quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Centro financeiro de Londres quer ser pivô internacional do mercado islâmico
Marc Roche - Le Monde
3.set.2013 - Matt Dunham/ AP

Vista do centro financeiro de Londres
Vista do centro financeiro de Londres
Principal destino dos petrodólares dos países do Golfo, o centro financeiro de Londres pretende se tornar o pivô internacional do mercado financeiro islâmico de acordo com os princípios da sharia. O primeiro Fórum Econômico Islâmico Mundial que ocorre fora do mundo muçulmano está tendo sua nona edição realizada em Londres --desde terça-feira (29) até esta quinta-feira (31)-- e reúne 1.800 políticos, presidentes de bancos centrais e empresários, ilustrando o papel central que a praça financeira londrina pretende exercer nesse mercado financeiro.
Anunciada pelo primeiro-ministro britânico David Cameron durante a abertura do Fórum, na terça-feira, a emissão que o Reino Unido fará em breve do primeiro título islâmico (chamado sukuk) por parte de um Estado não-muçulmano, no total de 200 milhões de libras (R$ 700 milhões), coloca em evidência essa estratégia de expansão. Na terça-feira, a Bolsa de Londres lançou um índice que mistura "os princípios de investimentos da sharia com técnicas avançadas de controle de risco".

Setor financeiro em plena expansão
Com exceção do colapso do emirado de Dubai e da ruína de algumas instituições financeiras do Golfo, o mundo muçulmano escapou bem da crise de 2007-2008. Além disso, a disparada dos preços das matérias-primas inflou o volume de petrodólares provenientes do Golfo atrás de um investimento rentável. Por fim, a expansão da classe média muçulmana nas economias emergentes do Golfo e da Ásia alimentou a demanda de investimentos geridos em concordância com o Corão.
Mas em quê consiste o mercado financeiro islâmico? A ideia é respeitar estritamente a lei divina que proíbe o empréstimo de dinheiro a juros, ao mesmo tempo em que se declina uma gama de produtos financeiros que oferecem mais-valia e rendimentos. A sharia proíbe, sobretudo, que se invista em empresas associadas a bebidas alcoólicas, a atividades de cassino, à pornografia ou à indústria da defesa, ao mesmo tempo em que proíbe a especulação. Assim, as obrigações ou sukuk se apoiam em ativos cuja performance remunera o aporte de capital para contornar o princípio dos juros.
Os ativos geridos por esse setor financeiro em plena expansão, presente em uma centena de países, deverão chegar a US$ 1,3 trilhão (R$ 2,8 trilhões) até 2014, e registraram um aumento de 150% desde 2006. Dizem que o índice de crescimento dos bens é 50% maior que o do mercado financeiro tradicional.

Paraísos fiscais
Londres pretende aproveitar sabiamente essa fortuna que provém em sua maior parte de suas antigas colônias. A ex-metrópole cortejou particularmente os fundos soberanos dessa zona que foram investidos na capital, tanto no setor imobiliário quanto na infraestrutura. O Shard, o arranha-céu de vidro idealizado pelo arquiteto italiano Renzo Piano que domina o Tâmisa, foi financiado pelo Qatar em parte graças a arranjos financeiros conformes à sharia. Assim como a vila olímpica construída para os Jogos de Londres em 2012.
Só que esse setor tem suas fragilidades. Os elevados custos devido à complexidade das transações e à abundância de mão de obra para execução, além da falta de especialistas "em sharia", pesam sobre a rentabilidade do investimento. Os preceitos religiosos que se prestam a interpretações diversas também não facilitam a inovação financeira.
Além disso, a falta de transparência fiscal dos fundos muitas vezes dissimulados em paraísos fiscais e estruturas obscuras de proteção de patrimônio preocupa os órgãos reguladores ocidentais. A dificuldade de se auditar as contas em razão de normas contábeis diferentes é outro problema.
Por fim, o fato de não haver uma separação entre os bens das famílias reais e os do Estado nos países do Golfo traz problemas de boa governança.
Tradutor: UOL

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