para ter uma ideia do tamanho da falta de juízo dos investidores com a empresa, entre 2003 e meados de 2008, as ações da Petrobras subiram em Nova York nada menos que 2.400%, ou seja, uma média de 81,6% ao ano.
E isso em dólar!
De lá para cá, devolveu 72%. Hoje a ação da petroleira brasileira está em linha com seus pares europeus e americanos e, na verdade, até um pouco melhor que esses.
Isso ocorre porque a Petrobras não é uma empresa comum. Não sejamos ingênuos; todos sabemos que ela cumpre um papel no arsenal econômico do governo e quem reclama do governo agora no comando da estatal, lá no meado da década passada, achava tudo muito bom e se iludiu alegremente com as promessas de um Emirado Tropical.
No entanto, dinheiro não leva desaforo para casa durante muito tempo, e os analistas da empresa são enfáticos em apontar que a trajetória atual da contabilidade da empresa é o prenúncio de um haraquiri público.
Não vamos entrar no detalhe contábil, queremos apontar outra questão.
A Petrobras já deu, a nosso ver, sua cota de patriotismo e acumulou até agora uma dívida líquida de US$ 193 bilhões. Ao segurar a gasolina, a empresa carregou nas costas o preço do ajuste macro recente.
Todos calculam o custo da ingerência política na empresa, mas são poucos os que botam no papel onde estariam a Selic e o PIB se fosse o contrário.
O governo deveria realmente encarar o atual momento como uma oportunidade de ouro para deslanchar o principal entrave da economia brasileira.
Se a Petrobras segurou a demanda na marra, seria hora de ela empurrar o investimento à força.
Criar uma política mais previsível de reajustes, como sugerido pela própria empresa, traria um efeito multiplicador poderoso que teria o seguinte mecanismo de transmissão: alta da gasolina sobe a ação da Petrobras, que por sua vez impacta positivamente o Ibovespa, que sugere melhora macroeconômica do Brasil, que valoriza o real e cria um clima mais ameno para o investimento, em especial o estrangeiro.
Ontem as ações subiram na esperança que saia do papel a proposta, mas a inflação implícita não andou, ou seja, enquanto metade do mercado acreditou, a outra metade não. Para variar, a racionalidade falha com a Petrobras.
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