Alexandre Matias - O Estado de S.Paulo
Quando, no meio de 2012, Sergey Brin apareceu usando um estranho par de óculos com uma pequena telinha transparente no lugar de uma das lentes, a surpresa foi geral. Mostrado em uma convenção cujo público era formado por desenvolvedores, o Google Glass causou uma pequena comoção entre os presentes e, principalmente, um estranhamento geral da maioria das pessoas que não é do mundo da tecnologia. Essa reação se dividia entre ceticismo e a sensação de estar vendo algo mais próximo da ficção científica.
Afinal, são óculos que permitem adicionar uma camada digital ao mundo analógico. É uma extensão drástica do conceito de realidade aumentada, aquela que, através da câmera de seu celular, identifica o que está ao redor para acrescentar informações àquilo que se vê. Olhe para uma rua e a realidade aumentada identifica o que há em cada prédio.
O Google Glass iria além, porque não apenas reuniria informações do que se vê, mas também funciona como câmera, dispositivo de acesso à internet e canal de comunicação. Acionado apenas pela voz, ele faria a maioria das coisas que seu celular pode fazer hoje, mas sem que seja preciso manuseá-lo.
Eis que semana passada os óculos voltaram a aparecer. Agora se chamam apenas Glass e no site google.com/glass seu funcionamento é detalhado com ênfase nas atividades cotidianas. A empresa já mira no público final e não mais nos desenvolvedores. E reuniu diferentes atividades em vídeo para mostrar como seria fácil utilizá-los. Basta falar "Ok, Glass" e o aparelho está pronto para obedecer a diferentes comandos: "Filme isto", "tire uma foto e mande para esses amigos" ou "mostre o melhor caminho para chegar num determinado lugar".
Parece que o Google está pronto para partir para uma etapa ainda mais distante. Mas o Glass é apenas o ponto final de convergência de uma série de recursos que a empresa vem mudando em sua organização interna. O Google Plus aos poucos interligou os diferentes serviços da empresa, que aproveitou para unificar suas ramificações e deixar tudo com uma cara mais parecida e conversando melhor entre si.
Isso inclui mudanças de interface no YouTube, no Gmail, no Google Docs (que virou Drive), no Google Calendar, no Android Market (que virou Google Play), no Google Maps, entre outros serviços, inclusive em suas buscas. E também a aproximação entre os ambientes digitais no desktop, celular e tablet. Tudo isso converge para o Google Now, um assistente pessoal que interliga todo o ecossistema digital da empresa. Só faltava fazer as pessoas não terem de colocar as mãos num teclado, os dedos numa tela, encher bolsos e bolsas com máquinas que, por mais finas e leves, ainda pesam.
É aí que está o Glass: um aparelho que funciona como um celular ativado por voz mas que não precisa ser carregado nem funciona como uma tela que nos distrai da realidade ao redor. Não que o Google vá abandonar celulares, computadores e desktop de uma hora para outra - vide o recém apresentado Chromebook Pixel, um laptop que será lançado em abril. Se a transição dos desktops e laptops para tablets e celulares ainda está em andamento, a mudança que nos leva até os óculos do Google deve durar ainda um bom tempo.
E não pense que isso é exclusividade do Google. Na semana passada, segundo o site Mashable, a Apple teria registrado a patente de um relógio de pulso que pode funcionar como um iPhone - já o chamam de iWatch.
O futuro sem computador está em andamento, graças à era da internet móvel e dos smartphones. O Google nos convida para um futuro em que nem precisamos utilizar as mãos para interagir com novos aparelhos. E, como já escrevi em outra coluna, não custa lembrar que o projeto original do Google Glass era uma lente de contato. O que quer dizer que o futuro desses aparelhos também pode ser o início da era em que homem e máquina começam a se fundir de fato.
