Atitude branda do presidente dos EUA em relação a Damasco seria manobra estratégica para se aproximar de Teerã
Hoje, sem Ahmadinejad, o Irã volta à arena política internacional com uma
nova face de sua diplomacia pública, mais amena, mas falsamente conciliadora
MÁRIO CHIMANOVITCH - FSP
Observadores diplomáticos estão convencidos de que a atitude branda de Barack Obama em relação à Síria, desprezando a ação militar em favor de um arranjo técnico para imobilizar o arsenal químico de Bashar al-Assad, tanto quanto pode ser considerado uma vitória de Moscou (aliado inconteste de Damasco), não deixa de configurar uma astuta manobra diplomática de Washington, com o objetivo de reaproximação com o governo do Irã.
O Irã é o grande aliado regional do regime sírio, fornecendo-lhe sustentação militar através do envio de armamentos e sustentação material e logística do Hizbullah, cujas milícias xiitas combatem os opositores de Assad.
Aos olhos dos analistas israelenses, trata-se de uma manobra temerária, uma vez que Jerusalém considera como inconfiáveis quaisquer garantias ou promessas de um governo como o de Teerã, que continua a negar o Holocausto e preconiza um Oriente Médio sem Israel.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, já advertiu Obama de que o Irã tem urânio enriquecido em quantidade para produzir um artefato nuclear.
O líder israelense, portanto, deixa implícita a existência de uma linha vermelha, ou ponto-limite, que Israel não tolerará, implique no que implicar, que é uma ameaça real a sua existência.
Jerusalém, por outro lado, conta com a simpatia silenciosa da poderosa Arábia Saudita e dos emires do Golfo, uma vez que um Irã nuclear se torna uma ameaça muito mais assustadora e real do que aquela que encontrava no Iraque de Saddam Hussein uma barreira de dissuasão natural.
É prematuro prever como reagirão os sauditas diante da reaproximação entre Washington e Teerã. Já estarão considerando com desconfiança esse ensaio de Obama, e estarão, como os israelenses, acreditando que os iranianos são inconfiáveis e ambiciosos ao extremo.
Quanto a Israel, que já perdeu larga porção de sua importância estratégica para os EUA ao final da Guerra Fria, precisa encontrar meios mais efetivos e menos barulhentos de provar sua tese e manter-se cada vez mais cauteloso, vigilante e militarmente forte face às ambições nucleares do Irã, sob pena de ficar isolado em sua posição.
É certo que Israel terá mobilizado a atenção mundial para a ameaça iminente do programa nuclear iraniano.
Hoje, todavia, com o afastamento de Mahmoud Ahmadinejad, o Irã volta à arena política internacional com uma nova face de sua diplomacia pública, mais amena, mas falsamente conciliadora, segundo especialistas israelenses.
Com Ahmadinejad no poder --asseveram os observadores israelenses--, tudo era muito claro.
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