domingo, 27 de outubro de 2013

Alstom deu propina para receber da Eletronorte
Depoimento de ex-diretor da múlti foi revelado pela revista 'Veja'
Investigação da Polícia Federal encontrou lista com suposto valor de comissões e o nome de irmão de Palocci
FSP
Um ex-diretor da Alstom contou em depoimento à Polícia Federal que a multinacional francesa pagou propina a um ex-assessor do senador Valdir Raupp (PMDB-RO), presidente nacional do PMDB, para receber uma dívida de R$ 42 milhões da Eletronorte, segundo reportagem publicada pela revista "Veja" desta semana.
O engenheiro Osvaldo Panzarini, funcionário da Alstom que chegou a ser preso pela PF em 2006, contou que a empresa pagou 3% sobre os R$ 42 milhões para receber o atrasado da Eletronorte.
O percentual de 3% corresponde a R$ 1,26 milhão.
O caso de suposto pagamento de propina pela Alstom a funcionários de uma empresa ligada ao governo do então presidente Lula (PT) foi revelado pela Folha, em maio de 2008.
A multinacional francesa atua em duas áreas no Brasil: transporte e energia. A divisão de transporte está sob investigação depois que a Siemens acusou a multinacional de integrar um grupo de empresas que combinavam o resultado de licitações do Metrô e da CPTM em São Paulo.
ACERTOS
O texto da "Veja" cita uma conversa telefônica e um depoimento em que o engenheiro da Alstom menciona a negociação que teve que fazer para baixar o percentual da propina de 5% para 3%.
"O pessoal está recebendo uma série de regras aqui, de acertos. E os caras tão fixando em 3% [a comissão], chegando ao limite de 5%, mas esse 5% já é com... se tiver que pagar impostos", disse Panzarini numa conversa telefônica interceptada pela PF.
Segundo o funcionário, a comissão inicial pedida pelos lobistas era de 10%, "a título de auxílio para recebimento de valores". A Alstom, porém, considerou o percentual alto demais.
O suborno, de acordo com ele, era para que funcionários públicos liberassem o pagamento. Esses servidores teriam ligação com diretores da Eletronorte indicados por Raupp, segundo a apuração da polícia na época.
A PF fez uma operação de busca e apreensão no gabinete do senador à época. Planilhas com nomes e valores que sugerem a divisão da propina foram apreendidas com José Roberto Parquier, assessor do senador.
Raupp demitiu o assessor logo depois da operação.
A planilha cita os nomes de Raupp e Beto, o apelido do assessor, ao lado do valor R$ 498.333,33 à frente do nome de cada um deles.
Também é citado o nome "Ademar" ao lado desse mesmo valor. A PF diz que se trata de Ademar Palocci, irmão do ex-ministro Antonio Palocci e diretor de planejamento e engenharia da Eletronorte. Ele continua no cargo.
O papel apreendido pela polícia com as anotações manuscritas traz o valor total de R$ 3,1 milhões, que teriam sido distribuídos para um grupo de dez pessoas.
A Alstom cobrava da Eletronorte o pagamento de duas turbinas que fornecera para a usina de Tucuruí e apresentaram problemas.
A investigação da PF não teve qualquer resultado. O delegado que conduziu a apuração, o atual deputado federal Fernando Francischini, líder do partido Solidariedade na Câmera, diz que vai usar o material para pedir a instauração de uma CPI.
O senador Raupp disse à "Veja" que o seu nome foi usado por estelionatários e que não tem relação com as comissões. Ademar Palocci não quis se pronunciar.
A Alstom afirma que não permite a realização de transferências ilegais de recursos.

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