COMANDOS
'Glass' responde a instruções de voz
ALEXANDRE MATIAS É DIRETOR DE REDAÇÃO DA REVISTA GALILEU - GALILEU.GLOBO.COM
Quando, no meio de 2012, Sergey Brin apareceu usando um estranho par de óculos com uma pequena telinha transparente no lugar de uma das lentes, a surpresa foi geral. Mostrado em uma convenção cujo público era formado por desenvolvedores, o Google Glass causou uma pequena comoção entre os presentes e, principalmente, um estranhamento geral da maioria das pessoas que não é do mundo da tecnologia. Essa reação se dividia entre ceticismo e a sensação de estar vendo algo mais próximo da ficção científica.
Afinal, são óculos que permitem adicionar uma camada digital ao mundo analógico. É uma extensão drástica do conceito de realidade aumentada, aquela que, através da câmera de seu celular, identifica o que está ao redor para acrescentar informações àquilo que se vê. Olhe para uma rua e a realidade aumentada identifica o que há em cada prédio.
O Google Glass iria além, porque não apenas reuniria informações do que se vê, mas também funciona como câmera, dispositivo de acesso à internet e canal de comunicação. Acionado apenas pela voz, ele faria a maioria das coisas que seu celular pode fazer hoje, mas sem que seja preciso manuseá-lo.
Eis que semana passada os óculos voltaram a aparecer. Agora se chamam apenas Glass e no site google.com/glass seu funcionamento é detalhado com ênfase nas atividades cotidianas. A empresa já mira no público final e não mais nos desenvolvedores. E reuniu diferentes atividades em vídeo para mostrar como seria fácil utilizá-los. Basta falar "Ok, Glass" e o aparelho está pronto para obedecer a diferentes comandos: "Filme isto", "tire uma foto e mande para esses amigos" ou "mostre o melhor caminho para chegar num determinado lugar".
Parece que o Google está pronto para partir para uma etapa ainda mais distante. Mas o Glass é apenas o ponto final de convergência de uma série de recursos que a empresa vem mudando em sua organização interna. O Google Plus aos poucos interligou os diferentes serviços da empresa, que aproveitou para unificar suas ramificações e deixar tudo com uma cara mais parecida e conversando melhor entre si.
Isso inclui mudanças de interface no YouTube, no Gmail, no Google Docs (que virou Drive), no Google Calendar, no Android Market (que virou Google Play), no Google Maps, entre outros serviços, inclusive em suas buscas. E também a aproximação entre os ambientes digitais no desktop, celular e tablet. Tudo isso converge para o Google Now, um assistente pessoal que interliga todo o ecossistema digital da empresa. Só faltava fazer as pessoas não terem de colocar as mãos num teclado, os dedos numa tela, encher bolsos e bolsas com máquinas que, por mais finas e leves, ainda pesam.
É aí que está o Glass: um aparelho que funciona como um celular ativado por voz mas que não precisa ser carregado nem funciona como uma tela que nos distrai da realidade ao redor. Não que o Google vá abandonar celulares, computadores e desktop de uma hora para outra - vide o recém apresentado Chromebook Pixel, um laptop que será lançado em abril. Se a transição dos desktops e laptops para tablets e celulares ainda está em andamento, a mudança que nos leva até os óculos do Google deve durar ainda um bom tempo.
E não pense que isso é exclusividade do Google. Na semana passada, segundo o site Mashable, a Apple teria registrado a patente de um relógio de pulso que pode funcionar como um iPhone - já o chamam de iWatch.
O futuro sem computador está em andamento, graças à era da internet móvel e dos smartphones. O Google nos convida para um futuro em que nem precisamos utilizar as mãos para interagir com novos aparelhos. E, como já escrevi em outra coluna, não custa lembrar que o projeto original do Google Glass era uma lente de contato. O que quer dizer que o futuro desses aparelhos também pode ser o início da era em que homem e máquina começam a se fundir de fato.
COMANDOS
'Glass' responde a instruções de voz
ALEXANDRE MATIAS É DIRETOR DE REDAÇÃO DA REVISTA GALILEU - GALILEU.GLOBO.COM
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