Governo americano investirá US$ 3 bilhões num "projeto genoma" para desvendar os 100 trilhões de conexões que compõem a mente humana
FSP - Editorial
O governo dos EUA deve anunciar em março um plano para revolucionar o estudo do cérebro humano. Segundo cientistas familiarizados com a proposta, haveria investimentos de mais de US$ 3 bilhões nos próximos dez anos.FSP - Editorial
A ideia é não apenas encontrar novas terapias para doenças psiquiátricas e neurológicas como também mergulhar mais fundo no conhecimento da mente humana. E, quem sabe, até desvendar alguns dos mistérios que cercam a consciência e o livre-arbítrio.
Embora os detalhes ainda não sejam conhecidos, a proposta centrará esforços em mapear com minúcia rigorosa a atividade cerebral. Isso, em princípio, permitiria aos pesquisadores compreender melhor as complicadas interações entre os cerca de 100 bilhões de neurônios que, conectados entre si, formam os 100 trilhões de sinapses da mente humana.
Esse projeto de mapeamento, que chegou a ser mencionado pelo presidente Barack Obama em seu discurso sobre o Estado da União, soma-se a outros que prometem revolucionar o entendimento da mente. Em especial, ao "Blue Brain Project", financiado principalmente pela Suíça, que pretende, por engenharia reversa, recriar as funções do cérebro "in silica" -ou seja, em circuitos de computadores.
São cada vez mais frequentes as apostas de governos de países industrializados em projetos de "Big Science". Isto é, iniciativas de grande escala que envolvem a administração e o Tesouro públicos, as universidades e a comunidade científica para cumprir um objetivo específico.
Esse modelo teve início na Segunda Guerra Mundial e resultou no desenvolvimento do radar e da bomba atômica, por exemplo. Depois, serviu para colocar o homem na Lua e, mais recentemente, produziu o sequenciamento do genoma humano e a confirmação da existência do bóson de Higgs.
Houve também projetos menos exitosos, como o plano de descobrir a cura do câncer, lançado pelo presidente americano Richard Nixon nos anos 1970. O objetivo, como se sabe, não foi alcançado.
Ainda assim, seria um equívoco classificar aquela iniciativa como fracasso. Parte do muito que se sabe hoje sobre a biologia do câncer saiu de estudos ali semeados. Mesmo quando a meta declarada não é atingida, o esforço gera subprodutos que não serão descartados.
Esse potencial torna a "Big Science" especialmente atraente para políticos: ela permite prometer num só discurso o avanço do conhecimento e a geração de tecnologias e empregos. E definir os limites dentro dos quais o investimento público de bilhões vale a pena nunca foi uma ciência exata.
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