Rebecca Blackwell/AP
Soldado malinês salta de caminhão no mercado central de Gao, em Mali, durante operação em julho
A ampla operação militar lançada no dia 20 de outubro no Mali, a primeira a aliar as forças francesas da "Serval", o exército malinês e a força africana Minusma da ONU (Organização das Nações Unidas), contra os "grupos armados terroristas", não foi concluída. Batizada de "Hidra", ela é de grande porte – 1.500 soldados foram enviados para a curva do Níger - , mas poderá não encontrar nada, após a "Serval" passar meses "limpando" o terreno jihadista. "Após dez meses de pressão da força Serval, é normal que a ameaça seja quase reduzida a zero", acredita um diplomata. A um mês das eleições legislativas malinesas, a ameaça terrorista é considerada "residual" pelos militares.Todavia, segundo um oficial francês no local, os atentados que atingiram Gao e Tessalit nos dias 7 e 23 de outubro seriam parte de uma ação coordenada da AQMI (Al-Qaeda no Magreb Islâmico). "A AQMI designou um novo líder, ele vai querer manifestar sua presença", acredita o coronel Mohamed Massaouele Samaké, comandante do batalhão Elou destacado para a operação "Hidra".
Esses atos são parte de uma ação assimétrica esperada da parte de grupos que, segundo a mesma fonte militar francesa, "não são mais capazes de conduzir operações coordenadas de envergadura". Os líderes jihadistas locais, segundo a fonte, "estão escondidos ou fora do país". "Da Mauritânia até o Sul do Sudão, nós teremos de nos acostumar por muito tempo com esse conflito assimétrico, cuja erradicação está fora de alcance", diz a fonte diplomática.
Os efetivos devem passar para 2 mil no final de dezembro
Os cinco projéteis atirados contra Gao no dia 7 de outubro mataram um soldado malinês; esse tipo de ação não ocorria mais havia meses em Gao. No dia 8 de outubro, uma bomba artesanal danificou de leve a ponte de Bentia, ao sul de Gao. No dia 23, em Tessalit, uma criança foi morta, uma outra gravemente ferida em um ataque de meia dúzia de homens-bomba ao campo chadiano, sendo que todos eles morreram. Dois soldados chadianos foram mortos e cinco outros ficaram feridos. Depois, os comandos da aeronáutica francesa presentes em Tessalit foram atacados por dois outros combatentes no momento em que desativavam as cargas explosivas.
É menos o porte – pequeno – desses atentados, do que o momento em que eles ocorreram, que chama a atenção. Eles ocorreram no momento em que a presença militar francesa vem se reduzindo, ao passo que as forças malinesas e da ONU ainda não ganharam corpo. A "Serval" recentemente concluiu um importante movimento de transição: no dia 25 de outubro, a força foi reduzida para menos de 3 mil homens, contra quase 5 mil no auge da "Serval 1". Após a fase de ofensiva, de janeiro a julho, a "Serval 2" passou a se concentrar somente em torno do agrupamento tático "Deserto", em vez de quatro. Os efetivos deverão passar para 2 mil no final de dezembro, após as eleições legislativas malinesas. O objetivo de mil soldados até o final de 2013, adiado para final de fevereiro de 2014, não é mais confirmado.
Os militares franceses ainda descobriram esconderijos de armas e munições, que já existiam há muito tempo. Mas, pelo fato de forças nacionais não assumirem o controle, regiões problemáticas continuam sem qualquer presença militar: a floresta de Uagadu ao norte de Timbuktu, Gourma, a oeste de Gao, as zonas fronteiriças da Argélia, a rota do Níger, entre outros. Em Kidal, onde a França mantém 200 soldados, a situação é volátil. O contingente na prática está como uma força de interposição, entre os grupos tuaregues que se embatem em uma disputa política acirrada, e entre os tuaregues e um exército malinês que, tenso, está sendo empregado em uma missão policial.
"Não vamos ficar aqui por quinze anos!"
Portanto, a missão militar francesa acabará sendo dobrada, tendo de continuar com as operações de contraterrorismo e manter um apoio consequente às forças africanas. As forças armadas malinesas continuam com falta de tudo, apesar das promessas internacionais: logística, transferência, mas também uma organização. Elas precisam ao mesmo tempo ser treinadas e atuar. O começo do primeiro batalhão formado pela União Europeia, o Waraba, baseado em Tessalit, foi marcado por acertos de contas contra tuaregues. O segundo, Elou, há dez dias começou a dar seus primeiros passos no campo de operações. O terceiro, Sighi, tem metade de seu contingente composto por recrutas jovens, vindos da região de Kayes, próxima de Senegal, no sul do país, que não conhecem nada do norte do país.
Já a Minusma, com 5 mil homens até o momento, continua frágil. Ela não chegará a 12.500 homens como estava previsto nas resoluções da ONU, mas no máximo a 9 mil. As forças engajadas estão patrulhando, mas não têm recursos e, em alguns casos, nem vontade de agir. Não se espera coisa melhor do contingente bengali, que está sendo aguardado. Os chadianos, que forneceram um precioso apoio durante as operações de eliminação dos combatentes da AQMI no norte no início do ano, "perderam tudo", acredita um comandante francês em campo, "e eles trabalham de má vontade no processo de transição, desde Tessalit até Kidal". Os senegaleses estacionados em Kidal não querem ir até Gao em razão das condições de vida no local.
"Não vamos ficar aqui por quinze anos!", exclama um oficial francês, convicto do contrário. Para os diplomatas, a segurança não é mais prioridade. Agora trata-se de concluir o processo político sob liderança do novo presidente, Ibrahim Boubacar Keita, eleito em agosto, e de desenvolver o país. Mas em Gao, onde os professores primários estão em greve para exigir um aumento de salário, e onde continua não tendo eletricidade, os habitantes pedem à "Serval" que fiquem o máximo de tempo possível.
Tradutor: Lana Lim
Nenhum comentário:
Postar um comentário