sábado, 2 de fevereiro de 2013

Com buzina e capacete, carteiro de NY se aposenta e deixa saudade
James Barron - NYT                      
Robert Caplin/The New York Times
Al Gibson, que está próximo de concluir uma carreira de 45 anos como carteiro no bairro de Hell¿s Kitchen, em Nova York, usa uma buzina e um capacete
Al Gibson, que está próximo de concluir uma carreira de 45 anos como carteiro no bairro de Hells Kitchen, em Nova York, usa uma buzina e um capacete
Os mensageiros do rei Xerxes da Pérsia, os antigos que inspiraram a famosa frase de que nem neve, chuva ou sol poderiam detê-los, tinham seus cavalos. Al Gibson, que está próximo de concluir uma carreira de 45 anos como carteiro no bairro de Hell’s Kitchen, tem sua buzina.
É uma buzina de palhaço fixada em seu carrinho. Ele a toca durante seu trajeto, para que as pessoas saibam que a correspondência está a caminho. Ele tinha os idosos com andadores na 9ª Avenida em mente quando a prendeu em seu carrinho nos anos 80. "Era para impedir que descessem sem que houvesse correspondência", ele disse.
Os fãs de Gibson ao longo de suas seis quadras na 9ª Avenida –e praticamente todo mundo nessas seis quadras é fã de Gibson, ao que parece– sentirão saudade de sua buzina e dele. "Ele faz parte do bairro –é o prefeito, se quiser", disse Alan Kaplan, diretor da Bra-Tenders, que vende lingerie para cinema e teatro em um conjunto no Film Center Building, no número 630 da 9ª Avenida, destino principal da rota de Gibson.
Seguir Gibson de andar em andar –13 ao todo, apesar do andar superior ser o 14º, porque a superstição predominava quando o prédio foi inaugurado nos anos 20, de modo que não há 13º– significa testemunhar uma camaradagem incomum. Também significa ouvir uma pessoa atrás da outra, em um escritório atrás do outro, perguntar: "Quantos dias ainda faltam, 14?"
Foi o que aconteceu em uma sexta-feira recente. Todo mundo sabia que restavam 14 dias, e que depois da quinta-feira e de uma festa em um bar do outro lado da rua, ele partiria.
"Al é uma presença magnífica e um sujeito memorável", disse Lori Rubinstein, diretora-executiva da Plasa, uma associação setorial no conjunto 609, "e apesar dele entrar e sair rapidamente do seu escritório, ele não deixa de dizer oi. Ele não é como algumas pessoas, que entram correndo, jogam a correspondência para você e vão embora. Ele o faz rapidamente, mas ele tem o talento de fazer isso e ainda assim tornar isso uma parte bem-vinda do seu dia."
Ele trabalha na 9ª Avenida desde os tempos ruins, mas sua personalidade radiante, sem maledicência, o ajudou a seguir em frente. Mickey Spillane? Os Westies? "Eles não estavam na minha rota", ele disse. "Eles ficavam na 10ª Avenida."
Ele permaneceu na 9ª Avenida, sempre separando a correspondência na agência dos correios na rua 42, entre a 8ª e 9ª Avenida no início da manhã, sempre empurrando seu carrinho pela avenida por volta do meio-dia. "É uma boa rota", ele disse. "Uma rota de trabalho." Ele nunca pediu por uma rota com endereços de maior prestígio, como a 5ª Avenida.
Estacionando seu carrinho no saguão art déco do Film Center Building, ele explica sua estratégia: "Eu desço de andar em andar, passando de porta em porta". A caminho de cada escritório, ele se anuncia: "Carteiro na casa", ou simplesmente "Carteiro".
Jim Markovic, um editor de cinema que trabalha no prédio desde os anos 60, com exceção de alguns poucos anos em outro endereço, há muito decifrou o código por trás do padrão de Gibson. "Ele diz: ‘Eu tenho algo bom para você. Você vai ver’. Ou ele diz: ‘Tenho algo bom aqui na bolsa’. Isso significa cheques", disse Markovic.
"Em relação às demais correspondências, ele não diz nada. Ele não se refere à correspondência indesejada como sendo isso. Mas você sabe que se ele não disser ‘algo bom’, você não recebe nenhum cheque." ("Eu sempre coloco os cheques em cima. Isso deixa todo mundo feliz.")
Gibson, 65, veste um uniforme padrão de carteiro –e um capacete, mesmo no frio. Alguns inquilinos perguntaram sobre o capacete. "A resposta padrão dele é: ‘Porque lá fora é uma selva’", disse John Kilgore, do conjunto 307.
Mas a explicação de Gibson, a caminho do segundo andar, foi diferente. "Certa vez, ao contornar o prédio, o sujeito que estava lavando as janelas não conseguiu prender o rodo no gancho", ele disse. O rodo –pesado e pontudo, ele disse– caiu no pavimento. "Se eu estivesse um passo à frente, bum, já era."
Michael Berkowitz, do conjunto 203, tinha outra pergunta: quem ficará com a buzina?
A resposta, ninguém.
"Eu a levarei comigo", disse Gibson. "Muita gente a quer." 
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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